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G. Ciências Humanas - 8. Psicologia - 7. Psicologia do Ensino e da Aprendizagem | ||
EFEITO DA ORDEM DA PERGUNTA SOBRE O DESEMPENHO DE PRÉ-ESCOLARES EM TAREFAS DE CONSERVAÇÃO DE QUANTIDADES | ||
João dos Santos Carmo 1 (pjsc@iris.ufscar.br), Hilário Póvoas de Lima 1, Raquel Leite Castro de Lima 1, Márcio Bruno Barra Valente 1 e Luísa Escher Furtado 1 | ||
(1. Centro de Ciências Biológicas e da Saúde, Universidade da Amazônia - UNAMA) | ||
INTRODUÇÃO:
A noção de conservação de quantidades discretas pode ser entendida como a habilidade de conservar o julgamento sobre a quantidade de itens de uma coleção independente de qualquer alteração no arranjo ou distribuição dos elementos da coleção, desde que não haja acréscimo ou retirada de itens. Nas tarefas de conservação sujeitos pré-escolares são solicitados a julgar se uma coleção de objetos mantém ou alterou-se em quantidade a partir da manipulação da distribuição espacial de seus itens. Os resultados de estudos apontam para três tipos de desempenhos: crianças cujas respostas encontram-se sob controle de dimensões irrelevantes, como cor, tamanho dos elementos, extensão da coleção, são chamadas de não-conservadoras. Crianças cujos julgamentos corretos ou incorretos variam de acordo com a tarefa são chamadas de intermediárias. E crianças que respondem sob controle da quantidade de elementos, chamadas de conservadoras. Novos estudos verificaram a possibilidade de variáveis de procedimento poderem interferir nas respostas das crianças não-conservadoras, como, por exemplo, o tipo de elemento, a quantidade de perguntas feitas pelo experimentador, a estrutura e ordem da pergunta feita. Possivelmente algumas destas variáveis poderiam mascarar o resultado das crianças não-conservadoras O presente estudo objetivou verificar se a ordem das palavras na pergunta feita a crianças não-conservadoras poderia interferir no desempenho durante tarefas de conservação de quantidades discretas. |
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METODOLOGIA:
Participaram do presente estudo 12 crianças com idade entre 04 e 05 anos de idade, alunas de uma escola de Educação Infantil pertencente à rede particular de ensino. Os dados foram coletados em sessões individuais, na própria escola. Cada criança foi submetida a uma tarefa clássica de conservação de quantidade discreta que consistia nos seguintes passos: inicialmente o experimentador apresentava à criança duas fileiras contendo fichas de papelão. Cada fileira compunha-se de cinco fichas, a primeira fila com fichas vermelhas; a segunda fila com fichas azuis. As fileiras eram colocadas de tal forma que seus elementos ficavam em correspondência biunívoca, e, portanto, as fileiras apresentavam a mesma extensão espacial. O experimentador solicitava à criança que dissesse qual das filas era maior ou se eram iguais em quantidade. Após a resposta, o experimentador espaçava a fileira mais próxima à criança e voltava a fazer a mesma pergunta; após isso, o experimentador condensava os elementos da mesma fileira e tornava a fazer a mesma pergunta. Os participantes foram divididos em dois grupos: no grupo 01, com 06 crianças, a pergunta feita foi: “você acha que tem mais, menos ou o mesmo tanto de fichas?”; no grupo 02, com 06 crianças, a pergunta foi “você acha que tem o mesmo tanto de fichas ou mais fichas?”. |
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RESULTADOS:
Os dados obtidos indicam que em relação às crianças que apresentaram julgamento correto, não houve diferença significativa nos desempenhos dos sujeitos do grupo 01 e do grupo 02. No grupo 01, cuja pergunta foi “você acha que tem mais, menos ou o mesmo tanto de fichas?”, apenas uma criança indicou que as fileiras permaneciam iguais em quantidade independente das manipulações feitas pelo experimentador. No grupo 02, cuja pergunta foi “você acha que tem o mesmo tanto de fichas ou mais fichas?”, duas crianças indicaram que a quantidade não foi alterada. Quanto aos demais participantes, no grupo 01 quatro crianças responderam que, na primeira exposição, a quantidade de itens era a mesma nas duas fileiras; na segunda exposição a fileira mais próxima, cujos itens foram afastados, apresentava maior quantidade; e na terceira exposição, cuja fileira mais próxima teve os itens condensados, responderam que esta seria menor. No grupo 02, não houve um padrão único de respostas. |
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CONCLUSÕES:
É provável que o tipo de pergunta feita e a ordem das palavras contidas na pergunta exerça um efeito significativo sobre o desempenho das crianças em tarefas de conservação de quantidades discretas. O repertório verbal da criança passou a ser uma variável importante para o entendimento da pergunta e, portanto, para o desempenho adequado na tarefa proposta. Por outro lado, os dados sugerem que a estrutura e ordem das palavras no encadeamento da pergunta feita pode ser uma variável determinante afetando a resposta da criança. Novos estudos precisam ser realizados, envolvendo uma ampliação da amostra e uma comparação entre crianças que freqüentam estudos pré-escolares e crianças que não tiveram acesso a esse nível de escolarização. De qualquer forma, os dados aqui apresentados apontam para uma questão crucial: variáveis de procedimento precisam ser investigadas a fim de se obter maior controle na leitura e interpretação das respostas das crianças. Finalmente, o presente estudo corrobora os dados presentes na literatura sobre a possibilidade de ensino direto da habilidade de conservação de quantidade, partindo-se da perspectiva de que a presença de tal habilidade não é uma mera questão de desenvolvimento e sim de enriquecimento do repertório a partir de ensino explícito. |
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Palavras-chave: conservação de quantidades; efeito da pergunta; pré-escolares. | ||
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005 |