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G. Ciências Humanas - 9. Sociologia - 6. Sociologia Urbana | ||
DRAGÃO DO MAR: ESPAÇO DE CONSUMO E AS NOVAS REDES DE CONECTIVIDADE SOCIAL NA VIDA URBANA | ||
João Paulo Braga Cavalcante 1 (jpaulobc@hotmail.com), Geovani Jacó de Freitas 1, Marco Aurélio Andrade Alves 1 e Thiago da Silva Sampaio 1 | ||
(1. Depto. de Ciências Sociais, Universidade Estadual do Ceará - UECE) | ||
INTRODUÇÃO:
A sofisticação de produtos e serviços, com a intensificação de imagens e mensagens (por exemplo, publicidade, moda) e a produção cada vez mais freqüente de espaços de consumo (shoppings, centros culturais, centros urbanos reqüalificados etc.) são alguns dos aspectos dinâmicos da experiência social nas grandes cidades do Brasil e do mundo. Em outras palavras, estes fenômenos do consumo, principalmente no início da década de 1990, tem sido algo surpreendente na vida urbana, sobretudo no âmbito do comportamento e da cultura. O fato é que toda essa dinâmica de produção e consumo tem uma significativa influência sobre nossas idéias, atitudes e valores, sendo também modificada pelos nossos padrões culturais de comportamento no processo de interação social com os diversos bens. Diante disso, tendo em vista a importância dos ambientes de interação para o consumo, o mercado e a vida social, esta pesquisa ocorreu no Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura na praia de Iracema, em Fortaleza, Ceará. Os objetivos deste trabalho podem ser assim colocados: compreender quais as características básicas desses novos espaços de consumo e sociabilidade que são apresentados como modelo urbanístico de desenvolvimento; que tipo de relação as pessoas mantêm com esses espaços e com outras pessoas de grupos distintos; quais os grupos mais influentes que utilizam o centro cultural em questão e como este se relaciona com o seu entorno. |
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METODOLOGIA:
O Dragão do Mar é tanto parte do objeto de análise como estratégia de investigação, tendo em vista que são nesses lugares, devido sua complexidade, com vários tipos de usuários e com diversos fins de consumo e entretenimento, onde podemos observar melhor e com mais clareza os padrões de comportamento, as preferências estéticas, as diferentes subculturas atuais e como se distinguem entre si. Por este motivo, o método observacional foi exaustivamente empregado, para que fôssemos capazes de perceber com nitidez a dinâmica própria do local e seus detalhes importantes. A partir do conceito de estilo de vida, desenvolvido desde Max Weber, passando por Bourdieu e Giddens, adotamos uma perspectiva de análise que não perdesse de vista o comportamento humano nos seus aspectos mais práticos, observáveis. Muitos grupos de usuários possuem estilos próprios que variam de acordo com suas preferências de consumo no Dragão do Mar. A imagem, então, como a fotografia, nos serviu como técnica de pesquisa e documentação crucial para apreendermos este aspecto. Também utilizamos bastante os documentos jornalísticos, tendo em vista que muitas opiniões, sentimentos, conceitos e preconceitos sobre o Dragão e o consumo na praia de Iracema foram e continuam sendo registrados neste meio de comunicação. As entrevistas individuais com especialistas e críticos, bem como com profissionais envolvidos no projeto Dragão do Mar nos ajudou a evitar julgamentos sem embasamento técnico. |
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RESULTADOS:
O Dragão pode ser caracterizado como um espaço múltiplo, não só pelo conjunto de bens culturais que fornece, mas sobretudo quando observamos o padrão de sociabilidade lá existente. O contraste estético entre diferentes grupos de usuários é comum; idosos, punks e gays, por exemplo, habitam o lugar, cada um no seu submundo, sem o constrangimento que isso geraria em épocas precedentes, pois os espaços públicos eram eficazmente moralizados e vigiados. As pessoas têm relação apenas com parte do centro cultural, dentro do contexto de seus interesses, e outra grande parte só freqüenta o entorno de bares e boates, o centro aparece apenas como uma espécie de paisagem. Podem existir grupos específicos que se formam a partir do gosto pelo teatro, e outro distinto que se forma a partir do gosto pela dança contemporânea. Há freqüentadores que reproduzem hábitos sociais típicos de bairros populares, desconectados da cultura do consumo dos usuários mais abastados. Outros são grupos visitantes, que utilizam o aparelho mais como serviço público, no caso de estudantes de escola da rede pública. O Dragão, como modelo urbanístico, revitalizou toda uma área antes degradada, trazendo um ambiente de consumo cultural e de entretenimento. Mas observamos que ele por si só não reverte muito as características de exclusão social próprias de nossa sociedade; por exemplo, os eventos culturais são bastante seletivos, sendo utilizados por certos estudantes universitários, turistas e professores acadêmicos. |
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CONCLUSÕES:
De um modo geral, constatamos que espaços de consumo como o centro cultural Dragão do Mar são muito semelhantes aos centros comerciais, sendo exemplos de expressões de comportamentos sociais específicos de nossa geração, mais consumistas e hedonistas em relação a épocas precedentes. De fato, podemos dizer que a multiplicidade de usos e escolhas torna o centro cultural tão prático como um shopping. Teatro, música, poesia, cinema, artesanato, dança, etc., tudo está disposto num só lugar como um varejo cultural. A moral pública destes lugares é muito individualista, voltada para as necessidades particulares de quem os freqüenta, e menos para uma ordem pública, a qual o indivíduo deve observar. Isso pode ser constatado pela presença de estilos individuais tão contrastantes entre si, típicos de grandes metrópoles, num mesmo ambiente revitalizado. Isso é um aspecto importante do que chamamos de espaço semi-público, que hoje predominam em nossa vida social. Nossos resultados apontam ainda para uma relação particular que o espaço de consumo em questão estabelece com a praia de Iracema. Enquanto o bairro foi construído pela história de famílias influentes e pela tradição artística, o centro cultural foi projetado, seguindo anseios de consumo mais recentes e padrões internacionais de requalificação urbana e de demanda turística. Muitas vezes, áreas de importância histórica do bairro estão se degradando, enquanto o Dragão mantém um ritmo alheio a este processo. |
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Palavras-chave: espaços de consumo; estilo de vida; sociabilidade. | ||
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005 |