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D. Ciências da Saúde - 5. Farmácia - 4. Farmacotecnia
DISSOLUÇÃO DO BENZOILMETRONIDAZOL A PARTIR DE ÓVULOS DE QUITOSANA
Willem Messias de Andrade 1 (willemmessias@click21.com.br), Edivänia Lopes 2, Danyelee Raquell Gadelha Cavalcanti das Neves 3 e Fernanda Nervo Raffin 4
(1. Depto. de Farmácia, Universidade Federal Do Rio Grande Do Norte - UFRN; 2. Depto. de Farmácia, Universidade Federal Do Rio Grande Do Norte - UFRN; 3. Depto. de Farmácia, Universidade Federal Do Rio Grande Do Norte - UFRN; 4. Depto. de Farmácia, Universidade Federal Do Rio Grande Do Norte - UFRN)
INTRODUÇÃO:
A quitosana é um copolímero policátion natural constituído de unidades de glicosamina e N-acetilglicosamina. É comumente obtida pela desacetilação da quitina proveniente do exoesqueleto de crustáceos e insetos. É um material abundante na natureza com amplas possibilidades de exploração e utilização. Possui valiosas propriedades como um biomaterial pois é biocompatível, biodegradável e apresenta baixa toxicidade. A quitosana também apresenta propriedade mucoadesiva e atividade antimicrobiana, sendo capaz de inibir o crescimento da Candida albicans, quando administrada na via vaginal por adesão à mucosa. Devido a sua boa mucoadesividade, a quitosana tem sido empregada em sistemas de atuação local em diversas mucosas, inclusive a vaginal onde sua bioadesividade aumenta o tempo de permanência do fármaco no local de ação. A quitosana tem sido usada em diversas formulações onde tem se verificado a liberação controlada dos fármacos nela incorporados, o que causa uma diminuição na freqüência das doses. O objetivo do estudo foi comparar dissoluções em dois meios diferentes visando investigar estratégias para uma possível administração in vivo de óvulos de quitosana contendo benzoilmetronidazol para uso na vaginite causada pelo Trichomonas vaginalis.
METODOLOGIA:
Para preparação dos óvulos partiu-se de dispersões de quitosana a 3,5% m/v em uma solução de ácido acético a 1% v/v (0,17 M), contendo glicerina nas proporções de 10 ou 20% do volume total. A essa dispersão foi adicionado 500mg de benzoilmetronidazol previamente triturado e, então, foi incorporado o formaldeído, na proporção de 1,5% (1,95 x 10-2 mol) do volume total, como agente reticulante. A reticulação ocorreu através da reação entre o grupo amino da quitosana e a carboxila do formaldeído, com a formação de uma imida. A reação foi considerada completa após 24 horas da adição do formaldeído. As dissoluções foram feitas em dissolutor modelo de pás. Em cada cuba foi colocado 800mL do meio, tampão de ácido lático com lactato de amônio pH 4,5 ou solução aquosa de laurilsulfato de sódio a 0,5%, a temperatura de 37 ± 0,5 ºC e agitação de 100rpm. A cada hora era retirada uma alíquota de 1mL, e recolocada a mesma quantidade de meio de dissolução. Cada alíquota era diluída adequadamente e lida em espectrofotômetro na região do ultravioleta em 318nm para o tampão lactato e 313nm para a solução do tensoativo, usando meio de dissolução como branco.
RESULTADOS:
A dissolução no tampão lactato inicialmente não mostrou grande diferença entre os óvulos contendo 10 ou 20% de glicerina, a liberação foi apenas ligeiramente superior para os óvulos contendo menos glicerina, seguido por um aumento na dissolução daqueles contendo mais glicerina, já que com seis e doze horas houve uma liberação respectivamente de 7,1% e 14,2% para os óvulos contendo 10% de glicerina e de 6,5% e 27,6% para aqueles contendo 20% de glicerina. O intumescimento das cadeias de quitosana protonadas pelo meio ácido permite a entrada de água no sistema, sendo que a formulação com maior liberação é aquela que promove uma maior entrada de água. A maior quantidade de glicerina torna o meio mais hidrofílico, o que proporciona maior dissolução do princípio ativo. A dissolução em meio contendo tensoativo mostrou maior liberação inicial para os dois tipos de óvulos. As dissoluções a seis e doze horas são respectivamente de 13 e 19,5% para os óvulos contendo 10% de glicerina e de 13,5 e 20,1% para aqueles que contêm 20% de glicerina. Isso ocorre por um aumento na dissolução do ativo, que é altamente insolúvel, por parte do tensoativo e esse efeito chega a sobrepor o efeito do pH do meio na dissolução (a diminuição do pH favorece uma maior dissolução) sendo a solução neutra do tensoativo capaz de superar o tampão com pH 4,5. No caso de uma utilização clínica da forma farmacêutica seria necessário um estudo sobre o meio que permite maior correlação in vivo / in vitro.
CONCLUSÕES:
Os resultados mostram que, em geral, a liberação nas primeiras doze horas mostra-se lenta e gradual o suficiente para uma forma de liberação controlada. A liberação no tampão pareceu inicialmente ser resultante da ação do pH sobre os grupos amina livres da quitosana, no entanto com o passar do tempo começou a presença de maior quantidade de agente molhante permitiu uma liberação duas vezes superior para os óvulos contendo 20% de glicerina em relação aos que continham 10% de glicerina. Já na dissolução com o tensoativo o aumento da molhabilidade do sistema mostrou a possibilidade de uma manipulação na dissolução pela modificação da sua afinidade pelo meio. Em ambos os casos se pode concluir que as características da formulação e sua afinidade pelo meio de liberação influenciam o perfil de dissolução do fármaco.
Trabalho de Iniciação Científica
Palavras-chave:  óvulo de quitosana; dissolução; benzoilmetronidazol.
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005