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G. Ciências Humanas - 6. Ciência Política - 6. Ciência Política | ||
O DIÁRIO DE NATAL E O "FENÔMENO MIGUEL MOSSORÓ" | ||
ANDERSON CRISTOPHER DOS SANTOS 1 (andersoncristopher@yahoo.com.br), DANIELE MONTENEGRO DA SILVA BARROS 1, VITÓRIA RÉGIA ARRUDA MOREIRA 1 e STEPHANIE CAMPOS PAIVA MOREIRA 1 | ||
(1. Depto. Ciências Sociais, Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN) | ||
INTRODUÇÃO:
Nas diferentes teorias da democracia não há consenso sobre o que a constitui. Fruto de discussões no Grupo de Estudos Mídia e Poder (GEMP) da UFRN, a análise das matérias do Diário de Natal na cobertura das eleições 2004 sobre o chamado "fenômeno Miguel Mossoró" (candidato do PTC à prefeitura de Natal, terceiro colocado, com 18%dos votos válidos) pretende interpretar a compreensão de democracia expressa por esse jornal, um dos mais importantes da capital norte-riograndensse. Como ao longo das edições o Diário identifica o crescimento eleitoral de um antes considerado "nanico", e a rejeição à sua candidatura. O objetivo é perceber como um canal importante da mídia potiguar concebe ser "democracia", subsidiando a discussão sobre a prática política nos mais diferentes níveis, inclusive na própria maneira de se fazer ciência. |
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METODOLOGIA:
A coleta dos jornais ocorreu no período de 17/09/2004 a 03/10/2004, sendo catalogados sessenta e oito matérias que faziam referência ao candidato Miguel Mossoró. A metodologia do professor da UnB, Mauro Pereira Porto foi utilizada no que faz referência a enquadramento, centimetragem, e valência. Esse é o mesmo método de classificação utilizado pelo GEMP. Sobre os enquadramentos: 1. EPISÓDICO: Refere-se às notícias centradas em eventos que relatam “fatos” ou declarações de atores, adotando, portanto um tipo mais descritivo de jornalismo. 2. TEMÁTICO: Enfatiza as posições e propostas dos candidatos sobre os aspectos substantivos da campanha: plataformas e programas dos diferentes candidatos. 3. “CORRIDA DE CAVALOS”: Concebe a evolução da campanha como uma corrida entre os candidatos, privilegiando os resultados das pesquisas e as estratégias de campanhas dos candidatos. 4. PERSONALISTA: Refere-se às notícias que enfatizam a vida pessoal dos candidatos e outros atores, suas habilidades e qualidades e a reação dos eleitores a eles ou elas enquanto pessoas. |
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RESULTADOS:
A predominância de enquadramentos é o episódico (de 68 matérias, 57 referiam-se a esse enquadramento), com 84%, seguidos pelo "Corrida de cavalos", com 10,3%; temático e personalista: 2,94% . A média na centimetragem de cada reportagem foi de 304,02 cm2 - a terceira mais baixa entre os sete candidatos em 2004. Em relação a cada enquadramento: Episódico: 215, 61 cm2 ;Temático: 289,12 cm2; Personalista: 751,25 cm2; e Corrida de cavalos: 561,28 cm2. E apenas 79,41% das matérias têm valência "neutra" (a mais baixa dos candidatos, sendo o prefeito reeleito, Carlos Eduardo, do PSB, o mais próximo, com 86,63%). |
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CONCLUSÕES:
O Diário de Natal dá uma evidente ênfase a episódios ocorridos no processo eleitoral, em detrimento de projetos de governo, "ideologia", e fidelidade. O conhecimento de política torna-se fragmentado, transtornando o leitor-eleitor a figura de consumidor, e não de agente crítico. A "ascensão" de Miguel, ocorrida após curiosas propostas no horário eleitoral gratuito, como construir uma ponte Natal-Fernando de Noronha, e outras, o evidencia na mídia, e mais do que isso, o torna um alvo de chacotas. Mas isso não altera o foco do jornalismo do Diário, se comparado com dados sobre a cobertura da eleição presidencial de 2002. Parece ser auto isenção no processo social, o que é, no mínimo, ingênuo; a projeção da culpa para o "outro". A discussão sobre o que é democrático se limita apenas ao consumo, evidenciado pelo enquadramento episódico, levantando a tese de que esse segundo serve de respaldo para a argumentação dos fatos, como sendo um lastro significativo, dando idéia de isenção, objetividade. A interpretação para o "fenômeno..." é a mais simples possível: descontentamento com a política, e não uma demanda da própria dinâmica eleitoral e da mídia: a criação de fatos. Miguel, segundo o Diário, é a expressão da perda de credibilidade da política, embora não tenha provado ter havido um dia em que essa tenha gozado de credibilidade satisfatória. E ainda dá a entender que são dois mundos distintos, nos quais tanto a mídia quanto o cidadão-vítima nada podem, senão observar. |
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Trabalho de Iniciação Científica | ||
Palavras-chave: DEMOCRACIA; ELEIÇÕES 2004; MÍDIA IMPRESSA. | ||
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005 |