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G. Ciências Humanas - 7. Educação - 4. Educação Básica
LITERATURA DE CORDEL
Flávia Santana da Silva Barros 1 (flaviassb@recife.pe.gov.br, flaviassb@hotmail.com)
(1. Secretaria de Educação)
INTRODUÇÃO:
Este trabalho foi realizado em maio/junho de 2003, no curso de Especialização em Telemática na Educação, promovido pela UFRPE, MEC/PROINFO - Recife/Pernambuco. O projeto foi desenvolvido na Escola Monsenhor Francisco Salles, na 3ª série do Ensino Fundamental, com 15 alunos de faixa etária entre 8 e 12 anos, que usaram como recurso um computador. Os alunos possuíam deficiência na leitura, escrita e estavam desmotivados com os tipos de textos trabalhados em aula. Essa situação despertou o desejo de motivá-los a uma leitura diferente. O Cordel reúne informação, humor e rima com os “causos” contados em: “O homem que casou com a Jumenta”, de Olegário Fernandes, e “A História de Jesus o Ferreiro e a Macaca” de José da Costa Leite, o que levou a turma ficar encantada. O projeto teve a intenção de resgatar a história e a importância da Literatura de Cordel, reconhecendo os principais aspectos que compõem esses “livretos”, desenvolvendo o prazer da leitura e valorização da nossa cultura.
METODOLOGIA:
A turma transformou os cordéis citados acima em diferentes gêneros textuais: narrativas, quadrinhos e peça teatral. Os alunos leram os cordéis: “A Chegada de Lampião no Céu” de Guaipuam Vieira e “A Chegada de Lampião no Inferno” de José Pacheco e assistiram ao filme: “O Auto da Compadecida” de Ariano Suassuna com o objetivo de serem observados os costumes dos cangaceiros e situações semelhantes às apresentadas nas leituras. Os alunos visualizaram o espaço social e geográfico em que alguns cordéis foram criados, analisaram personagens, costumes do povo e expressões nordestinas. Compararam o vocabulário utilizado nos livretos com o do filme e fizeram levantamento dos temas abordados no acervo disponibilizado na sala. Durante as leituras, foram exploradas a estrutura do texto, a linguagem empregada e a gramática. Os alunos produziram o cordel “Turma do Barulho”, digitaram no Word e imprimiram. Finalizando, produziram xilogravuras, entre as quais uma foi escolhida, em concurso, para representar o cordel da sala. As demais foram expostas com as narrativas feitas a partir dos textos lidos. Um concurso de declamação foi realizado para as equipes observarem: as rimas, a entonação e a interpretação. A culminância se deu com a simulação tradicional das feiras nordestinas pendurando os cordéis lidos e produzidos em cordões. Os quadrinhos, a peça teatral ”O Homem que Casou com a Jumenta” e demais produções foram apresentadas para as turmas do Fundamental I.
RESULTADOS:
A partir dessa experiência ficou constatada a motivação da turma em ler cordéis. Eles se interessaram em conhecer o acervo da sala, demonstraram prazer na busca dessa literatura e começaram a questionar onde comprá-los, já que esses “livretos” possuíam preços acessíveis. A indicação do Mercado de São José, um espaço cultural pitoresco, criado no séc. XIX, pouco ou não explorado pela turma, direcionou nosso trabalho para a construção de outro projeto vivenciado nos meses seguintes e apresentado em novembro de 2003 na Feira de Conhecimentos da Escola. Houve muito interesse, trabalho cooperativo, todos deram o melhor de si para os ensaios e organização das atividades. Tive a surpresa de ouvir dos alunos comentários como: - “Lá no mercado onde o meu pai trabalha vende cordéis!”. – “Professora, copiei aquele cordel para mim!” “Professora, o amigo do meu pai vende cordéis na CEAGEP, ele me deixa ler de graça!”.Observei na turma a preocupação com a ortografia dos seus “livretos”, o capricho nas xilogravuras, a sensibilidade na interpretação da peça e o estímulo ao digitar suas produções no computador. Essa oportunidade do uso do computador, apesar de termos apenas um equipamento, foi fundamental para mostrá-los a importância da tecnologia no desenvolvimento desse trabalho. Vale ressaltar que a maioria das crianças não tem acesso a esse recurso fora do espaço escolar. E principalmente, houve entrosamento da turma, o que gerou um melhor relacionamento interpessoal.
CONCLUSÕES:
Uma mudança substancial se deu na turma que apresentava problemas de leitura e escrita, estava faltando desenvolver no grupo o prazer de ler algo que trouxesse satisfação. Os cordéis que utilizavam “causos” eram os preferidos. As crianças ficavam curiosas no que estava por vir, concluindo que houve avanço na leitura, pois todos queriam ler dando a entonação adequada e, na escrita, com a preocupação de se fazer compreender no momento da socialização dos textos. Recebemos muitos elogios, pedidos para reapresentarmos a peça teatral, os colegas que visitaram a nossa sala tiveram curiosidade em ler as nossas histórias, enfim acharam algo diferente.
O trabalho foi articulado, utilizando computador, vídeo, abordando um tema rico e interdisciplinar: História, Português, Geografia, Arte e Informática. A experiência foi boa, envolveu os alunos que conheceram este estilo literário de fundamental importância para a cultura nordestina, fizeram descobertas significativas na sua aprendizagem e ficaram orgulhosos das suas produções. Nosso projeto foi um dos apresentados no Programa Salto para o Futuro da TV ESCOLA intitulado PEDAGOGIA DE PROJETOS E UTILIZAÇÃO DE MÍDIAS exibido no dia 18/09/03, fato que nos encheu de orgulho.
Palavras-chave:  Educação; Literatura de Cordel; Leitura e Escrita.
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005