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H. Artes, Letras e Lingüística - 4. Lingüística - 3. Psicolingüística | ||
CONSIDERAR É PESAR: UMA METÁFORA PRIMÁRIA? | ||
José Edelberto Costa Filho 1 (betofortal83@aol.com) e Paula Lenz Costa Lima 1, 2 | ||
(1. Curso de Letras - UECE; 2. Mestrado em Lingüística Aplicada - UECE) | ||
INTRODUÇÃO:
Até o início da década de 70, predomina a visão aristotélica da metáfora: uma figura de linguagem, sem valor cognitivo, importante apenas para efeitos retóricos especiais ou para a poesia. Em 1980, Lakoff & Johnson publicam o livro Metaphors We Live By, no qual demonstram a sistematicidade das metáforas na linguagem cotidiana, sugerindo que estas são geradas pelas nossas experiências com o próprio corpo e o mundo em que vivemos, i.e., uma conseqüência natural da interação entre composição corporal e experiências cognitivas no mundo; portanto, uma figura de pensamento. Essa teoria da metáfora conceitual tem sido implementada ao longo dos anos. Em 1997, Grady publica uma nova hipótese, na qual as metáforas conceituais podem ser Primárias (geradas por correlações de experiências corpóreas distintas) ou Compostas (formadas pela união de duas ou mais metáforas primárias). Neste trabalho, avaliamos até que ponto a metáfora CONSIDERAR É PESAR, gerada pela correlação entre o peso de um objeto e outras propriedades salientes (ibid), é coerente com os critérios estabelecidos para uma metáfora primária, em termos das características de seus domínios, fonte e alvo, e da busca da realização da metáfora na língua a partir dos termos licenciados pelo mapeamento metafórico. Para averiguar o caráter universal creditado à metáfora primária, o estudo é feito em português e inglês. |
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METODOLOGIA:
Inicialmente, avaliamos se os domínios PESAR e CONSIDERAR apresentam as características, respectivamente, dos domínios fonte e alvo de uma metáfora primária, conforme os parâmetros estabelecidos por Grady. Após verificar que os domínios estavam conforme o esperado, buscamos as definições de cada um deles, em dicionários monolíngües em português (Novo Dicionário Brasileiro de Melhoramentos e Novo Aurélio) e em inglês (Longman Dictionary e Oxford Advanced Learner’s), para auxiliar a identificação das cenas primárias da metáfora em questão, uma vez que estas são responsáveis pelo mapeamento metafórico, i.e., o conjunto de correspondências conceituais entre o domínio fonte e alvo, a partir do qual é possível prever os termos lingüísticos licenciados pela metáfora. Uma vez identificados os termos licenciados, buscamos o uso da metáfora nas línguas portuguesa e inglesa, em bancos de dados de linguagem real, tais como: www.sara.natcorpo.ox.ac.uk, www.villagevoice.com, www.linguateca.pt, www.capes.org.br. |
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RESULTADOS:
Os resultados obtidos mostram que a metáfora CONSIDERAR É PESAR satisfaz aos critérios estabelecidos por Grady para uma metáfora primária, tendo sido possível identificar (1) o mapeamento das cenas primárias: Considerar coisas, eventos, atitudes, pessoas, etc. é colocá-las na balança; O critério de avaliação é o peso/medida da balança; A coisa avaliada corresponde a coisa pesada; o objetivo da consideração é o objetivo de pesar; o valor da consideração é o valor do peso; e (2) os termos licenciados: pesar, sopesar, colocar na balança, medir, avaliar o peso, balancear, valor, ponderar, weigh, weigh up, weight, ponder, ponderation, ponderability. A previsibilidade dos termos licenciados nos permitiu que fossem encontrados exemplos reais nas línguas inglesa e portuguesa, tais como: Tenho que pesar várias coisas antes de decidir., Ele não pesou bem as respostas que nos deu., Todavia, o impacto do tardio julgamento sobre a greve mostra a necessidade de ponderar sobre o que é melhor para a nação., It could only be left to each Group Organiser to weigh up the pros and cons of the situation., Given the weight of evidence on his side, in any rational, informed debate Wheldon would probably have little to fear., It is worth spending a little time to ponder the significance of this. |
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CONCLUSÕES:
A análise da metáfora CONSIDERAR É PESAR corrobora a hipótese lançada por Grady (1997), no sentido em que se encaixa nos quesitos estabelecidos pelo autor para uma metáfora primária. Dessa forma, os domínios fonte e alvo estão conforme os parâmetros de conceitos primários; a partir de suas motivações, foi possível identificar as cenas primárias e, consequentemente, o mapeamento responsável pelo licenciamento lingüístico; a previsão de termos chave para a busca de expressões metafóricas, de modo geral, foi satisfeita, tendo sido possível, a partir desses termos, verificar que a metáfora se realiza sistematicamente na língua e de forma semelhante em português e em inglês. |
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Instituição de fomento: CNPq | ||
Trabalho de Iniciação Científica | ||
Palavras-chave: Lingüística Cognitiva; Metáfora Primária; Cenas Primárias. | ||
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005 |