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H. Artes, Letras e Lingüística - 4. Lingüística - 4. Sociolingüística
O USO DAS FORMAS DE TRATAMENTO NA FALA CEARENSE
Emanoela Vieira Mendes 1 (emannoela@yahoo.com.br) e Maria Elias Soares 1
(1. Depto. de Letras Vernáculas, Universidade Federal do Ceará - UFC; 2. Depto. de Letras Vernácula, Universidade Federal do Ceará - UFC)
INTRODUÇÃO:
O presente trabalho tem como objetivo analisar as principais ocorrências do uso das Formas de Tratamento, no discurso informal de cearenses, considerando as variáveis sexo, faixa etária e escolaridade.
Iniciamos nosso estudo revisando o tratamento dado pelos gramáticos tradicionais a respeito desse assunto. Segundo Bechara (1987), são chamados Pronomes de Tratamento, as formas de tratamento indireto de 2ª pessoa que levam o verbo para a 3ª pessoa. São eles: você, vocês (no tratamento familiar) ; o Senhor, a Senhora (no tratamento cerimonioso). Para outros gramáticos, como Celso Pedro Luft (1967), as formas de tratamento dividem-se em: a) tratamento direto, com os pronomes de 2ª pessoa tu e vós; b) tratamento indireto com: você, V. Sa ., V. Exª. Os gramáticos deixam de reconhecer a importância dos vocativos, que representam o tipo de tratamento e a relação que se dá entre os interlocutores, das marcas desinenciais e de outras formas de referência que na linguagem oral são usadas para indicar a pessoa a quem se fala. Com base nesses e em outros autores, analisamos amostras de fala, tiradas de entrevistas do corpus do projeto O Português Não Padrão do Ceará, coordenado pela Professora Dra. Maria Elias Soares
METODOLOGIA:
Para a análise, selecionamos, do corpus do projeto supracitado, dezoito entrevistas, sendo seis de cada faixa etária: Faixa I (informantes com idade de 15 a 25 anos); Faixa II (informantes de 26 a 49 anos); Faixa III (informantes acima de 50 anos) e de três níveis de escolaridade distintos: 0 a 4 anos; 5 a 8 anos e acima de 9 anos de escolarização. Tais entrevistas seguem o método de Labov (1970), em que os informantes, apesar de suas falas estarem sendo gravadas, desconhecem a finalidade deste registro, o que torna seu discurso livre de uma maior elaboração, ficando assim uma conversação espontânea.
Trata-se de entrevistas conhecidas como DID (diálogo entre informante e documentador), no primeiro momento, apresentam relatos de caráter impessoal sobre alguma atividade, resultando em diálogos dirigidos pelo documentador. No segundo momento, trazem narrativas de caráter intimista em que se relata alguma experiência vivida pelo informante.
A partir da seleção dos informantes, analisamos o uso das formas de tratamento de 2ª e 3ª pessoa, tratamentos usados em posição de objeto direto e indireto, a utilização dos vocativos e as marcas e ausências de desinências verbais, fazendo o confronto com o que dizem os manuais de gramática e o que é comprovado no uso informal da língua.
RESULTADOS:
Constatamos que algumas características observadas na utilização das formas de tratamento pelos informantes cearenses vão de encontro ao que postulam os gramáticos anteriormente citados.
Em nossa amostra, evidencia-se o uso excessivo do pronome de tratamento indireto “você” por informantes da Faixa I. Nesse caso, não foi relevante o nível de escolaridade, pois, apesar de terem níveis distintos, analfabetos, escolarizados e níveis superiores, utilizavam o mesmo tratamento, praticamente nas mesmas proporções. Nas análises dos informantes de Faixa II, percebemos a coocorrência do pronome de tratamento indireto “você” e do tratamento cerimonioso “Senhor/ Senhora”. Evidencia-se, também, a marca das desinências verbais utilizadas pelos informantes, sobretudo de 3ª pessoa.
Já analisando os informantes da Faixa III, observa-se na totalidade das entrevistas o uso do tratamento cerimonioso “Senhor/ Senhora”, indicando respeito devido à idade e a utilização freqüente de vocativos que exprimem idéia de carinho, afeto, como: Meu filho, Minha filha, Mulher, Mulherzinha. O uso da forma de tratamento pronominal “tu”, nas diferentes faixas etárias e nos três níveis de escolarização, foi irrelevante.
CONCLUSÕES:
Nas entrevistas analisadas, de aspecto assimétrico e informal, os informantes adequaram à situação e ao relacionamento comunicativo uma e outra das formas de tratamento - pronominais, desinenciais e nominais - sem ocorrer prejuízos na dinâmica do diálogo.
Podemos, então, concluir que: apesar do tratamento “você” ser considerado uma forma indireta, seu uso prevaleceu; a ocorrência excessiva do uso não só das formas pronominais, mas também, das formas nominais, como os vocativos; constatou-se que o fator escolaridade não foi determinante na mudança do tratamento, mas sim, a faixa etária, justificada pela relação de respeito e cortesia que se tem por pessoas de mais idade e o uso das desinências verbais para referir-se à pessoa a quem se fala.
Instituição de fomento: CNPq
Trabalho de Iniciação Científica
Palavras-chave:  formas de tratamento; pronomes; análise do uso.
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005