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D. Ciências da Saúde - 2. Medicina - 8. Medicina
PAPEL DOS ALCOÓLICOS ANÔNIMOS COMO INSTRUMENTO DE RECUPERAÇÃO E REINSERÇÃO DOS ALCOOLISTAS NA COMUNIDADE DO PIRAMBU
Adrilena Lopes Adriano 1 (adrilena@katatudo.com.br), Alan Arruda Aragão 1, Belise Kmentt Cavada 1, Francisco José Rodrigues de Moura Filho 1, Jefferson Menezes Viana Santos 1, Macello José Sampaio Maciel 1, Osamu de Sandes Kimura 1 e Adalberto Barreto 1
(1. Departamento de Saúde Comunitária, Faculdade de Medicina - FAMED/UFC)
INTRODUÇÃO:
O consumo de álcool é um hábito social comum a várias regiões do mundo, que vem se intensificando nas regiões em desenvolvimento, e o abuso dessa substância mostra-se um dos mais sérios problemas de saúde pública, outorgando um exorbitante custo econômico à sociedade. A Associação de Alcoólicos Anônimos foi fundada em 1935, nos Estados Unidos, tendo início no Brasil em 1950 (sendo trazida por norte-americanos) e, no Ceará, por volta de 1970. É uma irmandade mundial de pessoas que tentam manter a sobriedade, constituindo um grupo de ajuda mútua através da troca de experiências, a fim de se recuperarem do alcoolismo crônico, uma doença reconhecida pela OMS desde 1967. Tendo em vista a importância deste tema, este trabalho foi desenvolvido, objetivando-se estudar os efeitos da terapia de grupo utilizada pelo AA (Alcoólicos Anônimos) na recuperação de alcoolistas e conhecer como funciona o suporte comunitário, bem como, entender os motivos que levaram os alcoolistas a procurarem a ajuda dos Alcoólicos Anônimos, permitindo aos profissionais de saúde o contato com essa problemática e com o programa supracitado, a fim de facilitar o manejo dos pacientes que enfrentam essa realidade.
METODOLOGIA:
Este trabalho desenvolve uma linha de pesquisa bibliográfica, norteada pelo estudo de artigos científicos relacionados ao alcoolismo e ao AA, e outra de campo, desenvolvida a partir de participações em reuniões do AA onde se conheceram suas atividades, permitindo a documentação de observações úteis ao desenvolvimento do trabalho. A ênfase da pesquisa em questão é o modelo comunitário, que privilegia as relações interpessoais e que mobiliza os recursos comunitários em torno da resolução de um problema comum ao conjunto. Com a ajuda de uma líder de um grupo de AA do bairro do Pirambu em Fortaleza, tomaram-se como participantes dessa pesquisa, vinte e quatro freqüentadores, entre homens e mulheres, selecionados ao acaso à medida que compareciam às reuniões. Mediante o consentimento prévio do sujeito para a utilização de um gravador durante a entrevista realizada em ambiente reservado, os entrevistados foram submetidos a um questionário pré-estruturado, composto de quatro itens que contemplam: a identificação do perfil sócio-econômico-cultural da amostra, ressaltando o anonimato dos entrevistados; a obtenção de informações sobre a vida anterior ao AA; as motivações pessoais que conduziram o entrevistado ao alcoolismo e à procura do AA; e o relato individual sobre a vida atual dos entrevistados como membros pertencentes a um grupo de Alcoólicos Anônimos. Os resultados foram processados, analisados e discutidos, mantendo coerência com os objetivos pré-estabelecidos.
RESULTADOS:
Os resultados foram divididos em quatro blocos, cada um deles com suas respectivas categorias. A identificação revelou uma maioria de homens entre a quinta e sexta década de vida, católicos, desempregados ou trabalhadores sem qualificação, com baixo nível de instrução e renda familiar. A vida antes do AA revelou as influências pessoais no início do hábito alcoolista - familiares, rodas de amigos e pessoas distantes do contato íntimo - e a ocasião e o ambiente do primeiro gole, que se referiram a eventos sociais, como festas, e não-sociais, como na escola ou ao acaso. O segundo bloco foi a motivação, seja para o início do hábito alcoolista - busca de prazer e distração, garantia de força para superar ou esquecer adversidades, influência do meio e consciência de que o alcoolismo é doença - bem como para a procura da ajuda dos Alcoólicos Anônimos - decepções e sentimento de derrota, violência em casa ou contra si, exclusão do meio familiar e social, influência familiar e preocupação com o exemplo dado aos filhos. O terceiro bloco foi a vida no AA, no que toca à mudança de vida com o AA, por meio do reconhecimento e reinserção social, da retomada do senso de responsabilidade, da volta da harmonia familiar e da melhora do bem-estar físico e mental e da auto-estima. Ainda neste bloco, incluem-se a propagação da teia do AA e o sentimento numa reunião do AA, em que os entrevistados revelam interesse em ajudar outros em situação semelhante, identidade, felicidade e bem-estar espiritual.
CONCLUSÕES:
Percebeu-se por meio da pesquisa realizada que, para os entrevistados, a irmandade dos Alcoólicos Anônimos surgiu como um sustentáculo em momentos de exaustão dos efeitos nocivos físicos, pessoais, familiares e sociais ocasionados pelo alcoolismo. Foi afirmada a importância desse grupo de ajuda mútua, como restituidor da identidade e da dignidade de pessoas, cujas vidas estavam entregues ao álcool, e que agora tentam manter-se abstêmias, graças ao apoio que os membros compartilham entre si. Ademais, esses indivíduos passam a ter resgatada sua dimensão humana e explorada sua potencialidade a serviço da comunidade, uma vez que ganham o importante papel social de trazer ao conhecimento de outrem o programa dos AA e, por meio de seu testemunho, ajudar na recuperação de indivíduos em situação semelhante. A reintegração à sociedade é fundamental para a recuperação psicológica do indivíduo, e os AA possibilitam isso. O presente trabalho, à medida que demonstra os efeitos nocivos do álcool descritos por alcoolistas abstêmios, deve incitar uma reflexão acerca dessa problemática, especialmente, em profissionais da saúde, a fim de que possam oferecer os subsídios necessários aos pacientes alcoolistas, do ponto de vista fisico e psicopatológico.
Palavras-chave:  alcoólicos anônimos; alcoolismo; modelo comunitário.
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005