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G. Ciências Humanas - 9. Sociologia - 2. Sociologia do Conhecimento | ||
A QUESTÃO EPISTEMOLÓGICA E A OBJETIVIDADE DO CONHECIMENTO: UM ESTUDO NA INTERDISCIPLINARIDADE | ||
Divanir Eulália Naréssi Munhoz 1 (denmunhoz@uol.com.br) | ||
(1. Universidade Estadual de Ponta Grossa -Mestrado Interd. C. Sociais Aplicadas e Depto. Serviço Social) | ||
INTRODUÇÃO:
O presente estudo foi motivado por questões relativas a: se a objetividade é garantida pela isenção de valores que o estudioso possa ter ao estudar os fatos; se a objetividade dos resultados de nossas análises, dos diagnósticos que fazemos com relação à realidade dos problemas que se nos apresentam, está na neutralidade que devemos garantir ao olhar a realidade; se o cientista é capaz de postar-se com neutralidade frente ao mundo em que vive. Seu objetivo geral foi conhecer as concepções de objetividade existentes entre acadêmicos de graduação e pós-graduação, de diferentes cursos, e discutir essas concepções para entender a lógica que as fundamenta. A interdisciplinaridade, nesse estudo, é fator de comparação das distintas concepções e ao mesmo tempo oferece a possibilidade de discussão das contradições, concorrendo, assim, tanto para reforço de visões semelhantes, como para reformulações e complementações através do confronto com o diferente. A relevância do estudo está na importância de o pesquisador preparar-se para auscultar os textos que analisa, em termos da lógica do pensar a eles subjacente, transcendendo a simples apreensão acrítica do conteúdo da bibliografia consultada para embasar suas pesquisas e ações profissionais as mais diversas. Nesse sentido, capacita o estudioso para testar o fundamento teórico-metodológico dos textos em que ancora suas pesquisas, bem como para ter clareza do que alicerça toda e qualquer relação com o saber, como cientista e como cidadão. |
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METODOLOGIA:
Estudo de natureza qualitativa, que se desenvolveu com acadêmicos de graduação e pós-graduação (especialização e mestrado em ciências sociais aplicadas e em saúde pública), representantes e/ou procedentes de distintas graduações (serviço social, pedagogia, direito, administração, contabilidade, economia, geografia, história, educação física, comunicação social, farmácia, medicina, odontologia, enfermagem), na Universidade Estadual de Ponta Grossa. Duas foram as formas de abordagem da questão: num primeiro momento, o uso do recurso pedagógico da problematização para analisarem objetos os mais diversos passíveis de estarem presentes no seu universo de estudiosos e/ou de cidadãos do mundo; num segundo momento, o desafio foi analisarem textos por eles escolhidos pela afinidade temática com suas propostas de trabalhos finais de curso de graduação, monografias de especialização e dissertações de mestrado. Os alunos deveriam identificar, na metodologia de construção do texto pelo autor, basicamente os seguintes aspectos: a)- relação com a experiência; b)- relação da ciência com outros saberes; c)- relação sujeito-objeto; d)- entendimento de objetividade (como neutralidade, como controle da subjetividade, pela intersubjetividade); e)- concepção de verdade; f)- consistência da proposta do autor e da crítica a posições contrárias; f)- relação com o diferente. Discussão das respostas individuais por grupos de alunos participantes do estudo e agrupamento dessas respostas em categorias. |
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RESULTADOS:
A análise comparativa do produto das duas formas de abordagem da questão trouxe, em síntese, os seguintes resultados: a)- na eleição de textos para revisão bibliográfica do tema escolhido para seu estudo, nem sempre o pesquisador leva em conta a lógica de pensamento que orienta os autores desses textos; b)- identificar a lógica de pensamento desses autores é vital para que o estudioso possa com eles “dialogar”, tanto no momento de levantar questões a serem submetidas à realidade para seu desvelamento, como para análise das respostas fornecidas por essa realidade; c)- a constatação de que a interdisciplinaridade se expressa de fato como relação entre sujeitos, portanto, pela intersubjetividade; d)- a importância da discussão na intersubjetividade, como forma de caminhar em direção ao máximo de objetividade possível; e)- a necessidade de, no processo de conhecer, compreender-se o outro como alteridade e que as diferenças, dentro de uma lógica que incorpora a contradição, contribuem para o desvelamento do real como construção conjunta; f)- o entendimento de que as múltiplas determinações de um fenômeno são apreendidas, desveladas, por aproximações sucessivas e não dispensam a contribuição interdisciplinar; g)- a constatação de que o cientista/estudioso e o cidadão em que o estudioso habita não podem ser vistos como instâncias independentes uma da outra, porque o cientista também é um cidadão influenciado por valores de sua cultura, pela situação sócio-econômica em que se situa. |
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CONCLUSÕES:
A neutralidade científica, embora ainda entendida como necessária e viável por parcela significativa de profissionais, enquanto meio indispensável para garantir a objetividade na produção do conhecimento, foi reconhecida como inviável, pela indiscutível constatação da indissociabilidade entre cientista/estudioso e cidadão do mundo. Tendo consciência de que de alguma forma pulsa/sente junto com a realidade que se propõe a investigar, envolvimento que se apresenta com maior ou menor intensidade, conforme a natureza do objeto em estudo, ele assume, em conseqüência dessa não neutralidade, a responsabilidade de fazer o máximo para controlar suas emoções, sua intimidade com esse objeto. Além disso, tendo presente também a concepção de verdade como relativa, como movimento, sua concepção de objetividade igualmente não pode ser absoluta; desvela-se naturalmente como máximo de objetividade possível para determinado momento histórico da humanidade, da sociedade e da evolução dos métodos e técnicas de pesquisa disponíveis. E a conclusão a que se chega é de que o reconhecimento de que o cientista/estudioso não pode ser neutro, ao invés de desarmá-lo quanto à possibilidade de alcance da verdade, é que concorre para esse alcance; a superação do mito da neutralidade o faz passar a ser ainda mais comprometido com a disciplina de seu comportamento no terreno da pesquisa, onde ele deverá ter sempre presente uma atitude de autocrítica e a importância do concurso de análises interdisciplinares. |
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Palavras-chave: Objetividade Científica; Interdisciplinaridade; Autocrítica. | ||
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005 |