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G. Ciências Humanas - 9. Sociologia - 5. Sociologia Rural
O Processo de ruptura do voto-de-cabresto do coronelismo: Seridó potiguar (1950)
Cícero José Alves Soares Neto 1 e Elimar Pinheiro do Nascimento 2
(1. Universidade Federal de Uberlândia; 2. Universidade de Brasília)
INTRODUÇÃO:
Esta investigação propõe-se a compreender o significado do sistema de compra e venda do voto, por intermédio do aliciamento mercantil do cabo eleitoral no sertão nordestino algodoeiro. Objetiva-se entender, historicamente, o que representou o ganho econômico em troca do apoio político da população votante nas disputas partidárias do poder local, no Seridó potiguar, após 1945. Visa-se, portanto, apreender a estratégia de dominação política do sistema de mediação coronelística. Para isto, identifica-se as fontes de articulação do vínculo social do eleitorado do campo com o coronelato rural. Enfim, o que (e o que não) é o voto cativo do coronel, determinando-se a especificidade do voto-de-cabresto do curral eleitoral do coronel. Em função disto, busca-se conhecer a lógica política da mercantilização da população eleitoral na sociedade rural nordestina algodoeira.
METODOLOGIA:
A pesquisa, ao resgatar a memória social de uma região, a do Seridó potiguar, por intermédio dos testemunhos de quem participou do processo eleitoral no sertão nordestino algodoeiro, os velhos seridoenses, privilegiou o estudo de caso como procedimento metodológico e a fonte oral como recurso metodológico privilegiado da investigação. Assim, adotou-se a amostragem não-probabilística por tipicidade no resgate da memória social regional. Coube, ainda, ao registro documental, o papel de ratificação (ou não) do registro da fonte oral. Deste modo, o confronto e a integração das fontes oral e documental propiciaram credibilidade e confiabilidade à análise histórica.
RESULTADOS:
A interpretação, desenvolvida neste trabalho, denominada de "tese da ruptura", ao inserir-se na caracterização da singularidade do sistema de mediação coronelista, apropria-se da tese que vincula à massa votante cativa à organização social e discute com a teoria da troca o fundamento do nexo de ligação social que une o eleitorado do campo ao coronelato rural. Assim, a análise paradigmática exposta neste trabalho identifica "contradição" ao invés de "unidade" na aliança entre o "coronel e o cabo eleitoral", conforme a demonstração histórica do processo de ruptura do sistema de mediação do coronel, superado pelo sistema de intermediação do cabo eleitoral.
CONCLUSÕES:
Portanto, conclui-se que a compra e venda do voto não pertencem ao sistema de recrutamento eleitoral do sistema de mediação do coronel. Não existe a barganha eleitoral no sistema de dominação do coronelato rural. O coronelismo é negado, isto sim, pelo sistema de barganha, pelo sistema de compra e venda do voto, do qual emerge um novo agente político no processo de aliciamento da massa votante: o cabo eleitoral. Desta forma, a ação de intervenção do cabo eleitoral visa retirar (daí, expulsar) do comando do coronelato rural o controle do processo de mediação eleitoral do campo. O sistema de intermediação do cabo eleitoral representa, na realidade, a negação do sistema de mediação política do coronel. Assim, ocorre uma ruptura no sistema de dominação dos currais eleitorais ao se mercadejar os votos por ganhos materiais (ou monetários), pois se rompe a relação política cativa do coronelismo ao se inserir um ganho monetário (ou material) em troca do apoio político nas eleições: o voto.
Instituição de fomento: CNPq
Palavras-chave:  Coronelismo; Cabo eleitoral; Voto-de-cabresto.
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005