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G. Ciências Humanas - 7. Educação - 18. Educação
COMO SE EDUCAM OS IDOSOS: UMA APROXIMAÇÃO CRÍTICA AO CAMPO DA EDUCAÇÃO GERONTOLÓGICA.
Yáskara Ponte de Vasconcelos 1 (yaskara.q@fortalnet.com.br), Márcia Dias de Alencar Marques 1, Ana Dilma Aderaldo Silveira de Oliveira 2, Sérgio Siebra de Morais 2, Grace Troccoli Vitorino 2 e Maria Susana Vasconcelos Jimenez 3
(1. Centro de Ciências da Saúde, Universidade de Fortaleza - UNIFOR; 2. Centro de Ciências Humanas, Universidade de Fortaleza - UNIFOR; 3. Centro de Educação, Universidade Estadual do Ceará - UECE)
INTRODUÇÃO:
A apresentação refere-se a uma investigação desenvolvida no campo da Gerontologia Educacional, com o intuito de examinar a relevância e as possibilidades da intervenção pedagógica no trabalho com idosos, a partir do reconhecimento da importância que vem assumindo a problemática da velhice na sociedade contemporânea; bem como, do pressuposto de que o trabalho com idosos tem adotado um enfoque eminentemente clínico, carecendo de uma abordagem mais abrangente, na qual a dimensão educativa articule-se às práticas mais propriamente terapêuticas. Dois desdobramentos da referida pesquisa são aqui contemplados. O primeiro buscou examinar o trabalho de natureza institucional junto ao idoso, a partir de um programa de intervenção nos moldes de um projeto de convivência grupal, tomando como foco específico de investigação, o Grupo Conviver, do Lar Torres de Melo, com vistas a aferir em que medida tal experiência articularia as dimensões clínica e pedagógica nessa prática de atendimento. O segundo estudo enfocou, sobretudo, as práticas pedagógicas adotadas no espaço das Universidades da Terceira Idade, objetivando avaliar a concepção educativo-pedagógica que norteia os cursos oferecidos pela Universidade Sem Fronteiras-UNISF. Nos dois casos, objetivou-se verificar o processo pedagógico decorrido, com ênfase nas práticas docentes, na relação educador-educando, nas atitudes e condutas dos profissionais e no conteúdo – temáticas - abordado no trabalho desenvolvido com os idosos.
METODOLOGIA:
Inicialmente, foi realizada uma revisão bibliográfica acerca da dimensão educativa da gerontologia, buscando identificar o estado da arte das teorizações no campo da educação gerontológica (também referida como gerontologia educacional), principalmente no que diz respeito aos paradigmas dominantes quanto à formação dos profissionais no campo da gerontologia e à educação permanente no contexto das chamadas Universidades da Terceira Idade. Complementando a revisão, procedeu-se a um exame documental, no sentido de conhecer o percurso histórico e a dinâmica das instituições acima referidas. No primeiro caso, observaram-se 15 encontros do Grupo Conviver, com o apoio de uma grade de observação e um diário de campo. Além da observação, foram utilizados como recursos metodológicos uma entrevista com a coordenadora da experiência e a aplicação de questionários com os estagiários pertencentes à equipe técnica do Grupo. O segundo estudo lançou mão da observação de aulas ministradas na UNISF, apoiada, igualmente, na grade de observação e no diário de campo. Paralelamente à observação, foi realizada uma entrevista com a diretora e quatro professores, e aplicado um questionário com 31 alunos participantes de diversos cursos oferecidos pela Instituição.
RESULTADOS:
A literatura aponta, essencialmente, para a discussão sobre as relações possíveis entre a educação e o envelhecimento, enfatizando a formação dos profissionais e as alternativas institucionais de educação permanente. Nos dois estudos, constatou-se que, em sua expressiva maioria, os profissionais desempenharam-se adequadamente frente aos aspectos didáticos da ação docente, não obstante a ausência de pedagogos nas instituições observadas. Na experiência enfocada no primeiro estudo, por exemplo, os técnicos, em sua totalidade, fazem uso do planejamento e respeitam os limites do grupo; 93% do total lançam mão de recursos didáticos auxiliares; e 66% abordam o conteúdo de maneira didaticamente ajustada aos idosos. No segundo caso, 96% planejam as atividades e, em igual porcentagem, tentam articular os conteúdos das aulas a situações do cotidiano; 92% tornam o conteúdo compreensível para os idosos; e 80% respeitam o tempo pedagógico das aulas, dentre outros elementos favoráveis à boa prática pedagógica. No caso da primeira experiência, o conteúdo trabalhado privilegiou a perspectiva clínico-terapêutica, tratando, por exemplo, das mazelas comuns aos idosos, da osteoporose ao alcoolismo na velhice. No segundo caso, o conteúdo afastou-se desse enfoque, para colocar em primeiro plano o paradigma da auto-ajuda, traduzido em lições sobre como ser feliz, sentir-se jovem, atravessar o medo, desenvolver a auto-estima e cultivar bons relacionamentos interpessoais.
CONCLUSÕES:
A pesquisa permite avaliar-se positivamente o desempenho dos profissionais, quanto à condução didática das atividades. Convém ressaltar a natureza até certo ponto problemática do conteúdo explorado junto aos idosos, em ambas as situações. Na primeira, as temáticas atadas unilateralmente à condição de ser velho, passam ao largo da dimensão omnilateral, a qual reafirma o homem como ser social e genérico. Com base nesse dado, recomenda-se que, em uma experiência de natureza análoga, somem-se às questões clínicas, afetas à preservação da saúde e do bem estar do idoso, temas que ultrapassem o plano da imediatez e do individualismo, para responder a interesses do ser social concreto, inserido em uma sociedade historicamente construída. Os resultados do segundo estudo conduzem a conclusões que reafirmam a recomendação acima. Exibindo o formato da auto-ajuda, as temáticas, atêm-se a uma perspectiva subjetivista marcada pela apologia do poder do pensamento e da vontade individual descolada de injunções da realidade objetiva. Conclui-se que a educação gerontológica deverá interferir, num plano ontológico, quer indicando a ampliação dos conteúdos ordinariamente propostos, quer propondo uma mudança de enfoque, no intuito de contemplar aspirações do idoso como ser genérico, suscitando, ademais, não o aprofundamento da alienação, mas a reflexão acerca dos problemas sociais que afligem a humanidade, com a qual, indivíduos de mais longa história poderiam tão bem contribuir.
Palavras-chave:  gerontologia educacional; alternativas de educação permanente; intervenção pedagógica junto ao idoso.
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005