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F. Ciências Sociais Aplicadas - 12. Serviço Social - 6. Serviço Social do Trabalho | ||
O PROGRAMA DE MICROCRÉDITO DO BANCO DO NORDESTE (CREDIAMIGO): UMA FORMA DE INCLUSÃO SOCIAL? | ||
Monique Joelma Tavares de Souza 1 (moniquetavares2005@yahoo.com.br) e Liduina Farias Ameida da Costa 2 | ||
(1. Curso de Serviço Social, Universidade Estadual do Ceará - UECE.; 2. Profa. Dra. / Orientadora - Curso de Serviço Social da UECE - Centro de Estudos Sociais Aplicados) | ||
INTRODUÇÃO:
Este trabalho é um desdobramento da pesquisa intitulada: A inclusão dos segmentos pobres na dinâmica dos processos sócio – regionais, coordenada pela Profª Drª Liduina Farias Almeida da Costa, da qual participamos como bolsista do CNPq. Delimitamos como tema a questão dos microcréditos que são colocados, na atualidade, como elementos capazes de gerar emprego e renda e promover a auto - sustentabilidade das populações de baixa renda no Nordeste, através do estímulo a atividades informais. A questão central sobre a qual desenvolvemos a pesquisa que deu origem a este trabalho diz respeito à análise do perfil dos tomadores de empréstimos do Programa de microcrédito do Banco do Nordeste (CrediAmigo), as relações que se estabelecem entre esses e os microcréditos, bem como os desdobramentos dessas relações para as condições de vida dessas pessoas. Os objetivos deste trabalho são: 1) situar o programa de microcrédito do BN (CrediAmigo) no contexto das mudanças sócio - econômicas e políticas em Fortaleza; 2) identificar o perfil sócio -econômico dos beneficiários do programa; 3) verificar se referido programa tem contribuído para a melhoria das condições de vida da população usuária do programa na cidade de Fortaleza. |
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METODOLOGIA:
Neste trabalho eminentemente qualitativo, não desconsideramos os dados de natureza quantitativa. A metodologia utilizada compreendeu: a) fase bibliográfica abordando essencialmente os seguintes autores: Antunes (2003); Martins (1997); Demo (2002); Carvalho, Almeida e Azevedo (2001); Koga (2002); Rolnik (2002); Sá e Barbosa (2002); Souza (1979); Costa (2001) e outros; b) fase empírica englobando pesquisa hemerográfica para coleta de dados relativos ao mercado de trabalho em Fortaleza; pesquisa documental em fontes oficiais sobre a temática microcrédito (2002), e também coleta de dados censitários (2000) e do PNAD, colhidos no IBGE; pesquisa de campo na qual realizamos entrevista semi - estruturada com trabalhadores informais tomadores de empréstimo do CrediAmigo durante o período de março a setembro de 2004. A escolha do CrediAmigo do Banco do Nordeste como fonte empírica, relaciona-se a grande quantidade de informações acumuladas em estudos anteriores sobre o papel do Banco do Nordeste e os programas que objetivam combater a pobreza e promover o chamado desenvolvimento sustentável da região. Em Fortaleza, elegemos a Agência Metro Montese, devido ser a pioneira na implantação do referido Programa e ter um grande número de tomadores de empréstimo cadastrados – segundo dados da gerência da agência, até dezembro de 2003, havia um total de 2.300 clientes. A amostra foi constituída de 10% do total dos tomadores de empréstimo atendidos pela referida agência. |
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RESULTADOS:
Dentre os entrevistados, 68% são do sexo feminino, 69% são casados. A estrutura familiar predominante é a nuclear, e a chefia predominantemente masculina. A faixa etária dominante entre os chefes de família situa-se entre 41 e 60 anos de idade. A maioria dos entrevistados possui o primeiro ciclo incompleto e em sua maioria não possuem vínculos em organismos de classe. Na maioria dos domicílios reside uma única família de até três pessoas. Em 93% das famílias existem até três pessoas trabalhando. A grande maioria das famílias possui ganhos superiores a três salários mínimos. A maioria dos entrevistados reside em casa própria e possui boas condições gerais de moradia. Em 74% das famílias existe pelo menos um membro em idade escolar. A televisão é o meio de comunicação mais utilizado pelos entrevistados. Muitos dos entrevistados afirmam não possuir lazer. As atividades exercidas por eles são diversas e muitos afirmaram trabalhar nestas atividades porque gostam ou se sentem bem. As condições de trabalho são vistas pelos entrevistados como boas. Apesar de alguns entrevistados criticarem o valor concedido pelo empréstimo, muitos afirmaram possuir um maior poder de compra à vista após o empréstimo. A grande maioria dos entrevistados nunca realizou outro tipo de empréstimo e muitos renovaram o atual mais de cinco vezes. A maioria afirma que renova porque necessita do dinheiro para movimentar o negócio. A Previdência Social não é prioridade desse segmento de trabalhadores. |
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CONCLUSÕES:
É evidente o crescimento do setor informal no mercado de trabalho em Fortaleza, e nesse sentido, os microcréditos têm desempenhado um papel importante para fomentar estas atividades. O aumento do desemprego e da pobreza conduz os trabalhadores aos microcréditos, cuja ideologia do capital financeiro é a idéia de empreendedorismo. Esses trabalhadores ingressam em verdadeiro ciclo vicioso de obtenção de empréstimos que, nem sempre propiciam o fortalecimento das atividades, contribuindo apenas para a manutenção de formas de trabalho precárias, somadas a obrigatoriedade do pagamento de taxas de juros. Apesar da importância dos microcréditos para os trabalhadores informais, estes não percebem (ou pelo menos parecem não perceber) a exploração e precariedade a qual estão submetidos. Esses trabalhadores “preferem” uma inclusão precária à condição de desocupados. A forma de inclusão promovida pelo Programa em questão é problemática por tratar-se de uma inclusão segundo os parâmetros do desenvolvimento puramente econômico em detrimento das demais formas de inserção política, cultural, ambiental, territorial... O acesso a processos de inclusão mais dignos, está longe de se concretizar na sociedade brasileira e, em especial, na cidade onde realizamos a pesquisa. Para que ocorram mudanças nessas formas de inclusão, faz-se necessário uma mudança profunda em toda sociedade, respeitando-se as diferenças sociais e espaciais. |
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Instituição de fomento: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq | ||
Trabalho de Iniciação Científica | ||
Palavras-chave: Cidades; Trabalho; Inclusão Social. | ||
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005 |