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A. Ciências Exatas e da Terra - 4. Química - 2. Química Ambiental
AVALIAÇÃO DAS CONCENTRAÇÕES DE METAIS PESADOS NO MANGUEZAL DE CAMOCIM, CAMOCIM/CE
Jenaete Koch Dias 1, 2 (jeanetekochdias@yahoo.com.br), Clarice Maria Neves Panitz 3, Francisco Rafael Sousa Freitas 4, Miqueline Romênia Aguiar Cavalcante 4, Cláudio Morais Nobre 4, Cleudenice Vasconcelos Araújo 4, Kátia Regina Oliveira Souza 4, Mikaelle de Sousa Gomes 4, Alaan Diego Martins Farias Chaves 4 e Eduardo Dias 5
(1. Engenharia Ambiental/UFSC; 2. Departamento de Saneamento Ambiental - CENTEC; 3. Depto de Ecologia e Zoologia/UFSC; 4. Curso de Tecnologia em Rec. Hídricos/Saneamento Ambiental – CENTEC; 5. Curso de Administração - UVA)
INTRODUÇÃO:
Os ecossistemas de manguezal são paisagens dominantes ao longo da costa das regiões tropicais e de grande importância ecológica, possuem um importante papel na ciclagem de metais. O ambiente protegido freqüentemente inundado pelas marés, estimula a deposição de sedimentos finos e detritos, e os altos valores de pH encorajam a precipitação de metais na interface sedimento/água e o alto conteúdo de matéria orgânica contribuem para a retenção de metais em formas não disponíveis (Harbison, 1986). Metais são elementos bioacumulativos, podendo os organismos, apresentar concentrações muito mais altas que a água em sua vizinhança, constituindo uma via de entrada para metais na cadeia alimentar (Reeve, 1994). No Brasil, os manguezais distribuem-se ao longo de quase toda a costa. O Estado do Ceará possui cerca de 22.936 hectares. O manguezal de Camocim, banhado pelo rio Coreaú, possui uma área de 4.620 há, correspondendo a 20,14% dos manguezais do Ceará. A ocupação de áreas de apicuns para a construção de viveiros para criação de camarões, hotéis, construção e abandono de salinas alteram o equilíbrio dos processos morfogênicos, constituindo uma ameaça à biodiversidade e levando à perda paisagística. Este trabalho teve como objetivo determinar as concentrações de metais (Cd, Cu, Ni, Mn e Pb) em um compartimento abiótico (água intersticial) e compartimento um compartimento biótico (Goniopsis cruentata, Latreille, 1803) deste manguezal.
METODOLOGIA:
O manguezal de Camocim, banhado pelo rio Coreaú, possui uma área de 4.620 há, correspondendo a 20,14% dos manguezais do Ceará (BDT). O Rio Coreaú, tem suas nascentes no sopé do Planalto da Ibiapaba, com área estimada de 4.445 Km2. Possui como cobertura vegetal natural à vegetação Perenifolia Paludosa Marítima de Mangue, que contribui para a bioestabilização do sistema estuarino. Baseando-se em mapas da área de estudo, foram selecionadas quatro regiões a serem estudadas, escolhidas por apresentarem características distintas, relacionadas ao ambiente natural e estressores antrópicos, sendo efetuadas duas coletas no período de um ano. As amostras de água intersticial foram armazenadas em garrafas de polietileno escuro e opaco, previamente lavados com HNO3. Imediatamente após a coleta foram medidos os valores de pH, filtradas e acidificadas a pH 2. Os organismos vivos foram coletados aleatóriamente, evitando-se os indivíduos jovens, nas redondezas dos pontos onde foi coletada a água intersticial, formando-se uma amostra de 20 indivíduos em cada área amostral. As determinações de metais (Cd, Cu, Ni, Mn e Pb), foram realizadas num espectrômetro de massa com fonte de plasma indutivamente acoplado, ICP-MS, ELAN 6000 da Perkin-Elmer SCIEX (Thornhill, Toronto, Canada). Todas as análises químicas foram realizadas no laboratório de química analítica da Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC.
RESULTADOS:
A água intersticial apresentou altas concentrações de Cobre, Manganês e Níquel. Comparando-se os resultados obtidos na análise de metais dissolvidos nas águas intersticiais do manguezal de Camocim com os limites estabelecidos pelo CONAMA (resolução n 20/1986; CONAMA, 1986) para metais em águas salobras, observou-se que Cu está acima do limite permitido em todas as amostras, sendo a área ás margens do Rio do meio, próxima à foz, a mais contaminada, com concentração de 1,808 mg/L, 90 vezes acima do permitido ( 0,02 mg/L). O organismo analisado (Goniopsis cruentata, Latreille, 1803) apresentou altas concentrações de Cu, demonstrando que os organismos estão sujeitos a bioacumular substâncias presentes nas águas intersticiais, todas as amostras excederam o valor superior proposto por Bowen (1966) (4-50 µg/g) para organismos marinhos. Os resultados obtidos sugerem que o manguezal encontra-se de pouco a moderadamente poluído, principalmente por Cu, Mn e Pb; obteve-se uma correlação direta entre as concentrações de metais encontradas na água intersticial e no caranguejo.
CONCLUSÕES:
Os resultados sugerem que a atividade agrícola com o uso indiscriminado de agroquímicos nas cidades que margeiam o rio Coreaú à montante da sua foz e a atividade de carcinicultura, principalmente, através da remobilização dos sedimentos para a implantação do empreendimento são as principais fontes de metais para o manguezal. Todas as áreas estudadas apresentaram altas concentrações de metais biodisponíveis e nos organismos analisados, sugerindo que o substrato do manguezal não está imobilizando efetivamente os metais sob forma não disponíveis, podendo apresentar risco para a biota. O monitoramento dessas variáveis, principalmente, do recurso biótico – caranguejo que é amplamente consumido pela população, é de extrema importância, tendo em vista o caráter bioacumulativo dos metais.
Instituição de fomento: Capes
Palavras-chave:  Metal pesado; Manguezal; Camocim.
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005