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G. Ciências Humanas - 7. Educação - 6. Educação Especial
EXPERIENCIAS PEDAGÓGICAS UTILIZANDO NOVAS TECNOLOGIAS, COMO FERRAMENTA DIDÁTICA, AUXILIANDO O ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA PARA ALUNOS SURDOS
FRANCISCO LEONARDO GOMES 1 (FLEOGOMES@YAHOO.COM.BR) e MANOEL GOMES DOS SANTOS JUNIOR 2
(1. CENTRO DE EDUCAÇÃO - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ - UECE; 2. MBA EXECUTIVO - FACULDADE INTEGRADA DO CEARÁ- FIC)
INTRODUÇÃO:
Em 2004 desenvolvemos uma pesquisa com 04 alunos surdos de uma escola da rede Estadual de ensino da cidade Fortaleza-CE. Pesquisa esta que teve por objetivo principal desenvolver o ensino da língua portuguesa para o aluno portador de surdez. Quando falamos em ensinar a língua portuguesa referimo-nos à leitura e escrita e não ao desenvolvimento da fala. Para tanto, utilizamos o canal de bate papo como ferramenta educativa.
Os surdos foram ao longo da história discriminados socialmente e até hoje passam por eliminações físicas (barreiras sociais), quando observado a falta de acessibilidade da comunidade surda a determinados serviços, os quais são voltados única e exclusivamente aos ouvintes. Visto que a comunicação é um dos fatores fundamentais de integração do ser humano, a qual representa participação, convivência e socialização, o presente trabalho teve como meta aplicar os recursos de um ambiente computacional, promovendo o desenvolvimento das potencialidades cognitivas de alunos surdos, os quais foram entendidos como sujeitos do seu desenvolvimento de aprendizagem e construção de seus conhecimentos. E, ainda, teve por finalidade capacitá-los para uma melhor interação no cotidiano, contribuindo para a ampliação do vocabulário em língua portuguesa, e familiarizando-os com a comunicação escrita, para implicar dessa forma, em um enriquecimento da linguagem escrita.
METODOLOGIA:
O estudo foi assistido pela engenharia didática a qual se trata de um tipo de pesquisa ação. Utilizamos também o contrato didático, com o fito de estabelecermos regras de convivência, assim como a seqüência didática, com o objetivo de planejarmos a didática das sessões.
Desenvolvemos os estudos no laboratório de informática de uma escola Estadual de Fortaleza-CE. Participaram da pesquisa 04 surdos e um intérprete de LIBRAS-Língua Brasileira de Sinais. Apesar da pequena amostra, a mesma, foi de fundamental importância para observamos com mais clareza os detalhes.
A versão utilizada do chat foi o winchat 1.02,o qual se trata de um programa gratuito, simples e de fácil manuseio por parte do usuário.
Procuramos nos primeiros dias oferecer alguma noção de informática, visto que alguns participantes nunca tiveram contato com o computador.
O tempo designado a cada sessão de bate papo foi de aproximadamente 02 horas durante 03 meses. O conteúdo trabalhado foi o ensino da língua portuguesa, restringindo-se apenas à leitura e escrita e não ao ensino oral, em que os surdos, por meio do bate papo, praticaram a escrita e a leitura.
Objetivando caracterizar o grupo, aplicamos questionários, entrevistas e as avaliações. Visto a escassez de tempo, a avaliação, consistiu no acompanhamento das atividades de produção e interpretação da escrita no bate papo, ou seja, foi uma avaliação contínua além da avaliação diagnóstica, que comparamos a escrita dos primeiros textos com os últimos.
RESULTADOS:
Através da escrita no chat verificamos as dificuldades do surdo na escrita em língua portuguesa. Percebemos, ao longo das sessões, a falta de motivação por parte dos surdos em escrever. Suas idéias, ao serem projetadas através da escrita, apresentavam-se resumidas, breves, parece que evitavam , ao máximo, qualquer atividade de escrita de textos.
Analisamos em alguns trechos, principalmente nas primeiras sessões, que a escrita de determinados verbetes deixava a frase em língua portuguesa sem sentido, pois, a palavra escrita possuía vários significados em LIBRAS, contudo, era o mesmo sinal. Por exemplo: vc bom social importante. Ao escrever social, ele pretendia expressar seminário. Isto ocorreu pelo fato do sinal de social ser o mesmo sinal de seminário em LIBRAS. Ele se referia ao seminário sobre surdez acontecido, na época, dias antes, dessa maneira, sua intenção era escrever: Você gostou do seminário? Achou o seminário importante?.
Notamos, ainda, durante as sessões do chat uma freqüente troca de letras principalmente entre: m e n, p e q.
No decorrer das sessões foi apresentado um relevante progresso na escrita, como podemos observar no trecho a seguir, retirado das conversas mantidas no chat: oi vc vai segunda-feira tribunal justiça divulgar passe livre?. Nesta frase o surdo estava convocando os demais participantes do bate papo para se fazerem presente à manifestação em prol do passe de ônibus livre para a comunidade surda.
CONCLUSÕES:
Observamos que estes alunos surdos não possuíram, em sua vida escolar, uma educação significante que atendesse às suas necessidades. Assim, consideramos necessária a elaboração de uma nova abordagem, de materiais como cartilhas direcionadas para a realidade em que se encontra a educação, realidade esta que trabalha a inclusão, contudo, a forma como vem acontecendo não é a maneira correta, pois, não se pode falar em inclusão trabalhando com materiais direcionados aos ouvintes, bem como, é imprescindível que se tenha um professor especializado que possa manter com os alunos um tratamento singular, procurando adequar as novas tecnologias em sala de aula à realidade do educando.
Ao longo das sessões, utilizando o chat, os alunos surdos praticaram a escrita e a leitura implicando em uma acentuada melhora na escrita, na estruturação das idéias e no desenvolvimento do vocabulário, mesmo considerando a realização de poucas sessões.
É mister que os pais estimulem e desenvolvam a LIBRAS no cotidiano dos seus filhos surdos, uma vez que esta é a língua natural do surdo, chamada de primeira língua (L1), pois, o surdo tem toda uma predisposição para desenvolver o seu raciocínio através da gesticulação. Temos que observar a realidade e entender que o portador de surdez possui as mesmas possibilidades de desenvolvimento que a pessoa ouvinte, necessitando, somente, que tenha suas necessidades especiais supridas.
Palavras-chave:  EDUCAÇÃO ESPECIAL; INFORMÁTICA EDUCATIVA; SURDO.
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005