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D. Ciências da Saúde - 2. Medicina - 6. Radiologia Médica
ARTROSSONOGRAFIA DO COTOVELO DO RECÉM – NASCIDO: ESTUDO ANÁTOMO-SONOGRÁFICO E RELATO DE EPIFISIÓLISE TRAUMÁTICA
José Alberto Dias Leite 1 (josealberto_leite@hotmail.com), Luciana Frota 2, Janaina Gonçalves da Silva Leite 3, Francisco Bruno Nogueira Cruz 2, José Alberto Dias Leite Filho 3 e Mariana Gonçalves de Santana 2
(1. Pós-Graduação em Cirurgia, Fac. Medicina da Universidade Federal do Ceará - UFC; 2. Fac. de Medicina da Universidade Federal do Ceará - UFC; 3. Fac. de Medicina do Centro Universitário do Maranhão - UNICEUMA)
INTRODUÇÃO:
Em recém-nascidos vítimas de tocotraumatismo, as lesões osteoarticulares ocasionam uma morbidade significante, tendo uma incidência de 1:1000 nascimentos. A epifisiólise distal do úmero no período neonatal constitui uma lesão rara, sendo de difícil diagnóstico pelo Rx, visto que a ossificação do côndilo lateral só ocorre durante o primeiro ano. Outra opção seria a artrografia ou a ressonância magnética, que necessitam para a sua realização de anestesia geral. Nos dias atuais, o progresso tecnológico fez com que o ultra-som de alta resolução seja utilizado em freqüência crescente no sistema músculo-esquelético de lactentes e crianças na primeira infância. Para melhor entendimento dessas lesões, Markowitz et al (1992) estudaram a epifisiólise traumática distal do úmero em crianças e demonstraram uma boa visualização das estruturas do cotovelo. No caso específico de recém-nascidos, este recurso diagnóstico foi utilizado por Dias et al (1988), por Bar-On et al (1995) e por Brown e Eustace (1997), em simples relato de caso. A confrontação de mais um caso clínico raro e o aspecto dependente do operador que caracteriza a sonografia, transformou-se em desafio que só poderia ser transposto com um estudo in vitro da correlação anátomo-sonográfica das estruturas cartilaginosas normais do úmero distal de natimortos e da epifisiólise, assim como o estabelecimento do padrão sonográfico normal, sendo, portanto, estes os principais objetivos deste trabalho.
METODOLOGIA:
Este trabalho teve aprovação do Comitê de Ética da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará. O primeiro estudo foi realizado em dois cadáveres de recém-nascidos não reclamados sem qualquer anomalia músculo-esquelética. Uma agulha foi inserida sob visualização sonográfica na epífise distal do úmero direito, usando um aparelho Diasonics Ultrasound com transdutor linear de dez MHz. Um fragmento de fio metálico de 3 mm foi inserido na epífise distal do úmero para agir como um marcador eco-denso. As imagens sonográficas foram então comparadas com radiografias das espécies intactas. Seguiu-se a dissecção dos cotovelos direitos para visualização das estruturas cartilaginosas e posteriormente, as epífises foram bissectadas, para expor os marcadores. No segundo estudo, o cotovelo esquerdo extendido foi submetido a uma força manual em varo no sentido de obter um descolamento da epífise distal do úmero e noutro foi aplicada da mesma forma uma força em hiperextensão. As imagens sonográficas foram então comparadas com radiografias correspondentes. In vivo, a sonografia foi feita nos cotovelos de sete recém-nascidos normais, usando cortes laterais e ântero-laterais. Uma linha de base foi traçada no úmero para identificar a percentagem de extrusão da epífise. Em um paciente de 14 dias com epifisiólise distal do úmero relacionada a tocotraumatismo, realizamos estudos clínico, radiológico e sonográfico, assim como avaliação da sua recuperação após três semanas.
RESULTADOS:
No primeiro estudo, os achados sonográficos correlacionaram-se com os exames radiológicos das espécies e com as dissecções anatômicas. A entrada da agulha na epífise e o momento do depósito do marcador metálico foram mostrados sonograficamente. O segundo estudo colocou em evidência o escorregamento da epífise distal do úmero no sentido medial e posterior; no cotovelo luxado, a relação epifisemetafisária manteve-se intacta. Os exames radiológicos não detectaram tais alterações. Estes achados tiveram estrita correlação com os anatômicos. Constatamos nos exames sonográficos dos sete recém-nascidos normais que uma linha de base traçada na borda externa do úmero corta a epífise distal. Nos cortes longitudinais laterais a percentagem média de extrusão foi 8,95% e nos ântero-laterais, 21,66%. O paciente de 14 dias apresentava um edema no cotovelo esquerdo e um desvio póstero-medial; havia limitação dos movimentos de flexo-extensão. O Rx aparentava uma “luxação posterior”; o hemograma, a velocidade de hemossedimentação e o FTA-ABS eram normais. No corte sonográfico longitudinal ântero-lateral, a linha de base não cortava a epífise distal devido ao escorregamento posterior de 0,33 cm da epífise. No corte longitudinal lateral, observava-se a elevação do periósteo, uma imagem hiperecogênica e um nítido desvio medial da epífise distal do úmero. Devido ao tempo da lesão, optamos por uma simples evolução. Após três semanas, os movimentos estavam normais e o periósteo remodelado.
CONCLUSÕES:
Os resultados desses estudos confirmaram a acurácia da ultra-sonografia em visualizar as estruturas cartilaginosas do cotovelo do recém-nascido, assim como identificar com precisão a epifisiólise e a direção do seu desvio.
Palavras-chave:  Ultra-sonografia; Recém-nascido; Epifisiólise cotovelo.
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005