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G. Ciências Humanas - 7. Educação - 15. Formação de Professores (Inicial e Contínua)
UM OLHAR INCONTIDO EM BUSCA DE SENTIDO
Ana Conceição Elias e Silva 1 (aneca_mt@yahoo.com.br) e Maria Augusta Rondas Speller 2
(1. Escola Estadual "Profª Maria da Cunha Bruno"; 2. Departamento de Psicologia, Instituto de Educação, UFMT)
INTRODUÇÃO:
O trabalho refere-se a uma monografia com o título “Um olhar incontido em busca de sentido”, requisito de um curso de especialização em Psicologia no qual eu, enquanto pedagoga, a partir do conteúdo da teoria psicanalítica aprendido no curso, coloquei-me num processo de busca do sentido de ser professora, interrogando-me acerca de minha prática educativa e da repercussão desta na relação pedagógica em cargos que ocupei na escola (docência, administração escolar, coordenação pedagógica, direção escolar) e nas assessorias pedagógica e de recursos humanos da Seduc-MT. O objetivo foi contribuir para a ressignificação das experiências vividas, por mim e pelos meus pares, buscando novas alternativas de convivência a partir da interrogação da prática. O trabalho partiu de minha inquietação, comum a inúmeros professores, vai daí sua relevância, ao perceber que meu esforço, minha dedicação, meus estudos para lidar com a escola, quer administrativamente, quer pedagogicamente, haviam se tornado inúteis dado que meus alunos não se interessavam pelas aulas, o conhecimento que eu tentava desenvolver não tinha eco, não repercutindo na escola e nos alunos como eu esperava, de forma que até eu mesma tudo estranhava. Por outro lado, era difícil perceber meus valores, meus princípios, meus ideais - fundamentais para mim - sendo ridicularizados, ignorados, quando não contestados, por alguns colegas. Tudo isso causava mal-estar e desconforto presentes numa profissão cada dia mais desvalorizada.
METODOLOGIA:
Acontecimentos decorridos de ações desencadeadas pelo projeto que sonhei ao longo de vinte anos trabalhados na educação pública estadual e pelo qual me submeti às vicissitudes relativas ao sistema institucional burocratizado, aos relacionamentos humanos peculiares ao local de trabalho e ao exercício da profissão docente, são submetidos a um processo de análise reflexiva ancorada na teoria psicanalítica e tangenciada por ARENDT (2000) e seu conceito de ação como modo especial de expressão da singularidade individual. Este processo investigativo aconteceu no contexto acadêmico de um Curso de Especialização em Psicologia Educacional, do Instituto de Educação da Universidade Federal de Mato Grosso, em 2003/2004. O processo ocorreu através de relato autobiográfico engajado numa prática narrativa interpretativa, tendo como ponto de partida a condição de professora, pedagoga, pesquisadora, que busca na escrituração da história de vida e autobiografia escolar, interpretar as experiências profissionais à luz do marco teórico destacado. Para isso, traz à tona a própria experiência - enquanto educadora do ensino fundamental – num movimento que toma para si sua história, não para confinar-se em si mesmo, mas para interrogá-la a fim de produzir conhecimentos e contribuir para a formação de professores.
RESULTADOS:
Os resultados indicam que o conhecimento de conceitos psicanalíticos como, por exemplo, transferência e castração, por quem trabalha na Educação, contribui para a compreensão tanto da inserção e atuação na profissão quanto dos estudantes no processo ensino-aprendizagem. O conhecimento da teoria pode levar o sujeito a questionar-se e a elaborações psíquicas que afetem a sua subjetividade. Após o estudo da teoria, pude avaliar minha prática de um modo diferente, sobretudo no que se refere à concepção de ensinar e aprender, de lidar com a alteridade e comigo mesma, de minhas reais possibilidades e limites de intervenção. Novas perspectivas abriram-se para pensar a subjetividade contemporânea e a identidade profissional, indicando que a definição desta identidade não se dá imediata e conclusivamente, mas como uma elaboração própria do exercício de pensar sobre as ações que colocam o sujeito na tarefa de encontrar direção ou norte para seu agir. Isto o implica com o seu fazer, num processo subjetivo de re-significação de si e do outro não só em relação à profissão, como também quanto a outras áreas da vida, nas demais relações a que estamos submetidos pela nossa própria condição de homens e mulheres situados na cultura, na civilização. As reflexões poderão servir de mediação aos profissionais da Pedagogia no processo de inscrição simbólica da sua identidade profissional e de contribuição no redimensionamento de sua prática pedagógica.
CONCLUSÕES:
O objetivo do trabalho foi alcançado, a começar pela mudança significativa nos meus posicionamentos perante a Educação, o que desencadeou a necessidade de um aprofundamento no processo investigativo sobre formação de professores, pois à luz da experiência passei a problematizar a formação, os mal-estares vividos no exercício da profissão, as concepções estudadas nas diversas teorias pedagógicas com seus ideais humanos e profissionais. Se por um lado essas teorias são, freqüentemente, eivadas de psicologismo, por outro, sofrem os efeitos subjetivos dos professores que as lêem e interpretam. Com o objetivo de aprofundar minhas reflexões e investigações, inseri-me no grupo de pesquisa “Educação, Subjetividade e Psicanálise” do programa de Pós-Graduação do Instituto de Educação da Universidade Federal de Mato Grosso que tem, desde sua fundação, seu foco em formação de professores. Pretendo investigar, em minha dissertação de Mestrado, o perfil e a formação do professor egresso do curso de Licenciatura Plena em Pedagogia nos últimos 10 anos. O trabalho do curso de especialização confirmou a necessidade, no campo educacional, de trabalhos com a memória a partir de histórias de vida que dêem voz à professora para que re-elaborem e re-signifiquem suas práticas, opções e conflitos, considerando que “aspectos profissionais e pessoais (...) se fundem e confundem” (Diniz, 1998:201).
Palavras-chave:  educação; psicanálise; formação de professor.
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005