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G. Ciências Humanas - 8. Psicologia - 10. Psicologia Hospitalar e Psicossomática
SAÚDE E DOENÇA: SENTIDOS ATRIBUÍDOS PELOS PROFISSIONAIS DE MEDICINA DO HOSPITAL GERAL DE FORTALEZA.
Shirley Dias Gonçalves 1 (shirlinha_dias@yahoo.com.br), Maitê Mota Cavalcante 1 e Leônia Cavalcante Teixeira 1
(1. Depto. de Psicologia, Universidade de Fortaleza - UNIFOR.)
INTRODUÇÃO:
As relações entre o campo da Psicologia e a prática médica podem proporcionar um novo olhar na concepção da saúde, da doença, do doente e do adoecer. A medicina tradicional destituiu a possibilidade de diálogo com outros saberes sobre o biológico, excluindo assim as dimensões subjetivas da sua prática, pois a categoria central do saber médico é a doença em sua concretude corporal. A saúde não é enfatizada no processo terapêutico devido à visão anátomo-clínico para qual a doença corresponde a uma mácula no corpo lesionado. A partir da perspectiva psicossomática psicanalítica, Freud contribuiu para a caracterização do adoecer orgânico, revelando seu estatuto pulsional e representativo, diferenciando-se do dualismo soma/psique hegemônico na psicossomática médica. Os conceitos de saúde e doença deixaram de ter o aspecto generalizante, mecanicista e analítico da biomedicina. A psicossomática psicanalítica concebe que há uma significativa implicação do sujeito na doença, revelando que esta tem um significado simbólico para o paciente. Nesta pesquisa, objetivou-se investigar os sentidos atribuídos à saúde e à doença pelos profissionais de medicina de um hospital público na cidade de Fortaleza. A relevância desse estudo está em se destacar como os sentidos dos conceitos de saúde e doença podem interferir na prática médica no que concerne à relação médico-paciente e à equipe interdisciplinar.
METODOLOGIA:
Esta pesquisa é do tipo qualitativa sem fins de generalização estatística. Constituiu-se uma das ramificações do projeto intitulado Psicologia da Saúde, Psicologia Hospitalar e Psicologia Médica: espaço epistêmico e interdisciplinaridade vinculado ao Mestrado em Psicologia da Universidade de Fortaleza. A pesquisa de campo foi realizada no Hospital Geral de Fortaleza (HGF), uma instituição de saúde pública de referência do Estado do Ceará. Os procedimentos adotados foram: visitas ao HGF para estabelecer contatos com os residentes, coleta de dados através de entrevistas semi-estruturadas, análise e interpretação dos dados. Os sujeitos participantes foram residentes nas várias especialidades de Medicina. De acordo com as normas do Comitê de Ética, foram garantidas as identidades dos participantes em caráter sigiloso, bem como a possibilidade de desistência dos mesmos durante a investigação. Através desse instrumento de coleta de dados, verificaram-se as concepções desses profissionais sobre os conceitos de saúde e doença. Foram também abordadas categorias relacionadas com o tema, tais como: formação acadêmica, conceitos de corpo, mente, normal e patológico, a relação médico-paciente e interdisciplinaridade. Os referenciais teóricos utilizados foram os da psicologia da saúde, psicossomática médica e biomedicina, sendo ressaltados autores como Angerami-Camon, Camargo Júnior, Carvalho Ferraz, Madel Luz e Mello Filho.
RESULTADOS:
A partir da análise dos resultados, foram constatadas duas concepções sobre o conceito de saúde: uma visão de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS) e outra que se contrapõe a mesma. Houve uma predominância da definição de saúde da OMS no discurso dos médicos, como um “estado de completo bem-estar físico, mental e social, não meramente ausência de doença ou enfermidade”. Mas, mesmo assim, os mesmos se contradizem ao enfatizar a saúde física em detrimento da saúde psíquica, ressaltando os distúrbios fisiológicos. Em contrapartida, questionou-se esse completo bem-estar por visar uma perfeição inatingível de saúde plena e afirmou-se que a saúde em sua totalidade é utópica. Tanto a definição de saúde da OMS quanto da medicina psicossomática podem ser questionadas, pois fazem uma distinção entre os aspectos físicos, mentais e sociais do ser humano. Observou-se no relato médico que o conceito de doença está ligado a uma alteração do metabolismo orgânico e do psicológico que interfere no desenvolvimento e no relacionamento com as pessoas. A doença seria o desequilíbrio da harmonia entre o bem estar físico, mental e ambiental, sendo relacionado aos aspectos orgânicos e ao contexto de vida do paciente. Constatou-se que o paciente fica reduzido à patologia que apresenta, passando a ser identificado por ela. Verificou-se a dificuldade dos médicos em conceituar o adoecer e a saúde no que diz respeito a uma elaboração de um discurso inteligível que definisse esses termos.
CONCLUSÕES:
Concluiu-se que, apesar de ser enfatizada uma contribuição dos aspectos psicológicos para a manutenção da saúde, a prática médica ainda está centrada no caráter organicista, no qual se revela uma visão unilateral do corpo. O despreparo acadêmico no que concerne às disciplinas na área da Psicologia durante a formação e o tempo reduzido do atendimento proporcionam uma relação terapêutica insatisfatória. Ressalta-se a necessidade de visões interdisciplinares permearem a formação médica, pois estas contribuem na sua atuação junto ao paciente, visto que o médico relaciona-se com profissionais de diversos saberes nas instituições hospitalares. Embora a maioria dos médicos acredite na onipotência de sua profissão nos aspectos de diagnóstico, tratamento e cura das doenças, alguns reconhecem a possibilidade do fracasso no processo terapêutico, principalmente quando ocorre a morte do paciente. Ratificou-se a importância dos staffs médicos como orientação para que esses profissionais saibam lidar com pacientes terminais e ter uma boa relação médico-paciente. Concluiu-se a impossibilidade de se retratar a saúde como um perfeito bem-estar físico, mental e social por se remeter a uma visão inalcançável de saúde plena.
Instituição de fomento: Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico - FUNCAP.
Trabalho de Iniciação Científica
Palavras-chave:  Psicologia da saúde; Psicossomática médica e Biomedicina; Saúde e doença.
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005