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G. Ciências Humanas - 9. Sociologia - 4. Sociologia do Trabalho | ||
ANÁLISE DA RELAÇÃO ENTRE O NÍVEL DE ESCOLARIDADE E O ACESSO AO MERCADO FORMAL DE TRABALHO.
CASO OBSERVADO EM 71 FAMÍLIAS RESIDENTES EM BAIRROS PERIFÉRICOS DA CIDADE DE VIÇOSA-MG |
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Luciana Lana da Costa 1 (lulanacosta@yahoo.com.br) e Valéria Maria Vitarelli de Queiroz 2 | ||
(1. Departamento de Economia Doméstica, Universidade Federal de Viçosa - UFV; 2. Departamento de Nutrição e Saúde, Universidade Federal de Viçosa - UFV) | ||
INTRODUÇÃO:
No limiar do novo milênio o mapa da fome se agiganta, a concentração de renda atinge níveis inaceitáveis e o desemprego aumenta a cada dia. No Brasil, a crise de emprego vem se manifestando significativamente a partir dos anos 90, consolidando a desestruturação do mercado de trabalho com a redução do trabalho formal e o aumento dos índices de desemprego. Apregoa-se a idéia de que a educação é a saída para o desemprego, já que aqueles com menor escolaridade estão sem trabalho. Para Pochmann (1999) a educação é uma condição necessária para o emprego da mão-de-obra, a oferta de trabalho tende a estar mais identificada com a busca de maior qualificação profissional. A escolaridade passa a ser um recurso inadiável de elevação da qualidade da mão-de-obra, já que há correlação direta entre baixa escolaridade e baixa qualidade ocupacional. Sabe-se que, no Brasil, ao menos 52% da população não possuem o requisito mínimo para disputar uma vaga no mercado formal de trabalho.Por isso, a qualificação profissional torna-se questão de sobrevivência para o trabalhador. Considerando que a questão da qualificação profissional passa pelo analfabetismo funcional e também pelo fracasso escolar infantil, focalizar a exclusão social transformada pelas vias da evasão e repetência escolar é primordial. A importância deste trabalho está em analisar a relação entre o grau de escolaridade, o nível de qualificação profissional e o acesso ao mercado formal de trabalho. |
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METODOLOGIA:
Foi realizada a aplicação de questionários para o diagnóstico do índice de desenvolvimento familiar da cidade de Viçosa. No entanto, para o presente trabalho, foi analisado apenas os resultados referentes aos indicadores: Acesso ao conhecimento e acesso ao trabalho O referido questionário foi formulado por meio do Cadastro Único de construção de indicadores sociais. 2.1- O Cadastro Único: O cadastro único é constituído com base em três questionários distintos: •Informações sobre o município •Informações sobre o domicílio •Informações sobre cada um dos moradores do domicílio 2.1.1-Componentes e indicadores básicos para construção do Cadastro Único •Vulnerabilidade •Acesso ao conhecimento •Acesso ao trabalho •Disponibilidade de recursos •Desenvolvimento infantil •Condições habitacionais Foram analisadas 71 famílias residentes em bairros periféricos da cidade de Viçosa-MG. |
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RESULTADOS:
Um dos principais problemas encontrados nas famílias analisadas é a questão da alfabetização das crianças. Foi encontrado um número elevado de crianças com dificuldade de aprendizado e um alto índice de repetência. Cerca de 49% das crianças repetiram ou abandonaram a escola por mais de dois anos. Além disso, 41% das famílias possuem como membros, adultos analfabetos e 40% possuem adultos analfabetos funcionais. Apenas 37% das famílias possuem pelo menos um adulto com o ensino fundamental completo e apenas 20% com o secundário completo. Em apenas 6% das famílias existia algum adulto com curso superior. O alto índice de desemprego é uma constante nas famílias analisadas, resultando em uma baixa renda familiar. Cerca de 66% das famílias analisadas possuem menos da metade dos indivíduos em idade ativa ocupados em alguma atividade remunerada. Das famílias analisadas, 38% possuem algum membro trabalhando no setor formal, ou seja, com carteira assinada. Foi observado que 64% dos indivíduos em idade ativa trabalham em alguma atividade agrícola. Outro fator que deve ser ressaltado é quanto a renda familiar: em 14% das famílias questionadas há pelo menos 1 membro ocupado com rendimento superior a 2 salários mínimos. Cerca de 48% dos indivíduos empregados, estão a mais de seis meses no trabalho atual. Com a aplicação do questionário foi possível perceber que em 90% das famílias, os indivíduos em idade ativa não possuem uma qualificação profissional. |
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CONCLUSÕES:
A falta de escolaridade mostrou ser um problema comum nas famílias observadas, assim como a falta de qualificação profissional que por sua vez, determina menores oportunidades no mercado de trabalho e menor ganhos em atividade informal. Cria-se um ciclo vicioso, e em muitos casos, crianças oriundas de tais meios fracassam na escola, e conseqüentemente, são excluídas socialmente quando adultos. Lamentavelmente, para as crianças de classe pobre, que têm de um lado, um meio familiar não favorável ao seu desenvolvimento social e cognitivo, e de outro, uma sociedade e um mercado de trabalho que subestima e marginaliza aqueles com poucas habilidades intelectuais desenvolvidas, o fracasso escolar, a exclusão do mercado de trabalho e a pobreza parecem ser-lhes pré-deteminadas. A educação básica e profissional são, cada vez mais, fatores determinantes de empregabilidade, ou seja, de capacidade não só de se obter um emprego, mas de se manter no mercado de trabalho altamente competitivo e seletivo. O mercado de trabalho está mais exigente, levando a ocupar para as mesmas funções trabalhadores com maior nível de escolaridade. No entanto, sabe-se que o mercado de trabalho necessita também de força de trabalho barata, ainda que não seja qualificada. Isto leva a manter o círculo de pobreza, a subestimar as habilidades desenvolvidas presumivelmente por uma maior escolarização e a manter a inserção marginal de um setor populacional com um desenvolvimento mínimo de habilidades básicas. |
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Palavras-chave: Educação; Qualificação Profissional; Desemprego. | ||
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005 |