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D. Ciências da Saúde - 3. Saúde Coletiva - 1. Epidemiologia
ESTUDO DA INCIDÊNCIA DE REAÇÕES ADVERSAS A MEDICAMENTOS EM UM HOSPITAL DE ENSINO EM FORTALEZA-CEARÁ
Adriana Parente Gomes 1 (adrianaparentegomes@yahoo.com.br), Fernanda das Graças Costa Melo 1, Patrícia Fernandes da Silveira 1, Emérita Sátiro 1, Marta Maria de França Fonteles 1 e Helena Lutéscia Luna Coelho 1
(1. Departamento de Farmácia, Universidade Federal do Ceará - UFC)
INTRODUÇÃO:
Reação adversa a medicamento (RAM) é definida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como “qualquer efeito prejudicial ou inesperado que se apresente após a administração das doses normalmente utilizadas no homem para profilaxia, diagnóstico ou tratamento de uma enfermidade”. Alguns fatores contribuem para o surgimento de RAM, como: extremos de idade (neonatos e idosos), sexo, patologias associadas, história anterior de RAM ou alergia, fatores sócio-culturais e genéticos, polimedicação e hábitos sociais. Reações adversas constituem causa de morbi-mortalidade e são tema de grande importância no estudo da Saúde Pública. Conceitualmente a Farmacovigilância faz parte da Farmacoepidemiologia ou Epidemiologia dos Medicamentos e é definida como “o conjunto de atividades destinadas a identificar, quantificar e informar os efeitos do uso agudo e crônico, dos tratamentos farmacológicos na população ou em subgrupos de pacientes expostos a tratamentos específicos. Atividades de Farmacovigilância podem ser desenvolvidas seguindo algumas estratégias como: Farmacovigilância Hospitalar; Notificação espontânea de reações adversas a medicamentos e estudos analíticos. São objetivos deste trabalho: determinar a incidência de reações adversas a medicamentos no Hospital Universitário Walter Cantídio - HUWC, investigar quais os fatores que podem estar associados a esses eventos e propôr medidas de prevenção ou redução do impacto negativo dessas reações.
METODOLOGIA:
Estudo observacional, analítico, prospectivo, com monitorização intensiva de pacientes, determinação da incidência acumulada de RAM e avaliação exploratória de seus determinantes. Foram incluídos no estudo, todos os pacientes internados nas clínicas médicas do HUWC, de 01 de setembro de 2000 a 28 de fevereiro de 2001, os quais foram acompanhados desde o momento da internação até a alta hospitalar ou óbito, para a detecção e acompanhamento de reações adversas. Foram realizadas visitas diárias às clínicas médicas do HUWC, registrando os medicamentos utilizados e investigação sobre a ocorrência de RAM. Os casos em que os pacientes apresentavam RAM foram avaliados seguindo a metodologia recomendada pela Organização Mundial de Saúde. As reações eram classificadas conforme imputabilidade (definida, provável, possível, improvável, condicional e não-classificável), gravidade (leve, moderada, grave) e tipo A- efeitos colaterais, efeitos citotóxicos e superdosagem relativa, tipo B - hipersensibilidade. Os medicamentos foram classificados de acordo com o Anatomical-Therapeutical-Chemical – ATC, Classification Index e as reações adversas através do WHO-ART também recomendado pela Organização Mundial da Saúde.
RESULTADOS:
Foram internados nas clínicas médicas do HUWC um total de 970 pacientes destes, 54% eram mulheres e 46% homens, com idade variando de 9 meses a 97 anos. Todos os pacientes fizeram uso de medicamentos durante a internação, variando de 1 a 20 medicamentos/paciente. Os grupos de medicamentos mais utilizados, (1 nível ATC) foram medicamentos que atuam no sistema nervoso central (19,0%), medicamentos que atuam sobre o trato alimentar e metabolismo (17,0%), medicamentos que atuam no sistema cardiovascular (16,7%). Do total, oito (0,8%) tiveram como diagnóstico de internação alguma reação adversa a medicamento. Durante o período do estudo foram verificadas 30 novas ocorrências de RAM em pacientes hospitalizados. As manifestações das reações adversas compreendiam principalmente afecções da pele (65,0%) e distúrbios do estado geral (25,0%). Quanto à gravidade, as reações foram na sua maioria classificadas como moderadas (79,0%), seguidas das reações leves (19,0%). A relação de causalidade foi considerada provável em 58,0% dos casos e definida em 24,5%. Os grupos farmacológicos mais envolvidos foram antibióticos de uso sistêmico (66,4%), seguido por medicamentos que atuam no sistema nervoso (7,7%), antineoplásicos e agentes imunomoduladores (7,7%). A incidência de RAM entre os pacientes hospitalizados não está associada ao sexo nem à idade. O número de dias de internação interferiu na ocorrência de RAM.
CONCLUSÕES:
Os resultados indicam que a população monitorizada era na maioria mulheres, adultos e idosos e que os medicamentos mais prescritos foram aqueles que atuam no sistema nervoso central, no trato alimentar e metabolismo, no sistema cardiovascular e os antiinfecciosos gerais para uso sistêmico. Foram identificadas ocorrências de reações adversas a medicamentos como causa de internação e durante a internação hospitalar. Todos os pacientes admitidos em decorrência de RAM, apresentaram manifestações dermatológicas, principalmente rash cutâneo e prurido, sendo os medicamentos envolvidos nestes casos: dipirona, fenitoína, ciprofloxacina, ampicilina, prednisona e talidomida. Foi verificada uma prevalência de notificações espontâneas em relação aos casos identificados por busca nos prontuários. Os grupos farmacológicos mais envolvidos com a ocorrência de RAM em pacientes internados foram antibióticos de uso sistêmico, medicamentos que atuam no sistema nervoso e agentes imunomoduladores. Dentre os antibióticos de uso sistêmico, cefalotina, oxacilina, vancomicina e ceftriaxona foram os mais envolvidos. Dentre os fatores de risco testados para a ocorrência de reação adversa a medicamento, destacou-se o tempo de internação, fator determinante para tal ocorrência. Também foi identificada relação no risco de ocorrência de RAM em pacientes internados nas clínicas médicas. A idade e o sexo não constituíram fator de risco para RAM.
Instituição de fomento: CNPq, Universidade Federal do Ceará
Palavras-chave:  Farmacovigilância; Reação Adversa a Medicamento; Hospital.
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005