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G. Ciências Humanas - 8. Psicologia - 12. Psicologia
OS PROFETAS DA NATUREZA E A FOME NO SERTÃO CEARENSE
Maira Sampaio Alencar Lima 2 (alencarmaira@hotmail.com), Ana Luiza de Carvalho Tomaz 2 e Karla Patrícia Holanda Martins 1
(1. Prof. Dr.,Depto. de Psicologia e Comunicação Social, Universidade de Fortaleza - UNIFOR; 2. Centro de Ciências Humanas, Depto. de Psicologia, Universidade de Fortaleza - UNIFOR)
INTRODUÇÃO:
A interrogação sobre o modo e as estratégias que o sertanejo lança mão para garantir sua sobrevivência, inquieta a sociedade há muito tempo. A literatura e o jornalismo se ocuparam de tais questões e traçaram um perfil desta realidade que se atualiza constantemente. Entretanto, o imaginário sobre o sertanejo construído por estes meios nem sempre corresponde à realidade daqueles que vivem no sertão. Desta forma, a pesquisa O SUJEITO DA FOME: SUAS IMAGENS E NARRATIVAS, coordenada há dois anos pela Profa. Karla P. H.Martins, objetiva retornar os discursos dos sertanejos e interrogá-los sobre as estratégias de sobrevivência psíquica construídas por eles a partir da experiência da fome. O estudo que pretendemos apresentar investigou, a partir do campo de pesquisa acima referido, o modo como a experiência da fome é subjetivada na atualidade e qual a relação desta com a construção das narrativas proféticas relativas à previsão de chuvas. Esperamos com esta perspectiva nos afastarmos dos estereótipos veiculados pelas imagens midiáticas e literárias, abrindo caminho, por exemplo, para uma reflexão sobre modo como as estratégias de intervenção governamentais acerca da problemática da fome tem considerado ou não a subjetividade dos sertanejos.
METODOLOGIA:
A pesquisa vem se desenvolvendo há 2 (dois) anos a partir da análise dos discursos dos profetas que vivem no sertão central do Ceará. Em um primeiro momento, antes do trabalho de campo, foi feito um levantamento bibliográfico relativo à questão da fome. A leitura realizada enfocou autores que abordam o tema, com ênfase na perspectiva psicanalítica. Dentre estes autores destacam-se: Sigmund Freud, Jacques Lacan e Donald Winnicott. Ao fim desta etapa foi realizada uma visita à cidade de Quixadá, no interior do Ceará, com o objetivo de participar do Encontro Anual dos Profetas da Natureza, ocasião em que prosseguimos com as entrevistas já iniciadas pela coordenação da pesquisa. A pesquisa de campo foi feita através de entrevistas individuais semi-estruturadas. O universo de colaboradores da pesquisa foi constituído por sete pessoas. As entrevistas foram gravadas e transcritas com o prévio consentimento dos colaboradores. A partir da consideração dos discursos transcritos como práticas discursivas, compactuando-se com a visão de Mary Jane Spink tornou-se possível considerar as questões relativas à subjetivação da seca e da fome apreensíveis através da fala e associáveis ao campo teórico estudado previamente, a saber, a Psicanálise.
RESULTADOS:
Aa questões relativas à alimentação e à fome, do ponto de vista da teoria psicanalítica, devem ser tomadas para além das dimensões do corpo biológico e de suas necessidades. O grito e o choro do bebê estabelecem uma rede de comunicação com os seus cuidadores primários, conferindo um valor também simbólico ao ato de se alimentar. Quando Freud se debruça sobre a relevância da experiência de satisfação, produto do atendimento desta necessidade básica, postula que uma tal experiência cria vias de conexão construtoras da memória. No outro oposto, a não-satisfação, pode, dependendo de sua magnitude, desorganizar o sistema psíquico e, ao mesmo tempo, induzir o sujeito a construir novos sentidos, ou novas narrativas. Em outras palavras, uma das possíveis estratégias para lidar com a experiência da fome e a angústia por ela suscitada é a construção de narrativas que se conjugam num tempo futuro e apostam na esperança de dias melhores. Assim, as narrativas proféticas constituiriam uma saída para impotência diante da fome, formadoras da crença e de uma aposta no belo que está por vir.
CONCLUSÕES:
As narrativas sobre o sertão apresentam, pelo menos, dois modos de representação desta experiência, onde se distinguem as narrativas que são produzidas no sertão daquelas que são produzidas sobre o sertão. Enquanto as narrativas sobre o sertão vão em direção à apresentação de uma catástrofe antecipada sustentadas pelas imagens melancólicas de degradação e desespero, as narrativas que são produzidas no sertão têm por marca principal a manutenção de um discurso sobre a esperança.
Trabalho de Iniciação Científica
Palavras-chave:  Fome; Sertão; Narrativas.
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005