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H. Artes, Letras e Lingüística - 3. Literatura - 6. Literatura | ||
A FUSÃO E A REPETIÇÃO LEXICAIS EM ESTÓRIAS ABENSONHADAS, DE MIA COUTO | ||
Edna Carlos de Almeida Holanda 1 (ednaholanda@yahoo.com.br), Kilpatrick Müller Bernardo Campelo 1, Marcela Magalhães de Paula 1, Maria do Socorro Fonteles Gomes Pinheiro 1, Maria Marylene Rodrigues Magalhães 1, Otávio Rios Portela 1 e Sarah Diva da Silva Ipiranga 1 | ||
(1. Depto. de Letras, Universidade Estadual do Ceará - UECE) | ||
INTRODUÇÃO:
As literaturas africanas de língua portuguesa têm sido destacadas, no cenário internacional, como instrumentos de afirmação dos povos de nações lusófonas, daí o motivo de serem estudadas em centros universitários de muitos países. Foi por reconhecermos tal importância que nos propusemos a realizar este trabalho, que tem como objetivo central de estudo os recursos estilísticos da fusão e repetição lexicais na obra do escritor moçambicano Mia Couto. Entretanto, achamos necessário restringir nossa pesquisa a um corpus específico: focalizamos nossa análise na obra Estórias Abensonhadas, publicada em 1994. A escolha do autor explica-se por ser um dos prosadores contemporâneos em língua portuguesa mais traduzidos e estudados nos diversos países em que a literatura africana é objeto de análise. Tentamos comprovar a hipótese que Mia Couto é, em grande parte, responsável pela ampliação do sistema da língua portuguesa no panorama literário universal. |
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METODOLOGIA:
A fim de contextualizar tal literatura, em conformidade com o método sociocrítico de análise literária, pesquisamos dados biográficos do autor, que refletem a cultura moçambicana, cujo autor em questão é, atualmente, o maior profusor. Essas informações nos ajudaram a preencher lacunas na compreensão do texto literário estudado. Utilizamo-nos da fortuna crítica de escritores e de renomados pesquisadores da literatura, como José Saramago, Fernanda & Matteo Angius, Maria Teresa Rita Lopes e Roberto Pontes. Também nos valemos do registro oral advindo da palestra ministrada pelo escritor durante a realização da 6ª Bienal Internacional do Livro do Ceará, ocorrida na cidade de Fortaleza, no período de 28 de agosto a 7 de setembro de 2004. Após a leitura inicial dos contos, passamos à análise daqueles que, a nosso ver, melhor representam a riqueza estilística da fusão e repetição vocabular em Estórias Abensonhadas. Para tanto, serviram-nos de arcabouço teórico duas obras importantes da teoria estilística e de análise e crítica literárias: A Estilística, de José Lemos Monteiro e Métodos críticos para análise literária, de Daniel Bergez et alli. |
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RESULTADOS:
Após realizarmos nossa pesquisa, os resultados obtidos confirmaram as suposições estabelecidas à época do início dos trabalhos. A fusão de dois vocábulos pré-existentes para a formação de uma palavra ainda desconhecida na língua portuguesa, também denominada criação lexical acronímica, confirma-se como um dos principais recursos estilísticos que Mia Couto se utiliza para a formação dos nomes dos personagens e títulos dos contos. É necessário ressaltar que essas palavras, obtidas em grande parte pelos processos de aglutinação e justaposição, estão intrinsecamente relacionadas a características de personagens, lugares e outros elementos da narrativa. Assim, as adjetivações atribuídas pelo escritor justificam-se após a leitura dos textos. A fim de ilustrar esse recurso, selecionamos uma amostragem dos resultados obtidos. Observemos o título da obra: abensonhadas, formado pelo adjetivo abençoada e pelo particípio sonhada, sugere uma atmosfera fantástica da obra e é reforçado pelo vocábulo estórias. Selecionamos também alguns nomes de personagens que ilustram os resultados: Tristereza, Felizbento e Mintoninho. O recurso estilístico da repetição de vocábulos também foi confirmado em nosso estudo, com destaque para a formação de novas palavras a partir do mesmo radical. Vejamos como exemplo esta passagem: “O cego reclamou: que o moço inatingia idade. E que o serviço que ele prestava ali era vital e vitalício”; e também: “Numa palavra: chocado e chocalhado”. |
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CONCLUSÕES:
A produção literária de Mia Couto, como autor contemporâneo da literatura africana, apresenta-nos um estilo ficcional peculiar e sua estilística, centrada na fusão e repetição vocabular como confirmamos após o estudo, representa a renovação literária em obras de nossa língua, segundo já nos ressalta Roberto Pontes, doutor em Letras e professor da Universidade Federal do Ceará, no livro Poesia Insubmissa Afrobrasilusa. Os recursos estilísticos observados aparecem para comprovar a inventividade do prosador, o que resulta em uma ampliação do léxico da língua portuguesa imposta pelo colonizador, sem afetar o entendimento por outros leitores de mesma língua. Essa fluidez insere a obra analisada em um panorama universal, pois extrapola as concepções de uma literatura meramente regional. Os pressupostos teóricos da estilística, como mecanismos para percepção da riqueza e da variedade vocabular na obra de Mia Couto, levam-nos a uma redescoberta das possibilidades de conjunção de significados, já verificadas em outras obras do escritor e, também, nos textos do brasileiro Guimarães Rosa. Noutros termos, a fusão e a repetição lexicais, fundamentados nos resultados obtidos a partir da obra analisada, mostram-se bastante prolíficos na literatura coutiana. |
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Palavras-chave: Literatura africana; Análise estilística; Acronímia e repetição vocabular. | ||
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005 |