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C. Ciências Biológicas - 5. Ecologia - 2. Ecologia Aquática
ICTIOFAUNA ESTUARINA DA ILHA DOS CARANGUEJOS, MARANHÃO
Antônio Carlos Leal de Castro 1 (aclcastro@ufma.org.br) e Raimunda N. Fortes Carvalho Neta 2
(1. Mestrado em Sustentabilidade de Ecossistemas UFMA; 2. CEEFM Profa. Dayse Galvão de Sousa)
INTRODUÇÃO:
O conhecimento sobre a comunidade de peixes de determinada região constitui-se em importante instrumento para auxiliar na gestão adequada desses recursos naturais e, dentro de uma perspectiva mais ampla, para ordenar de forma integrada os usos do ecossistema.
Como a pesca artesanal no Maranhão constitui-se em importante fonte de renda para significativa parcela da população, é imprescindível que se adote medidas que regulamentem a exploração dos estoques pesqueiros, baseados em informações científicas.
Assim, o objetivo principal do presente trabalho foi mostrar como está caracterizada a ictiofauna da ilha dos Caranguejos, em termos de abundância, composição e diversidade de espécies. Além disso, ao longo de dois anos de pesquisa, pretendeu-se identificar e caracterizar os principais igarapés de exploração pesqueira da ilha dos Caranguejos, apontando as espécies de peixes de maior importância econômica. Buscou-se também mostrar o perfil dos pescadores que exploram a região e registrar visualmente as espécies de peixes ocorrentes, elaborando um catálogo sobre a ictiofauna desse ecossistema.
METODOLOGIA:
Durante o período de novembro de 2002 a abril de 2004 foram realizadas cinco amostragens dos peixes da Ilha dos Caranguejos, distribuídas da seguinte forma: 1ª coleta (amostra piloto) em novembro/2002, 2ª coleta em março/2003, 3ª coleta em maio/2003; 4ª coleta em outubro/2003 e 5ª coleta em abril/2004.
Os exemplares de peixes foram capturados nesses três locais com o equipamento mais comumente utilizado nas capturas artesanais do Estado, as redes de emalhar.
Após as capturas, os espécimes foram acondicionados frescos em caixas de isopôr contendo gelo e transportados até o Laboratório de Hidrobiologia da UFMA, onde foram determinadas as seguintes características biométricas: comprimento total (Lt), comprimento padrão (Lp) em centímetros e peso total (Wt) em gramas.
Os exemplares de peixes amostrados foram abertos para observação e classificação macroscópica das gônadas, considerando-se a seguinte escala de estágios de desenvolvimento gonadal: EG1 (imaturo), EG2 (em maturação ou repouso), EG3 (maduro) e EG4 (esgotado).
As variações de composição e abundância de espécies na comunidade ictiofaunística foram avaliadas a partir de índices que estimam a diversidade, riqueza e equitabilidade desses táxons nos três igarapés analisados.
A diversidade ictiofaunística foi calculada utilizando-se os índices de Simpson e Shannon-Weaner.
A frequência de ocorrência das espécies foi calculada considerando-se a proporção entre o número de coletas efetuadas contendo uma dada espécie e o número total de coletas efetuadas.
RESULTADOS:
Capturou-se um total de 2.665 indivíduos, registrando-se 32 espécies, distribuídas em 8 ordens, 19 famílias e 26 gêneros, sendo que 45% das espécies pertencem à ordem Perciformes e 28% à ordem Siluriformes.
As 10 espécies que apresentaram maior número de indivíduos foram:
1. Anableps anableps - 37,33%; 2. Hexanematichthys herzbergii - 19,32%;
3. Bagre bagre - 6,64%; 4. Cathrorops spixii - 5,40%; 5. Genyatremus luteus - 3,83%;
6. Colomesus psittacus - 2,82%; 7. Pseudauchenipterus nodosus - 2,43;
8. Cynoscion leiarchus - 2,29%; 9. Achirus achirus - 2,22%; 10. Cathorops sp - 2,13%.
Na comunidade de peixes ocorrentes em todos os igarapés estudados, verificou-se a dominância numérica de indivíduos pertencentes às famílias Anablepidae (tralhotos), Ariidae (bagres) e Sciaenidae (pescadas).
Considerando-se a constância das espécies, baseada na proporção do número de coletas contendo um determinado táxon, verificou-se que os grupos com maior ocorrência para os igarapés Tronco e Pescada foram peixes tipicamente marinhos: Cynoscion leiarchus (altamente constante), Cynoscion acoupa, Macrodon ancylodon e Achirus achirus (constante). Já no igarapé Açú apenas Anableps anableps e Achirus achirus foram classificados como “constante”.
A diversidade ictiofaunística, através do índice de diversidade de Shannon-Weaner, nos pontos analisados mostrou maiores valores para o igarapé Pescada
(H’ = 3.286), ao passo que o igarapé Açu e o igarapé Tronco apresentaram índices aproximados (H’ = 2.902 e H’ = 2.478, respectivamente).
CONCLUSÕES:
Os resultados da pesquisa mostram que a composição da ictiofauna da ilha dos Caranguejos segue o padrão das comunidades ícticas já descritas para a costa Norte do Brasil, com uma frequência menor do número de espécies que apresentam mais afinidades com ambientes mais salobros. Esse fato deve estar relacionado com as características ambientais da ilha que situa-se numa região de médio estuário, com hidrodinâmica de maré diferenciada de altos e baixos estuários.
As trinta e duas espécies identificadas pertencem, em sua maioria, às ordens Perciformes e Siluriformes, grupos amplamente distribuídos na costa Norte brasileira devido à sua alta tolerância às variações de salinidade nos hábitats estuarinos.
A partir das observações sobre o estágio de maturação gonadal dos peixes verificou-se um significativo percentual de indivíduos jovens de grande número de espécies na maior parte do ano, indicando que a ilha dos Caranguejos exerce um papel de “criadouro” de uma fauna íctica importante para a pesca artesanal.
Instituição de fomento: CAPES
Palavras-chave:  ictiofauna; estuário; Maranhão.
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005