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G. Ciências Humanas - 9. Sociologia - 6. Sociologia Urbana | ||
“Um Estudo Sobre a Prostituição Feminina em São Luís nas Primeiras Décadas do Século XX (1950 a 1960)”. | ||
Sandra Nascimento 1 (sandrasousa@elo.com.br), Nicole Costa de Campos 2, Tatiana Raquel Reis Silva 3 e Cinthia dos Santos Moreira 4 | ||
(1. Depto. de Sociologia e Antopologia, Universidade Federal do Maranhão - UFMA; 2. Depto. de Sociologia e Antopologia, Universidade Federal do Maranhão - UFMA; 3. Depto. de História, Universidade Federal do Maranhão - UFMA; 4. Depto. de História, Universidade Federal do Maranhão - UFMA) | ||
INTRODUÇÃO:
Na virada do século XIX , ainda que conservasse o aspecto colonial, traduzido nos suntuosos casarões, mirantes, becos, ruas estreitas e tortuosas, a cidade de São Luís modificava-se em função do surto industrial. No redesenhar dos espaços, as casas-de-cômodo, hospedarias, hotéis, pensões e cortiços passaram a servir de morada aos indivíduos que chegavam. O crescimento populacional e o progressivo alongamento da malha urbana corriam acompanhados pela constante busca da ordem. Os sintomas da chamada “cidade doente” eram diagnosticados as mesmo tempo em que eram disseminadas idéias de que os males possuíam várias ordens. Assim, ao saneamento urbano de São Luís atrelava-se interesse de saneamento moral. Apontado como símbolo de ameaças físicas e morais, o meretrício era pouco a pouco envolvido em projetos de organização da cidade, de forma que este pudesse concentrar-se em locais de limites bem definidos. Desta maneira, da década de 50 até os anos 60, concentrou-se no centro da cidade de São Luís a então denominada ZBM (Zona do Baixo Meretrício), com um grande número de casas de pensões e cabarés onde se exercia a prostituição feminina. Desta forma, intencionamos compreender a dinâmica desse modo de exercício da sexualidade no âmbito das relações de gênero naquela conjuntura. |
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METODOLOGIA:
Nossa análise sobre a prostituição feminina em São Luís, em meados do século XX, constitui uma investigação que se insere dentro das temáticas colocadas pelos estudos de gênero, destacando o viés da sexualidade. Assim, buscamos analisar os discursos relacionados ao padrão moral e aos modos de pensar da sociedade da época, sobre o exercício da prostituição. Para tanto, trabalhamos com recortes de jornais do período, destaques de colunas sociais, bem como trabalhos acadêmicos já realizados sobre a temática. Para fundamentar as nossas análises, dialogamos com autores como Jurandir Freire, Margareth Rago, Magali Engel, dentre outros, a fim de enriquecer nossa pesquisa. |
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RESULTADOS:
De acordo com as análises das fontes foi possível perceber que o exercício da prostituição feminina não deixou de representar uma ameaça à ordem e à moral que buscava se instituir naquele período. Na construção do ideal de uma cidade civilizada, organizada e de práticas sexuais regulamentadas, os principais pilares eram a religião católica e a família. Os discursos que inspiravam esse ideário enfatizavam que, ao contrapor-se aos valores morais adequados à idéia de nação, ao casamento, à família e à maternidade, a meretriz representava um mal que ameaçava a saúde física, moral e social da população urbana. Dessa forma a prostituta é tida como uma “mulher mundana”, sem moral e sem conduta, profanadora do lar e da família. A medicalização da cidade era revelada pela interferência do saber médico na definição e busca de soluções para os problemas da cidade. Ao associar a doença a um comportamento social concebido como inadequado, reforçavam-se os referenciais assépticos que englobavam posturas sociais e sexuais. O editorial da “Tribuna”, de 26 de setembro de 1931, demonstra como ideologia da higiene era utilizada no sentido de reconhecer os focos de doença/desordem: “Logo no início da investidura mandou o chefe de polícia adoptar medidas relativas a regulamentação da prophylaxia social do meretrício. O rigor com que eram tomadas as providências policiais [...] denunciava, todavia, os louváveis propósitos da autoridade pública em melhoras das nossas condições sanitárias grandemente comprometidas pela syphilis e suas ruinosas conseqüências.” |
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CONCLUSÕES:
Com base em nossa pesquisa verificamos que a sociedade ludovicense do século XX se assentava num padrão de relações de gênero, no qual se condenava todo e qualquer comportamento desviante do tido como “ideal”, especialmente no que diz respeito as relações amorosas, eróticas e sexuais. Nestas sedimentavam-se duas ordens distintas de significados que eram colocados à feminilidade e à masculinidade. A mulher estava predestinada a viver em função do lar e da família e, uma vez que rompesse esta lógica, era duramente condenada pela sociedade. Foi possível perceber, ainda que em função do discurso moralizador e dos ideais de cidade organizada, a morfologia urbana de São Luís nas primeiras décadas do século XX deparava-se com uma bem definida representação do espaço sexual da cidade. Daí o confinamento das meretrizes em local, a ZBM (Zona do Baixo Meretrício). |
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Instituição de fomento: CNPQ\PIBIC - UFMA | ||
Palavras-chave: Prostituição; Sexualidade; Cidade. | ||
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005 |