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H. Artes, Letras e Lingüística - 2. Letras - 5. Letras | ||
THE BLUEST EYE X O OLHO MAIS AZUL: O African American Vernacular English EM TRADUÇÃO | ||
Luciana de Mesquita Silva 1 (lusincera@yahoo.com.br) e Maria Clara Castellões de Oliveira 1 | ||
(1. Depto. de Letras Estrangeiras Modernas, Universidade Federal de Juiz de Fora - UFJF) | ||
INTRODUÇÃO:
Este trabalho visa a realizar análises do livro “The Bluest Eye” (1970), da escritora norte-americana Toni Morrison, e de partes de sua tradução para a língua portuguesa - “O Olho Mais Azul” (2003) - realizada por Manoel Paulo Ferreira, a partir dos conceitos de polissistema, de Itamar Even-Zohar, e de domesticação, estrangeirização, invisibilidade e formação de identidades culturais, de Lawrence Venuti. Em “The Bluest Eye”, Toni Morrison utiliza-se do dialeto African American Vernacular English (AAVE) para dar visibilidade à raça e cultura negras. Portanto, o estudo da tradução dessa obra para a língua portuguesa procura verificar e comentar, a partir de “O Olho Mais Azul”, alguns trechos em que esse dialeto esteja presente, no intuito de chamar a atenção para o fato de que essa tradução representa um apagamento de Toni Morrison e de sua escritura no contexto brasileiro. A relevância da pesquisa se encontra na tentativa de, primeiramente, ampliar o campo dos estudos de obras da literatura afro-americana, considerando-se o fato de que este trabalho se insere no contexto da pesquisa “Traduções literárias: jogos de poder entre culturas assimétricas”, que, por sua vez, faz parte do projeto integrado de pesquisa “A questão identitária: mediações literárias e tradutórias” e, em seguida, promover uma reflexão a respeito das especificidades culturais envolvidas no processo tradutório. |
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METODOLOGIA:
O trabalho em questão se trata da Monografia de Conclusão do Curso de Bacharelado em Letras: Ênfase em Tradução - Inglês, realizada no período de agosto de 2003 a julho de 2004 na Universidade Federal de Juiz de Fora. Nesse sentido, para que esse estudo pudesse ser desenvolvido, houve a orientação da Profa. Dra. Maria Castellões de Oliveira, que acompanhou todo o processo de confecção do trabalho, através de encontros semanais. Após terem sido feitas pesquisas em livros e websites de informações sobre a cultura negra norte-americana, o African American Vernacular English, a autora Toni Morrison e os teóricos pertencentes ao contexto da disciplina Estudos da Tradução, foi iniciada a produção do trabalho. Primeiramente, discorreu-se a respeito da fundamentação teórica selecionada.Em seguida, promoveu-se uma descrição, baseada no estudo de Margaret Lourie, das características fonológicas e gramaticais do AAVE. Depois dessa etapa, procurou-se desvelar a escritora Toni Morrison e sua escritura, enfatizando sua importância no cenário da literatura norte-americana. Finalmente, buscou-se fazer análises das características do AAVE presentes em “The Bluest Eye”, para se averiguar de que forma esse dialeto foi apresentado em “O Olho Mais Azul”. Para tanto, foram selecionados exemplos extraídos de diálogos do romance e, posteriormente, um corpus mais específico - o fluxo de consciência da personagem Pauline Breedlove. |
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RESULTADOS:
O estudo da tradução de “The Bluest Eye” para o português levou à percepção de uma certa discrepância entre o tratamento dispensado ao AAVE nos diálogos e no fluxo de consciência de Pauline Breedlove. No primeiro caso, observou-se que a tradução se manteve, em geral, subordinada a uma linguagem padrão e altamente formal. Todavia, após o exame de um objeto mais definido, pôde-se notar uma maior flexibilidade com relação à utilização de uma linguagem mais próxima à não-padrão, com características de um estilo informal. Logo, verificou-se uma inconsistência nos procedimentos tomados pelo tradutor durante a produção de seu texto, inconsistência essa ocorrida até mesmo dentro das passagens inseridas no fluxo de consciência analisado, visto que em alguns momentos a tradução apresentou uma linguagem em conformidade com a norma culta, apesar de haver a oportunidade de reprodução de uma linguagem mais próxima à não-padrão. Dessa forma, foram apresentadas sugestões para a tradução dos exemplos citados, as quais buscaram, na medida do possível, revelar um tom de oralidade e, em alguns casos, o uso de uma linguagem que se distanciaria da norma culta, apesar de não haver a possibilidade de ter sempre preservado as características fonológicas do AAVE como características fonológicas em português, assim como as características gramaticais desse dialeto como características gramaticais na língua portuguesa. |
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CONCLUSÕES:
Essa análise desencadeou uma reflexão sobre determinadas questões. Primeiramente, a seleção do romance “The Bluest Eye” para ser traduzido contribuiu para a criação de novos sujeitos domésticos, já que foram trazidas inovações para o polissistema literário brasileiro no que diz respeito ao tema e ao fato de a autora ser de origem negra. Quanto ao aspecto lingüístico, tão importante para marcar a identidade negra no contexto norte-americano e através do qual Toni Morrison é reconhecida, o tradutor optou por uma linguagem que acabou por relegar ao apagamento a diferença da obra estrangeira. Dessa forma, promoveu-se, para o leitor brasileiro, a invisibilidade de uma característica extremamente relevante para a formação da imagem da cultura e do povo afro-americanos e da própria produção literária de Toni Morrison. Como conseqüência, a obra traduzida parece não fazer parte, como na cultura-fonte, de uma literatura altamente engajada que, além de lidar com as especificidades de uma determinada cultura, auxiliou no processo de abertura a questões que até então pertenciam às margens, tais como aquelas relativas às mulheres. Portanto, ao se apresentarem sugestões de tradução para exemplos de “The Bluest Eye”, procurou-se destacar a diferença do linguajar utilizado pelos negros na obra de Toni Morrison, apontando para a importância de se considerar os aspectos culturais no âmbito do ato tradutório. |
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Trabalho de Iniciação Científica | ||
Palavras-chave: tradução; Toni Morrison; identidade cultural. | ||
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005 |