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H. Artes, Letras e Lingüística - 5. Semiótica - 1. Semiótica | ||
AS ASTÚCIAS DA ENUNCIAÇÃO: IMAGINÁRIO COLETIVO E HISTÓRIA SOCIAL NO ROMANCEIRO TRADICIONAL | ||
Hermano de França Rodrigues 1 (hermanors@bol.com.br) e Maria de Fátima Barbosa de Mesquita Batista 1 | ||
(1. Universidade Federal da Paraíba - UFPB) | ||
INTRODUÇÃO:
Numa integração entre imaginário coletivo e história social, as narrativas populares apresentam-se, indubitavelmente, como “documentos” reveladores de uma identidade cultural que, apesar das imposições da modernidade, permanece latente em algumas regiões do Brasil, especialmente no Nordeste. São textos que reverberam, tacitamente ou não, valores axiológicos altamente significativos, capazes de alicerçar uma visão de mundo, um saber compartilhado que, no dizer de PAIS, traduz “as grandes linhas de um mundo semioticamente construído”. Nesse âmbito, o romance oral, expressão ímpar da cultura popular, incorpora e sustenta uma identidade que pode ser compreendida e apreendida levando em consideração não apenas o discurso subjacente às estruturas lingüísticas, mas também através do exame da própria organização enunciativa dessas estruturas. Advém daí a proposta do nosso estudo: analisar, no romance oral O Boi Espácio, as categorias de pessoa, espaço e tempo, buscando uma correlação entre os procedimentos enunciativos utilizados pelo sujeito enunciador e a visão de mundo evocada nos textos. |
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METODOLOGIA:
A semiótica discursiva, em especial os trabalhos de PAIS e FIORIN, constitui o olhar teórico que norteia a nossa pesquisa. Trata-se de uma teoria voltada para o discurso, que recebeu atenção especial nas últimas décadas do século vinte. Concebe o processo de geração do sentido como um percurso gerativo, um simulacro metodológico do ato real de produção significante, que vai do mais simples e abstrato até o mais complexo e concreto. O corpus constou de cinco versões do romance oral O Boi Espácio, nas quais examinamos a sintaxe discursiva, ou seja, o processo de actorialização, temporalização e espacialização. Tais componentes, no romance em questão, aparecem aliados ao discurso mítico, evidenciando uma estrutura enunciativa intimamente relacionada com os valores culturais do sujeito enunciador. |
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RESULTADOS:
A análise possibilitou a caracterização de uma organização enunciativa que responde pela “instabilidade” do imaginário popular. As estruturas “mitológicas” aliadas aos mecanismos enunciativos de embreagem e debreagem aparecem como teias de força tecidas por elementos sócioculturais. No romance, a figura do boi é antropomorfizada, executando, inclusive, façanhas inacreditáveis que ganham dimensões míticas devido à hiperbolização da linguagem e a concomitância do tempo presente e passado. Este último aspecto oferece uma dinamicidade temporal que condiz com a própria natureza oral do romance. |
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CONCLUSÕES:
Chegamos à conclusão de que a literatura oral, mais que qualquer outro universo de discurso, constrói-se na instabilidade discursiva. Tal fenômeno ocorre devido à fusão do imaginário popular com o racionalismo advindo do ordenamento social. Ao contrário do que se pensava, através da sintaxe discursiva podemos examinar não só os aspectos estruturais do texto mas sua relação com os valores subjetivos (ideológicos) evocados no acordo fiduciário entre enunciador e enunciatário. |
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Instituição de fomento: CNPq | ||
Palavras-chave: Literatura Oral; Semiótica; Identidade Cultural. | ||
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005 |