|
||
C. Ciências Biológicas - 3. Bioquímica - 6. Bioquímica | ||
NEUTRALIZAÇÃO DA INCOAGULABILIDADE SANGÜÍNEA E DA ATIVIDADE EDEMATOGÊNICA DA PEÇONHA DE Bothrops neuwiedi pauloensis PELO EXTRATO AQUOSO DE Schizolobium parahyba. | ||
Mirian Machado Mendes 1 (mirianmmendes@yahoo.com.br), Ricardo Bernardes Coelho 1, Johara Boldrini França 1, Daiana Silva Lopes 1, Amélia Hamaguchi 1, Maria Inês Homsi-Brandeburgo 1 e Veridiana de Melo Rodrigues Ávila 1 | ||
(1. Instituto de Genética e Bioquímica, Universidade Federal de Uberlândia-UFU) | ||
INTRODUÇÃO:
As peçonhas de serpentes são provavelmente as mais complexas de todas as peçonhas animais. Cerca de 90 a 95% de seu peso seco é constituído por proteínas. Apesar de serem raros os acidentes fatais pôr serpentes botrópicas, os casos se agravam muito devido à intensidade dos efeitos locais como dor, edema, necrose do tecido muscular e hemorragia local. O edema é caracterizado pela saída do plasma e infiltração celular, envolvendo a participação de mediadores endógenos (eicosanóides), ativação do fator de agregação plaquetária, liberação de histamina e serotonina. Os efeitos sistêmicos mais freqüentes são as alterações no sistema hemostático da vítima, destacando-se a coagulação sangüínea, uma vez que proteínas e peptídeos encontrados em peçonhas de serpentes são conhecidos por interferir em pontos da cascata de coagulação sangüínea. Quando administradas, “in vivo” causam efeito desfibrinogenante, tornando o sangue incoagulável por depletar o estoque de fibrinogênio, e assim podem ser utilizadas na medicina como agente antitrombótico, podendo até mesmo desfazer coágulos. Quando ensaiadas ”in vitro” apresentam ação procoagulante. O tratamento alternativo com uso de plantas medicinais é bastante estudado, visto que aproximadamente 25% de todas as drogas prescritas são de origem vegetal. Uma alternativa à soroterapia para neutralizar os efeitos lesivos das peçonhas é a busca na flora medicinal de princípios ativos de plantas, que muitas vezes a população de uma região já utiliza. |
||
METODOLOGIA:
A peçonha bruta utilizada neste trabalho foi da serpente Bothrops neuwiedi pauloensis. O extrato das folhas de Schizolobyum parahyba foi preparado com folhas recém coletadas que foram homogeneizadas com água deionizada por 15 minutos e filtrada posteriormente. O filtrado foi centrifugado a 30.000 x g por 20 minutos e o sobrenadante foi liofilizado e estocado a -20ºC. O extrato de folhas liofilizadas foi pesado e dissolvido em PBS para os experimentos. Foram utilizados camundongos da raça Swiss (30 gramas). A atividade edematogenica consistiu em aplicar as amostras na pata esquerda dos camundongos. No teste de incoagulabilidade as amostras foram administradas por via endovenosa. As atividades edematogênica e incoagulabilidade sangüínea foram realizadas usando a razão de 1:10 (m/m, peçonha:extrato) em duas condições: Pós-tratamento com o extrato vegetal após 15 minutos da injeção da peçonha e incubação por 30 minutos da peçonha e extrato vegetal à temperatura ambiente. Foram feitos também controles negativo com apenas extrato vegetal e controle positivo com apenas a peçonha bruta. Na atividade edematogênica foram utilizadas 10 ug da peçonha e o surgimento de edema na pata esquerda foi medido após 15 e 30minutos e 1, 2, 3 horas da inoculação das amostras. No teste de incoagulabilidade foi usada 0,5 DL50 (dose letal média) da peçonha após três horas os animais foram anestesiados e sacrificados e em seguida o sangue de cada um foi coletado por punção cardíaca. |
||
RESULTADOS:
A atividade edematogênica foi inibida significativamente em ambas as condições testadas, mas a melhor inibição obtida foi na condição de incubação por 30 minutos da peçonha com o extrato vegetal . A incoagulabilidade foi de modo semelhante inibida pelo extrato vegetal de Schizolobium parahyba nas condições testadas; mas apenas na condição de incubação foi conseguida inibição estatisticamente significativa. Os resultados obtidos foram submetidos ao teste de Kruskal-Wallis com significância de 0,05 utilizando o programa R language 1.9.1. |
||
CONCLUSÕES:
O tratamento de várias doenças e inclusive de acidentes com serpentes e outros animais ocorre desde os tempos primordiais com extratos, chás, infusões e cataplasmas obtidos de plantas. Apesar de não se conhecer os princípios pelos quais ocorria a cura. O pós-tratamento com o extrato vegetal buscou verificar a eficiência do extrato após o envenenamento e com esta condição de tratamento estaríamos representando de uma forma mais real as condições de um envenenamento e a incubação serviu para demosnstrar que há interação entre as proteínas da peçonha e os princípios ativos do extrato. Os ensaios mostram que o extrato de Schizolobium parahyba foi bastante eficiente em inibir as atividades testadas e sugerimos que esta inibição seja devido a ação de taninos que são compostos fenólicos solúveis em água que podem precipitar proteínas em soluções aquosas; sendo capazes de formar complexos não só com proteínas mas também com outras moléculas que possuem grupos carboxilas e aminas além de formar pontes de hidrogênio com macromoléculas susceptíveis a autoxidação. Os taninos também se complexam com íons metálicos (ferro, manganês, vanádio, cobre, alumínio, cálcio entre outros) que são essenciais para que algumas das proteínas existentes na peçonha estejam ativas. Concluiu se que o extrato vegetal aquoso de Schizolobium parahyba foi capaz de inibir as atividades testadas induzidas pela peçonha de Bothrops neuwiedi pauloensis. |
||
Instituição de fomento: CNPq e UFU | ||
Trabalho de Iniciação Científica | ||
Palavras-chave: neutralização; peçonha; extrato. | ||
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005 |