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G. Ciências Humanas - 4. Geografia - 1. Geografia Humana
OS CIRCUITOS ESPACIAIS DA PRODUÇÃO E OS CÍRCULOS DE COOPERAÇÃO NO ESPAÇO: O CASO DA CARCINICULTURA NA REGIÃO DO BAIXO JAGUARIBE
Sergiano de Lima Araújo 1 (sergiano_araujo@yahoo.com.br) e Denise Elias 1
(1. UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ)
INTRODUÇÃO:
O objetivo desse trabalho é contribuir para o debate acerca das transformações no espaço agrário cearense diante da inserção de pontos luminosos (M. Santos, 1996) na lógica da produção globalizada. Nessa análise, procuramos entender o movimento do capital no campo a partir de uma atividade econômica, no caso a carcinicultura na região do baixo Jaguaribe, onde a instalação de grandes empresas ligadas ao setor de beneficiamento e comercialização do camarão vem aprofundando a divisão territorial do trabalho e levando conseqüentemente, a uma maior especialização produtiva ( M. Santos, 2000) dessa região. Neste caso, o que observamos, na região do baixo Jaguaribe com o intenso processo de territorialização do capital monopolista é, um território compreendido como valor de uso sendo apropriado pelas empresas, instituições e pessoas. Dessa forma, para tentar apreender e desvendar o movimento do conjunto de novos eventos no território, ou seja, das novas situações geográficas, M. Santos (1986, 1996, 2001) nos propõe um olhar através da utilização do uso do conceito de circuitos espaciais da produção e os círculos de cooperação, como forma de entender toda dinâmica dos fluxos que perpassam o território, levando-nos, por sua vez, a uma maior compreensão do espaço em toda sua totalidade.
METODOLOGIA:
A metodologia utilizada para a realização dessa pesquisa centrou-se em quatro eixos: 1) revisão bibliográfica de caráter mais teórico e metodológico foi o passo inicial na execução dessa pesquisa, pois esta exigiu um aprofundamento que permitiu uma discussão teórico-conceitual sobre a questão da globalização e seu rebatimento no uso do território, como também uma compreensão mais sistemática da abordagem do processo de produção a partir dos circuitos espaciais da produção e os círculos de cooperação. A literatura sobre a temática, bem como as dissertações e teses, foram as bases para esse levantamento bibliográfico; 2) sistematização dos dados secundários já existentes sobre a carcinicultura; 3) visitas técnicas a diversas instituições do Estado e organizações não governamentais como: Secretaria de Agricultura (SEGRI), Banco do Nordeste do Brasil (BNB), Secretaria Estadual do Meio Ambiente (SEMACE), Secretaria de Comércio Exterior (SECEX), Instituto Terramar, Cáritas, Fórum de Defesa da Zona Costeira dentre outras; 4) realização de trabalhos de campo de forma sistemática na área de estudo.
RESULTADOS:
A partir desse estudo, descortinamos as inúmeras contradições sócio-espaciais que o modelo de desenvolvimento centrado no uso seletivo do território vem promovendo na região do Baixo Jaguaribe como: concentração de terras e de renda, pois somente duas grandes empresas (Cina e Compescal) regem, comandam e articulam, todo os circuitos produtivos da carcinicultura; grandes impactos sócio-ambientais já que as fazendas de camarão são construídas nas margens dos rios, lagoas e dunas, devastando extensas áreas de manguezais, acabando com um ambiente que sustenta mais de 70% das espécies marinhas, de peixes e crustáceos. A expansão da carcinicultura vem causando também, o desmatamento das matas ciliares, especialmente os carnaubais, destruindo a fonte de renda de centenas de famílias que sobrevivem da carnaúba, seja pelos frutos, pelas palhas, pela madeira; expropriação das comunidades pesqueiras tradicionais e trabalhadores rurais. Portanto, esse trabalho contribui no sentido de se compreender as inúmeras contradições e ambigüidades da modernização excludente da agropecuária cearense
CONCLUSÕES:
Quando estudamos o processo de reestruturação produtiva da agropecuária cearense dentro da lógica do agronegócio e, neste caso, analisando o acelerado desenvolvimento da carcinicultura na região do baixo Jaguaribe, fica evidente que a modernização em curso, fundada na empresarização do campo e na seletividade territorial, produz efeitos conhecidos por todos que estudamos o campo brasileiro por uma perspectiva crítica. O modelo em tela vem agravando a situação fundiária devido ao aquecimento do mercado de terras, já que imensas áreas passaram a ser comprada pelas empresas do setor, intensificando o êxodo rural, implicando consideravelmente a super exploração da força de trabalho, já que seu principal efeito neste setor é a produção do trabalhador assalariado temporário, que continuará marcado pelo excesso de trabalho, insuficiência de renda e precariedade institucional nas relações de trabalho.
Instituição de fomento: Fundaçâo Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FUNCAP)
Palavras-chave:  Globalização; Reestruturação Produtiva; Agronegócio.
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005