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H. Artes, Letras e Lingüística - 2. Letras - 3. Línguas Estrangeiras Modernas
O SENSÍVEL E O SONORO NA LINGUAGEM JAPONESA
LAURA TEY IWAKAMI 1 (Profª Drª / lauratey@uol.com.br)
(1. Mestrado em Lingüística Aplicada, Faculdade de Letras, Universidade Estadual do Ceará - UECE)
INTRODUÇÃO:
As peculiaridades da linguagem e cultura japonesas, já há muito, vêm suscitando um certo interesse no Ocidente, cuja cultura apresenta forte tradição enraizada no pensamento racional lógico-aristotélico. O tratamento holístico com a natureza e o homem, compreendidos no espaço físico, social e histórico, numa linguagem ativa, dinâmica e presente, podem ter despertado esse interesse, num momento em que se questiona a ênfase dada ao Absoluto pelo racionalismo clássico em busca da Essência e da Verdade .
Considerando que em cada sociedade haja uma identidade própria dos indivíduos em relação ao modo de percepção e de entendimento do mundo favorecendo a formação cultural e as formas próprias de expressão, nossa busca é pela compreensão de aspectos que teriam contribuído para a construção da cultura japonesa. O que nos interessa não é a descrição pura e simplesmente dos aspectos culturais, mas sim o modo como o homem japonês, sujeito que vive o seu mundo particular, próprio, percebe esse mundo e como essa percepção se expressa na linguagem japonesa.
Uma das características da cultura japonesa com a qual gostaríamos de nos deter é a “sensibilidade” ao externo. Especificamente procuramos enfocar o aspecto da sonoridade, incluindo a oralidade, como fator significativo na linguagem e cultura japonesa.
METODOLOGIA:
Nossa investigação consistiu em pesquisas bibliográficas sobre os primórdios da cultura japonesa, a entrada da escrita e cultura chinesa no Japão, o processo de construção e sistematização de uma escrita própria bem como o processo histórico de definição de uma cultura, percorrendo, assim, um caminho em busca de uma compreensão de como o homem japonês vai encontrando formas adaptativas ao seu meio ambiente, em busca de sua linguagem, suas expressões, seus símbolos.
Assim, as primeiras obras de grande porte produzidas no Japão, o Kojiki e o Nihon Shoki, ambas do séc. VIII, escritas em caracteres chineses,tornaram-se fontes fundamentais para nossa investigação, pois há relatos da época da pré-escrita, em que a oralidade se fazia presente através das lendas e mitos produzidos pela imaginação dos antigos, revelando os anseios, o pensamento e o sentimento do homem japonês nas explicações ou justificativas para a existência de suas terras, do seu povo, de suas divindades, da sua relação com a natureza. Além disso, passagens relatam o processo de entrada e aquisição da escrita chinesa pelos japoneses, revelando as dificuldades, ou melhor, as várias soluções que foram encontrando para adaptação à língua japonesa.
RESULTADOS:
As lendas e os mitos dos antigos habitantes das ilhas japonesas representam, na cultura japonesa, a tradição oral perpetuada desde o período da pré-escrita. Sabe-se também que muitas baladas e cantos populares, certamente transmitidos por camponeses de províncias japonesas, estão incorporados em relatos de Kojiki e Nihon Shoki. Formas poéticas como tanka, waka e mesmo o haiku são formas que se mantêm, desde os primórdios, na cultura japonesa contemporânea. O aspecto que nos importou não foi apenas identificar características próprias da oralidade nos registros escritos, ou as vozes registradas, mas, também perceber a sensibilidade ao sonoro como aspecto marcante na cultura japonesa. O som, então, se internaliza, se incorpora ao indivíduo, tornando-o sensível ao ouvir, escutar o som da natureza, do cotidiano, da presença, da existência. As onomatopéias japonesas, além de reproduzirem, de maneira particular, os sons do mundo físico, os giongo, há os sons que imitam (representam) estados, situações, os gitaigo e os sons que representam sentimentos. Sons como zarazara representando um estado de aspereza, como a parede áspera, ou o dondon para o andar ou modo apressado, fuwá- para a sensação de leveza, dokidoki para batida do coração, indicando estado de ansiedade e expectativa, são demonstrativos da percepção sonora, pois evocam também o próprio sentimento que o indivíduo manifesta em relação aos elementos com os quais está em contato.
CONCLUSÕES:
Desse modo, a sonoridade está presente, incorporado no homem japonês, que sente e pensa com o coração, percebe o externo, ouve e escuta o outro, o som, a voz, a natureza. O gosto pelo presente, o simplesmente estar e sentir, cultivando o natural, o simples, a harmonia nas formas e expressões, são sentimentos comuns dos japoneses, sentimentos que estão internalizados. Assim, nesse processo de percepção do mundo, também percebe a si mesmo, efetivando uma relação inter complementar eu/outro. Nessa interlocução está subjacente a ação de “ouvir” – escutar, de perceber a outra voz, o outro lado, o outro ser, o outro sujeito. Assim é que percebe e recebe as outras culturas, como recebeu a cultura e escrita chinesas, como também tem recebido e vem recebendo grandes influências de países estrangeiros e do Ocidente, não só pela característica japonesa de recepção de elementos externos, mas também agora facilitado pelo fenômeno da “globalização”.
Palavras-chave:  JAPÃO; ORALIDADE; PERCEPÇÃO SONORA.
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005