IMPRIMIR VOLTAR
F. Ciências Sociais Aplicadas - 12. Serviço Social - 7. Serviço Social
GÊNERO: O PLANTIO DO PODER DAS MULHERES NO CAMPO
Andréa Machado Camurça 1 (andreamcufc@yahoo.com.br) e Célia Chaves Gurgel do Amaral 1
(1. Depto. de Economia Doméstica, Universidade Federal do Ceará - UFC)
INTRODUÇÃO:
Atualmente, as áreas de assentamento constituem-se formas de organização fundiária que possibilitam o desenvolvimento sustentável, melhoria da qualidade de vida e diminuição do êxodo rural. A população assentada vem cobrando dos governos federal e estadual medidas específicas (geração de emprego e renda, saúde, lazer etc) a fim de garantir sua permanência em seu local de origem. No entanto, quaisquer políticas sociais precisam considerar as relações que se evidenciam nas diferentes situações de vida de homens e mulheres. A pesquisa procura mostrar indicadores de gênero a partir do enfoque de empoderamento nos espaços de produção e reprodução, vinculados à condição da mulher e sua participação e autonomia nos processos decisórios nos níveis econômico, político e social. A expressão indicadores de gênero tem sido utilizada para apontar a freqüência da inserção de mulheres em cargos de poder que geralmente são ocupados por homens e são consideradas como do “ser homem”. Neste estudo a expressão foi tratada como um dado sobre informações do cotidiano de homens e mulheres que possibilitam uma análise de seus comportamentos, atitudes e compreensão de significados das relações sociais nos assentamentos.
METODOLOGIA:
A pesquisa é um estudo de caso e foi desenvolvida em assentamento rurais acompanhados pelo Movimento dos Trabalhadores Sem Terra - MST. Estudar os assentamentos acompanhados pelo MST foi uma opção metodologia uma vez que é contemplada a questão de gênero na formação de assentados(as). A população foi formada por homens e mulheres a partir de 18 anos de idade. A amostra foi estratificada por sexo e idade com nível de confiança de 90% e limite de erro de 6%. A amostra foi escolhida em assentamentos de três micro-regiões do Estado - Sertão, Litoral e Serra. O instrumento enfoca aspectos da vida do homem e da mulher rural evidenciando as relações de produção e reprodução; a formação política e participação política e social; relação com o corpo, saúde reprodutiva e sexualidade. No assentamento Lagoa do Mineiro localizado no município de Itarema (micro-região litoral), foram entrevistadas 166 pessoas assentadas. No Sertão Central, o assentamento selecionado foi o 25 de Maio, localizado no município de Madalena (micro-região sertão) foram entrevistadas 343 pessoas. Na micro-região serrana foram entrevistadas 85 pessoas do assentamento 10 de Abril localizado no município de Crato.
RESULTADOS:
Para este estudo estão apresentados dado sobre as relações de produção e reprodução; a formação política e participação política e social de homens e mulheres dos três assentamentos da amostra. Observou-se que a maior parte das mulheres assume trabalhos tanto na roça quanto na casa. Assim, além de estarem presentes nos espaços sociais, como cooperativa, associação e sindicato, elas participam da produção e são maioria nas responsabilidade com o trabalho doméstico. Sua participação no espaço de produção, ainda é vista por seus companheiros como uma “ajuda” e o reconhecimento de seu trabalho ainda é insignificante. Um dado relevante relaciona-se a forma como os homens responderam quando foi perguntado com que freqüência (sempre, às vezes ou nunca) eles realizavam atividades inerentes a espaços privado e público. Quando a atividade relacionava-se ao espaço da casa, por exemplo, os homens respondiam ser aquela atividade “de mulher”, sem referência as opções de resposta, ou seja, “nunca”, “às vezes” ou “sempre”. Em alguns casos, eles demonstraram constrangimento quando perguntado se realizavam alguma atividade do espaço doméstico, tais como varrer, cozinhar ou arrumar a casa. No tocante à ocupação de cargos de direção e a ter acesso aos bens de produção, homens e mulheres, em sua maioria, afirmaram que ambos podem ocupá-los. Porém, algumas mulheres consideram que homem é que deve ter acesso aos bens de produção.
CONCLUSÕES:
O estudo mostra uma mulher rural atuante nos espaços produtivos, políticos e da casa, construindo referenciais de identidades no espaço público, o que colabora com a desconstrução da idéia de mundo centrado no referencial masculino e produz novas significações para o gênero feminino. A visibilidade e importância das atividades desenvolvidas pelas mulheres na produção rural formam um contraste diante das dificuldades enfrentadas por elas, geralmente sozinhas, nas atividades domésticas. A participação das mulheres nos diversos espaços sociais – políticos e econômicos - dos assentamentos mostra certo empoderamento da parte delas, o que vai colaborar na construção de indicadores de gênero sob esse enfoque. Observou-se que os homens reconhecem direitos das mulheres, mas eles ainda mantém uma concepção muito forte da separação dos espaços sociais – produção, reprodução e de participação política. Isso aparece na dimensão subjetiva e, portanto, é um desafio desenvolver um trabalho para combater essa postura. Na perspectiva de trabalhar as relações de gênero, é necessário empoderar homens e mulheres, buscando desconstruir seus papéis dicotomizados que hierarquiza o mundo. Tanto homens como mulheres devem se perceber como sujeitos ativos em todos os espaços sociais a fim de garantir a equidade entre sexos, raças e classes sociais.
Instituição de fomento: CNPq - UFC
Trabalho de Iniciação Científica
Palavras-chave:  Gênero; Empoderamento; Assentamento.
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005