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F. Ciências Sociais Aplicadas - 9. Comunicação - 2. Comunicação e Educação
O DISCURSO DA INCLUSÃO SOCIAL/RACIAL DE AFRODESCENDENTES NO AMBIENTE UNIVERSITÁRIO
VANESSA ALVES SANTANA 2 (xanessa8@hotmail.com) e MIRIAN DE ALBUQUERQUE AQUINO 1, 2
(1. Programa de Pós-Graduação em Educação Popular - PPGE; 2. Depto de Biblioteconomia e Documentação, Universidade Federal da Paraíba - UFPB)
INTRODUÇÃO:
Embora os discursos dominantes considerem que todos os indivíduos estão inseridos na sociedade da informação e conhecimento, considerada como democrática e multirracial, observa-se que a maioria da população brasileira ainda se encontra à margem dos direitos básicos, incluindo-se a educação. Tal situação é preocupante quando se consta que os dados do IBGE mostram 53,2% de alunos negros e pardos que estão fora do ensino fundamental, enquanto que os brancos correspondem a 46,4% dessa totalidade. No ensino médio, essa relação já cai para 43,9% entre negros e pardos e na educação superior a média é de 23,1%. Nos cursos de pós-graduação, a participação de negros e pardos chega a 17,6% enquanto os brancos alcançam em torno de 81,5%. (IBGE, 2000). Nessa construção do discurso, situam-se professores/professoras que, muitas vezes, se afastam da reflexão do conteúdo que deveriam transmitir na sala de aula para reproduzirem as informações empacotadas sobre a população negra, legitimando um discurso distorcido que vem se arrastando nas instituições educacionais, há muitas décadas. O que se observa é que, em todos os níveis de ensino, instaurou-se um discurso como uma prática sóciocultural com tendência a cristalizar formas particulares de verdade (FOUCAULT, 1999) que acaba restringindo a história dos africanos e seus descendentes a um evento que se limita a transmitir um conteúdo fragmentado e descontextualizado na educação.
METODOLOGIA:
O corpus para análise compõe-se de 30 entrevistas realizadas com docentes e discentes de cursos de graduação e pós-graduação da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Campus I- João Pessoa. Recorreu-se a procedimentos metodológicos que se ancoram numa abordagem discursiva com características etnográficas que possibilita compreender o discurso, as imagens e as práticas culturais sobre o outro que são construídas nos ambientes universitários, com o intento de revelar as contradições, descontinuidade, ditos e não-ditos. As contribuições da Análise do Discurso Francesa (PÊCHEUX, 1969); (ORLANDI, 1987, 1988, 2001), da Teoria do Discurso (FOUCAULT, 1989, 1979) e dos Estudos Culturais (COSTA, 2000) e da Ciência da Informação (GONZÁLEZ DE GOMEZ, 1999) serão tensionadas para dar suporte a categoria ampla “sociedade da informação e do conhecimento” e as categorias específicas “diversidade cultural”, “informação”, “discurso”, “inclusão social/racial”. Partiu-se da abordagem discursiva para compreender as condições de produção do discurso da inclusão social/racial de afrodescendente, observando-se o modo como a educação utiliza a linguagem para construir o “discurso fundador” (ORLANDI, 1990), no qual se mesclam os enunciados da instituição e os enunciados dos colonizadores, desconsiderando os processos discursivos que sustentam as diferentes condições de produção do discurso da inclusão social/racial sobre os afrodescendentes.
RESULTADOS:
Na análise de dados, 71,4% dos respondentes concordam que existe racismo na universidade, enquanto 28,6% negaram tal fato. Em relação ao sistema de cotas, 28% dos respondentes são favoráveis enquanto que 71,4% consideram que as cotas acentuam a desigualdade social. Como o foco de questões centrou-se na atual situação dos afrodescendentes nos ambientes universitários, 83% dos participantes apontaram para a educação como uma das formas de inclusão social/racial em seus diferentes níveis. Em relação aos meios de comunicação, 57,2% dos participantes concordaram que a mídia pode ser uma das aliadas no combate ao racismo conjuntamente com a educação e a participação e conscientização de todos os indivíduos, com vistas a melhoria da qualidade de cidadania, enquanto 42, 8% não acreditam que essa tecnologia possa atuar como uma das colaboradoras nessa questão.
CONCLUSÕES:
Na atual sociedade da informação e conhecimento, os discursos sobre a população negra ainda veiculam conteúdos que produzem informações distorcidas, gerando o preconceito, a discriminação e o racismo. O discurso da inclusão social/racial tende a manter uma linha de raciocínio em que se acredita que as crenças da sociedade acentuam e influenciam as práticas racistas. A educação deve constituir-se como um fator decisivo no que tange a inclusão social/racial de afrodescendentes e, além disso, os educadores precisam oferecer conteúdos que possam ajudar a fortalecer debates e reflexões sobre as diferentes culturas, a fim de que possam construir novos discursos sobre a população afrodescendente e a sua inegável contribuição à sociedade brasileira.
Instituição de fomento: PIBIC/CNPq/UFPB
Trabalho de Iniciação Científica
Palavras-chave:  Discurso de Inclusão Social/Racial; Afrodescendente; Diversidade Cultural.
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005