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G. Ciências Humanas - 5. História - 9. História Social | ||
FESTAS DE SANTO NO MARANHÃO DA DÉCADA DE 40 DO SÉCULO XX | ||
Antonio Evaldo Almeida Barros 1 (eusouevaldo@yahoo.com.br), José Lira do Nascimento Júnior 1, Mirlane Mendes Silva 1, Daniela Vieira dos Santos 1, Djalda Maracira Castelo Branco Muniz 1 e Maria da Glória Guimarães Correia 1 | ||
(1. Depto. de História, Universidade Federal do Maranhão - UFMA.) | ||
INTRODUÇÃO:
As festas de santo no Maranhão da década de 40 do século XX mostram uma pluralidade de dimensões da sociedade maranhense. Tais festas parecem oscilar entre dois pólos: de um lado a cerimônia (como forma exterior e regular de um culto) e, de outro, a festividade (como demonstração de alegria e regozijo). As festas se distinguem dos ritos cotidianos por sua amplitude e do mero divertimento pela diversidade. As festas também podem ser lidas como atos surpreendentes e imprevisíveis. As festas de santo foram introduzidas no Maranhão e no Brasil pela catequese jesuítica no período colonial. No século XIX, a realização de tais festas foi incentivada pelas irmandades religiosas católicas. Essas festas são mais que um momento, revelam aspirações e realizações do maranhense, inter-relacionando-se com sua história e com seus mitos. Um de nossos desafios tem sido o de notar se as festas de santo estão diluindo, cristalizando, celebrando, ironizando ou ritualizando a experiência social maranhense. Desse modo, pressupondo que as festas consubstanciam elemento basilar para se compreender a mentalidade popular, ultrapassando o tempo cotidiano, sendo fatos sociais totais na perspectiva maussiana, temos analisado uma multiplicidade de festas de santos que embebem a sociedade maranhense no período recortado, enfocando de modo particular as festas de São Benedito que eram realizadas em diversas cidades do Estado e a festa de São José realizada na cidade de Ribamar. |
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METODOLOGIA:
Tem sido fundamental em nossa pesquisa, o exercício de uma análise interdisciplinar, trabalhando com bibliografia da antropologia e da história, além da comunicação. Nosso olhar tem se direcionado para a percepção de possíveis permanências e rupturas no processo histórico no âmbito da temática aqui desenvolvida. De modo geral, utilizamos como fontes: jornais e literatura. A pesquisa arquivística tem sido de fundamental importância. Pressupomos que toda e qualquer fonte de pesquisa é produto social, refletindo, desse modo, posição de grupos específicos. |
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RESULTADOS:
As festas de santo no Maranhão do período em foco compõem um conjunto vastíssimo e variado de expressão de religiosidade e cultura popular. Uma multiplicidade de santos era festejada. Contudo, as festas de São José de Ribamar e de São Benedito constituem-se como espaços privilegiados para notarmos os variados modos de como os populares se expressavam. A devoção a São Benedito, o santo da gente de cor, como diziam os contemporâneos, era lida pelos clérigos como um culto tradicional realizado pelo povo maranhense, contrariando o fetichismo originário de africanos e índios, que seria a macumba e o tambor de mina, manifestações dos terreiros. Apesar disso, notamos que muitas festas a São Benedito eram realizadas, sobretudo por negros e mestiços, e naqueles terreiros. Os registros escritos costumavam dividir aquelas festas em dois grandes momentos: os festejos internos (rezas, missas, sermões, ladainhas, alvoradas e congêneres) e os festejos externos (arraial, bailes, barracas, botequins, quermesses, restaurantes, bares, armarinhos, jogos, leilões, fogos de artifícios, etc.). Embora em outras festas houvesse a presença de diversas classes sociais (as pessoas estariam indiferenciadas) e sinais de violência, na festa de São José de Ribamar, em particular, isso se intensifica de modo gritante. A cidade de Ribamar que no seu dia-a-dia seria extremamente pacata, quando se aproximavam os dias da festa transformar-se-ia num centro de religiosidade e de diversões de toda sorte. |
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CONCLUSÕES:
É difícil calcular a quantidade de peregrinações e romarias ou mesmo viagens em que pessoas individualmente iam seja cumprir promessas seja rever familiares por ocasião daquelas festas. Contudo, não eram poucas. Nas festas de santos analisadas, as fontes fazem referência a gente que vinha de outros povoados, de outras cidades ou até mesmo de outros Estados. O que essas pessoas buscavam? O que as movia? Certamente, não era só a crença, a fé, mas também isso. Certamente, não eram só os bailes, a diversão, mas também isso. Elas se dirigiam para aquelas festas em automóveis, ônibus, caminhões, barcos, canoas, a pés, importava estar nelas presentes. Muitos fariam economias durante longo tempo para não faltar-lhes dinheiro no curso dos folguedos. Outros ficariam sacrificados por pesadas dívidas. A dimensão da rentabilidade e da organização imposta pelo ocidente industrializado era quebrada pelos festeiros. Não percebemos uma separação antitética entre os espaços sagrado e profano, eles eram interativos: seguramente os cantos, hinos e preces internos misturavam-se com a zoada, desordem e bebedeira externos. À espera dessas festas, já havia muita animação, a espera alimentava a exaltação. O fato é que, em terras do Maranhão, em meados do século XX, havia uma rede de manifestações de cultura e religiosidade popular que perpassava o espaço e o tempo maranhenses, sendo as festas de santo um de seus pontos de parada e revitalização. |
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Trabalho de Iniciação Científica | ||
Palavras-chave: Festas de santo; cultura e religiosidade popular; História do Maranhão (1940-1949). | ||
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005 |