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H. Artes, Letras e Lingüística - 4. Lingüística - 6. Lingüística
O TRATAMENTO DA COMPREENSÃO E SUA RELAÇÃO COM OS GÊNEROS TEXTUAIS NOS LIVROS DIDÁTICOS DE 5ª A 8ª SÉRIE.
Cleidson Jacinto de Freitas 1 (cjambinho@yahoo.com.br), Ionah Soraia Cardoso 1, Mariana de Souza Figueiroa 1, Roberta Lira dos Santos 1 e Sarah Catão de Lucena 1
(1. Departamento de Letras, Universidade Federal de Pernambuco - UFPE)
INTRODUÇÃO:
Partindo do pressuposto teórico de que os gêneros textuais “são instrumentos de adaptação e participação na vida social e comunicativa” ;(BRONCKART), consideramos o tratamento dado à compreensão como fator sine qua non para um trabalho proficiente com gêneros. Por essa abordagem indagamos : o que é ensinado quando se ensina compreensão em um livro didático de português.
METODOLOGIA:
Hoje existe a consciência de que o ato de compreender é concebido como o ato de inferir, e não um simples ato de decodificar, que concebe a língua como um código, e o texto como um repositório de informações. Assim, almejando averiguar a validade do livro didático, no que diz respeito ao tratamento dado à compreensão , foram observadas as atividades propostas nos livros didáticos das coleções Nossa Palavra (Ática) e Português Paratodos (Scipione), e, posteriormente, foram colhidos exemplos para demonstrar que tipos de perguntas, referentes à compreensão, aparecem nos livros didáticos do Ensino Fundamental. Os exemplos foram elencados de acordo com a classificação produzida por Marcuschi (1999), apresentada no texto: O livro didático da Língua Portuguesa em questão: o caso da compreensão de texto. A tipologia adotada foi feita a partir da separação das atividades por grupos, classificados como: questões de cópia, objetivas, subjetivas, metalingüísticas, globais, inferenciais e as chamadas “vale-tudo”. Após a separação por tipos, foram analisadas as visões de língua e de texto que permeiam as atividades, como também a visão de compreensão encontrada nos livros.
RESULTADOS:
Tendo em vista a noção de língua como uma atividade sócio-interativa e cognitiva, defendemos que não se pode limitar a atividade de compreensão a uma mera decodificação, tolhendo, assim, aspectos lingüísticos, pragmáticos e cognitivos.Numa análise global das duas coleções nota-se, no entanto, que as atividades propostas são, em sua maioria, atividades de extração de informações pontuais, normalmente encontradas em questões como as de cópia, as objetivas e as metalingüísticas. Nelas, não há construção de sentidos, pois o texto é trabalhado como um sistema fechado em si. As atividades não são reflexivas, apresentando uma padronização na abordagem: não tentam trabalhar com o pensamento crítico, reflexivo e com a capacidade do aluno de inferir.A coleção Nossa Palavra aborda os gêneros textuais como pretexto para trabalhar a gramática.Assim, observa-se que a coleção se mostra ainda presa a uma concepção estruturalista de texto e de língua. Já a coleção Português Paratodos traz uma maior variedade de gêneros textuais e um maior número de atividades que levam o aluno a refletir e a operar inferências. Contudo, percebe-se apenas uma quantidade muito grande de atividades que pede apenas que o aluno encontre e copie do texto informações, sem necessitar refletir ou inferir. Apesar de tentar trabalhar com uma perspectiva de língua mais atual, a coleção Português Paratodos contém ainda uma herança estruturalista na forma de tratar a compreensão.
CONCLUSÕES:
Retornando à indagação inicial, observamos que apesar de os livros didáticos analisados neste trabalho serem atuais e contemplarem vários gêneros textuais, a maioria das atividades foi elaborada segundo uma perspectiva estruturalista de língua. Não se quer dizer com isso que elas sejam irrelevantes, porém não se adaptam aos atuais estudos sobre a compreensão dentro de uma visão sócio-interacionista de língua, segundo a qual a língua é uma atividade cognitiva, interativa, contextualizada e historicamente situada. A partir dessa perspectiva, o trabalho de compreensão vai exigir não apenas aspectos cognitivos e lingüísticos, como também a percepção das variantes sociais, culturais e históricas nas quais os gêneros textuais ocorrem.Acreditamos que a percepção da compreensão como uma atividade de cunho sócio-interativo e cognitivo aliado à noção de gênero como prática social resulta na formação de leitores de textos e de mundos.
Palavras-chave:  Gêneros Textuais; Livros Didáticos de Português; Práticas Sociais.
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005