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G. Ciências Humanas - 8. Psicologia - 1. Gerontologia
QUANDO A MORTE CHEGA: O CAMINHO DO ENFRENTAMENTO
Maria Edna de Araújo Lima 1, Shandra Carmen Sales de Aguiar 2 e Francisco Jorge Hilo Amora Sales 2
(1. CEDEFAM-Pró-Reitoria de Extensão, Universidade Federal do Ceara-UFC; 2. Curso de Mestrado em Saúde Pública, Universidade Estadual do Ceará-UECE)
INTRODUÇÃO:
Cada indivíduo carrega dentro de si uma morte, uma representação da morte, mas sua existência é única, individual, particular, o que significa dizer que apreende o mundo a partir da troca de experiências com os outros. São idéias, pensamentos, conceitos, conteúdos assimilados da percepção e da reflexão do que acontece a cada um e a todos no registro do que chamamos vida. O registro é uma representação, que comporta significado, símbolos, e se expressa, no individuo, no social, e daí vem o termo Representação Social, que é a organização de imagens e linguagens, porque ela realça e simboliza atos e situações que não são o que nos torna comuns. As representações distinguem-se quanto às culturas, classes sociais, aos grupos, enfim passeiam ante a diversidade das individualidades e dos grupos sociais. A morte é um fato natural, assim como o nascimento, a sexualidade, o riso, a fome ou a sede. Não depende da idade, nem situação econômica da pessoa. Mas, mesmo sendo natural e inevitável, parece não ser fácil chegar-se a uma definição sobre o termo principalmente quando “vários olhares” o buscam. A morte constitui um tema controvertido. Não apenas o significado, vulgarmente representado pela extinção do homem. Mas o próprio conceito da morte é causa de profundas divergências desde a filosofia até a medicina, passando pelo direito, que se equilibra entre ambas para conseguir tutelar juridicamente a vida e impedir o progressivo e perigoso desaparecimento do ser.
METODOLOGIA:
A metodologia utilizada foi a pesquisa qualitativa onde se buscou no discurso dos entrevistados, encontrar significados, representações sociais, sobre o tema em questão – MORTE. Representações sociais, na visão de Moscovici, que embasa a pesquisa, são conceitos, afirmações e explicitação que traduzem o senso comum, que assim adquire a característica de “ciências coletivas sui generis”, culminando na interpretação e construção das realidades sociais. O cenário da pesquisa se fez durante um Encontro para a 3ª Idade, na cidade de Fortaleza, quando todos os entrevistados estavam na condição de participantes.
Os 9 (nove) informantes, 03 (três) homens e 06 (seis) mulheres, na faixa de idade entre 70 (setenta) e 85 (oitenta e cinco) anos, aposentados e participantes de grupos de 3ª idade, moradores na maioria, da capital e alguns do interior. Aqui aparecem com nomes bíblicos para a preservação de suas identidades. Os mesmos foram escolhidos aleatoriamente.
Para a obtenção dos dados foi feito entrevista (gravada) com questões abertas, em número de 04 (quatro) incluindo resumo de vida e mais diretamente o tema em estudo, morte.
A análise dos dados (qualitativa) foi feita a partir da fala dos entrevistados, fala que expressa o conteúdo de onde se extraiu as representações.
RESULTADOS:
Encontrar categorias, representações no discurso dos entrevistados, permite diferenciar, quando a característica individual se apresenta, e de outro modo referendar o que já é senso comum, o que é das “realidades sociais”. Categorias trabalhadas: A morte como uma certeza: “Eu sei que um dia eu morro que quando a gente nasce a gente já traz o dia de voltar... eu sou ciente que um dia eu vou; .” A morte está no arbítrio de Deus : no dia que Deus quiser me levar de volta estou pronta, tenho certeza.” Deus dá conformação para a morte : “Iam visitar minha mulher no hospital e se admiravam: - O senhor tem muita força! – “e eu dizia, graças a Deus, porque peço muita força e ele me dá; suportei tudo; com oito dias que ela morreu, um filho morreu enforcado e agüentei tudo, graças a Deus ele me deu forças e eu resisti”. A morte é o fim de tudo: “Pois é minha filha, a morte... se a gente pudesse a gente não morria. Minha mãe dizia que com a morte acaba tudo, eu acho que sim”. A vida eterna é que é vida: “Ser forte, acreditar que a vida continua; não pode todo mundo morrer, porque se não o mundo não existia mais, tem que ser forte e acreditar. Quem crê em Deus, a vida é uma passagem, a vida eterna é que é vida”. Eternidade: um sonho: “Eu às vezes não quero pensar, mas a gente tem que pensar... né?” Por que eu acho assim, se a gente tivesse a vida para sempre, ih! Como era legal, se a gente não morresse!
CONCLUSÕES:
A morte aparece como uma instância muito particular, íntima, privada; a sua abrangência fica restrita ao âmbito puramente familiar, visto que quando a ela se referem os entrevistados, é sempre em relação a pais, filhos e parentes próximos. Quando ela chega, traz tristeza, dor. É uma certeza, é esperada, porém não desejada. Apresenta-se mais como um fim, quando tudo se acaba. Enfrentar a morte, suportar a dor da perda, só mesmo contando com uma força para além de si mesmo, nesse plano surge Jesus Cristo, Deus, que conforta, dá força.
A sensação que fica é de uma pobre morte, sem um vivenciar que permita falar sobre ela, de alguma forma partilhar com os outros.
A morte “tira” o ser de seu estado, de uma condição, de uma dimensão, e o leva para outra, que, no entanto, não é possível vislumbrar, nela entrar e voltar para a dimensão de antes. A transcendência ainda é um caminho pouco trilhado, não confirmado, nem referendado pela ciência, segue a linha do inexplicável, místico.
Conquistar a dimensão da espiritualidade, talvez seja o caminho para colocar vida e a morte no portal da transcendência.
Trabalho de Iniciação Científica
Palavras-chave:  Representação Social; Envelhecimento e Morte; Velhice e Sociedade.
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005