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H. Artes, Letras e Lingüística - 3. Literatura - 2. Literatura Comparada | ||
RITMO, CANÇÃO E POEMAS: TROVAS, CORDÉIS E MARTELO | ||
ELIZANGELA GONÇALVES PINHEIRO 1 (eliangelus@ig.com.br) | ||
(1. UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS) | ||
INTRODUÇÃO:
O trabalho aqui resumido é recorte da Dissertação de Mestrado. O que se pretende é fazer um paralelo entre as vozes e o ritmo dos cordéis Um pouco de tudo dá poesia matuta , de José Costa Leite; Inferno , de José Dias Pinto; com as canções “O pedido”, “O violeiro”, de Elomar Figueira de Melo; com “Cana-fita” (um canto de trabalho) e o martelo pernambucano “Esperança” - os dois últimos são da tradição popular. O objetivo é pôr em evidência alguns aspectos de aproximação entre os poemas e as canções. Aproximações calcadas na variação do ritmo que as músicas trouxeram ao longo dos tempos e que foram capazes de influenciar outras artes, como a poesia. Na ótica de Mário de Andrade (1963), a música popular é dotada de ritmos aparentemente simples, mas impregnado de conceitos por parte dos compositores e de influências várias, em se tratando de um país miscigenado e rico de imigrantes e de culturas. O cruzamento de vozes aqui apresentado não se refere à perspectiva de polifonia estudada por Bakhtin (2002), mas, sim, às concepções que Mário de Andrade investigou na música popular brasileira. A relevância deste trabalho diz respeito à urgência de se tomar consciência das fontes legítimas em relação ao comportamento artístico da estética disciplinada, insubversível, livre e sobretudo legítima. Assim, “o indivíduo poderá retornar ao humano, porque o humano, na arte verdadeira, é fatalidade” (ANDRADE, 1972). |
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METODOLOGIA:
A investigação propõe inicialmente uma leitura comparativa dos cordéis e das canções Um pouco de tudo dá poesia matuta , de José Costa Leite, com as canções “O pedido” e “O violeiro”, de Elomar Figueira de Melo; Inferno , de José Dias Pinto, com “Cana-fita” (da tradição popular), juntamente com o martelo pernambucano, “Esperança” (também da tradição popular). Os pressupostos de música e canções, aqui apresentados, foram sob a perspectiva de Andrade (1963, 65,72 e 76), Daghlian (org) (1985), Staiger (1997), Massini (1992) e Proença (1955). Nomeou-se como objeto de análise, dos poemas e das canções, a temática, o conteúdo e a forma. Se por um lado o cordel e as trovas são marcadas pela retórica enfática e burilada, por outro, as canções populares são marcadas pela economia e freqüência das peças curtas em dois movimentos, resgatando formas e respeitando o populário das diferenças que mesclam a cultura brasileira, tais como o côco, a modinha, o cateretê e o martelo. Um aspecto que se tomou como ponto de partida foi o fato de todos retratarem de forma singela a épica cotidiana, um clamor que ora sai do coletivo para o individual, ora do individual para o coletivo. |
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RESULTADOS:
O estudo comparativo entre as trovas, cordéis e canções incorpora e desenvolve a temática do sertanejo, de forma a sinalizar a vida, quer seja no trabalho, quer seja nos fatos e fados do destino de cada um - sobretudo, quando a repetição é contundente e clamorosa, isto é, um simples pedido advoga em prol das coisas simples e básicas da vida. A “quixaba”, por exemplo, sinaliza não a mera resignação, mas algo forte que supera a falta e a fome, algo como o de “cumê” do “cabra-da-peste”. A simplicidade está na maneira de viver como também está nas formas simples das síncopas, que remetem ao coco, um jeito caboclo de musicar e improvisar os feitos da vida corriqueira. Às vezes, lembrando as bandas de além mar; portugueses, africanos e outros, assim como os ameríndios. Enriquecendo sempre nos surtos de improvisação o nosso folclore e nossa cultura. Porque, conforme Andrade (1963), foi no “momento de improvisação” que se percebeu o toque de genialidade de músicos grandiosos como Bach, Mozart e Beethoven. |
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CONCLUSÕES:
A partir dessas constatações é possível concluir que a forma como os sertanejos improvisam versos e melodias são calcadas numa tradição popular sim, não no sentido vazio de conteúdo, mas de genialidade espontânea no momento de improvisação de cada palavra e de cada som. É algo que vem de dentro, da alma, que se herdou durante gerações e gerações dos inúmeros povos que aqui habitaram e mesclaram suas culturas durante todo o processo de aculturação que passamos. Se a poesia de cordel tende a um ritmo preciso, calcado nos versos de sete, oito ou dez sílabas, geralmente, isossilábicos, as canções populares, sobretudo o martelo, são refrões com metro mais curto. |
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Palavras-chave: cordel; música; popular. | ||
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005 |