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G. Ciências Humanas - 5. História - 9. História Social | ||
OS CARDÁPIOS E AS REFEIÇÕES EM LOCAIS PÚBLICOS E A CONSEQUENTE ALTERAÇÃO DOS HÁBITOS ALIMENTARES DA SOCIEDADE FLUMINENSE NO FIM DO SÉCULO XIX | ||
Marcus Vinicius da Rocha Ribeiro 1 (marcuskael@yahoo.com.br) | ||
(1. Inst.de Filosofia e Ciências Humanas, Univer. do Estado do Rio de Janeiro - UERJ) | ||
INTRODUÇÃO:
O projeto de pesquisa teve como objetivo verificar como e em que medida os anúncios dos jornais podem servir como fonte para a história social da alimentação no Rio de Janeiro na segunda metade do século XIX. Interessa-nos, aqui, apenas a analise do espaço público, da produção e consumo de alimentos, ou seja, confeitarias, cafés, botequins, restaurantes, casas de pasto, hotéis e pensões que, gradativamente, passam a oferecer um serviço gastronômico mais variado e, por vezes, de melhor qualidade à população fluminense cujo público aumentava e se diversificava com a chegada cada vez maior de imigrantes europeus que passavam a oferecer um novo serviço no centro da corte brasileira, uma culinária mais sofisticada a uma população que estava buscando civilizar-se. Os jornais eram o principal meio de propaganda de produtos e de serviços, inclusive os ligados à culinária e a gastronomia, portanto, como fonte, os anúncios se impõem como uma leitura obrigatória para a história social da alimentação não só pela riqueza de informações como por refletir o mercado da época e suas oscilações em função da oferta e procura por bens e serviços, espelhando de forma bastante fidedigna o cotidiano da alimentação da sociedade fluminense. |
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METODOLOGIA:
Os jornais eram o principal meio de propaganda de produtos e de serviços, inclusive os ligados à culinária e a gastronomia. A seção de anúncios além de rica e variada, ocupa uma parte importante e significativa dos jornais tendo sua abrangência crescido no decorrer do século XIX. A sua leitura atraia cada vez mais leitores em busca dos mais diversos serviços, como o que buscamos pesquisar, o relacionado à alimentação. A escolha pelo Jornal do Commercio se deu não apenas pela sua abrangência territorial e sua significativa tiragem, mas, principalmente, por possuir em suas folhas anúncios relevantes a pesquisa, alem de sua maior existência em todo o Império. A pesquisa baseou-se na consulta desta fonte primária buscando relacionar as mudanças no cotidiano das refeições dos fluminenses com a maior incidência de anúncios referentes aos menus e horários das refeições oferecidas pelos estabelecimentos públicos. Optamos pelo trabalho de amostragem, compreendendo o período de 1860 a 1880, selecionando os sábados e domingos dos meses de janeiro e julho, com intervalo de dez anos, com o intuito de conseguir captar as mudanças ocorridas nos hábitos alimentares da sociedade da corte brasileira. |
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RESULTADOS:
Pudemos constatar que, em 1860, as três principais refeições realizadas na rua eram o almoço, por volta das sete horas da manhã, constituído de café ou chá, pão e manteiga; o jantar, consumido ao meio dia consistia em dois ou três pratos, pão e sobremesa, enquanto a ceia, no final da tarde, por volta de cinco horas, era semelhante ao almoço. A década de 60 é marcada por cardápios simples, onde a refeição principal oferecida pelos estabelecimentos era o sarrabulho à portuguesa. Na década posterior uma nova refeição passa a ser oferecida, mais substancial, por volta das onze horas, o “almoço de garfo”, constituído de dois pratos, pão e café, retardando o jantar, introduzindo-se uma refeição no meio da tarde, o lanche, composto de chá e biscoitos, deslocando a ceia para a noite, por volta das sete horas da noite. A década de 70 apresenta uma maior diversificação dos pratos oferecidos como massas e sopas, provavelmente para atender um mercado mais exigente. Na década de 80 podemos perceber que os hábitos já haviam se alterado efetivamente, verificamos a ocorrência de vários restaurantes oferecendo refeições ate às dez horas da noite, devido a mudanças da infra-estrutura da cidade como a iluminação a gás, que permitiu um maior fluxo de pessoas durante a noite. Quanto aos menus, os locais públicos disponibilizavam uma gama enorme de pratos e cozinheiros estrangeiros ao gosto do freguês. |
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CONCLUSÕES:
Concluindo, podemos afirmar que, o preparo de alimentos “para fora”, inicialmente de doces, e posteriormente pratos salgados, fornecidos pelas pensões, para o comércio, para os profissionais liberais e todos aqueles que não podiam ou preferiam não cozinhar em casa, sobretudo os homens solteiros, era uma atividade que florescia. À proporção que ocorria o aumento do número de pensões, casas de pasto e restaurantes espalhados pela cidade, crescia também a demanda por pessoal especializado para atender este mercado, negros ou homens livres. Uma das características mais marcantes deste mercado de alimentação era a sua não especialização, podendo uma confeitaria vender o mesmo que uma casa de pasto, e que a oferta generalizada de refeições refletia a grande demanda da população que comia na rua, mas que, também, comprava para levar para casa. Percebemos que aos poucos, o Rio de Janeiro se tornava um mercado consumidor variado e competitivo, com novos hábitos de trabalho e onde começava a se impor um novo tipo de mentalidade empresarial, a do patrão desejoso de lucro e que para atrair uma clientela fiel não vacilava em oferecer um produto de qualidade para tender um consumidor não somente mais rico e exigente, mas também ocupado, sem tempo de comer em casa, e que não hesitava em pagar mais para consumir um produto de alta qualidade. |
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Instituição de fomento: Universidade do Estado do Rio de Janeiro | ||
Trabalho de Iniciação Científica | ||
Palavras-chave: História Social da Alimentação; Rio de Janeiro Século XIX; Alteração de Hábitos Alimentares. | ||
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005 |