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F. Ciências Sociais Aplicadas - 9. Comunicação - 8. Comunicação | ||
“CANÇÃO NOVA”: RELIGIÃO, MÍDIA E CONSUMO | ||
Edilson S. Pereira 1, 2 (edjornalismo@yahoo.com.br) e Alice Inês de Oliveira e Silva 2 | ||
(1. Depto. de Artes e Humanidades, Universidade Federal de Viçosa; 2. Núcleo Interdisciplinar de Estudos de Gênero, Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes - UFV) | ||
INTRODUÇÃO:
A história da comunidade religiosa Canção Nova reflete as transformações culturais correntes em nossa sociedade. Como uma das principais representantes da Renovação Carismática Católica (de forte inclinação para os assuntos de fórum íntimo, para a emotividade, e para a busca de uma “experiência” com o Espírito Santo), ela reúne traços de igrejas concorrentes do mercado de bens de salvação – pois, embora as igrejas neopentecostais e o movimento carismático sejam marcados por diferenças significativas, entre si, de visão de mundo, há uma grande aproximação entre elas pelo uso intensivo comum que fazem dos meios de comunicação para a “evangelização de massa”. Os objetivos deste trabalho são: analisar o campo religioso brasileiro contemporâneo, sob a perspectiva da Renovação Carismática Católica; analisar a produção da mídia religiosa, inserida no campo da “indústria cultural”; e analisar a inserção da Canção Nova na lógica midiática de comercialização de bens simbólicos. A relevância desta pesquisa se evidencia na medida em que as transformações tecno-sociais que a mídia religiosa engloba são parte integrante do processo de formação de identidade dos sujeitos-sociais contemporâneos, revelando-se como problemáticas importantes de análise para as Ciências Sociais e, em especial, para a Comunicação. |
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METODOLOGIA:
Primeiramente, nossas incursões teórico-metodológicas sobre o campo religioso nos impuseram a necessidade de uma revisão bibliográfico-histórica sobre a Renovação Carismática no universo da Igreja Católica do Brasil, bem como sobre a história da Comunidade Canção Nova. Também nos propusemos à revisão bibliográfica sobre a lógica comercial de produção de bens simbólicos/religiosos inserida no pensamento de autores como Weber, Adorno, Horkheimer e Debord. Foram realizadas entrevistas informais com membros da Comunidade, localizados na cidade de Cachoeira Paulista, além da observação participante na própria Canção Nova. Para fins de análise e como fonte de evidências da inserção da Canção Nova numa lógica de mercado, consultamos os sítio www.cancaonova.com, o canal “TV Canção Nova” e seus programas religiosos, e obras impressas de autoria de membros, sobretudo dos fundadores, da Comunidade em questão. A escolha por estes meios específicos se fez devido à acessibilidade de tais mídias para a equipe pesquisadora. |
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RESULTADOS:
Os resultados obtidos foram: Primeiro, a proximidade entre a da Renovação Carismática Católica e outros grupos neopentecostalistas, que existe (além da prática midiática já pressuposta) particularmente em relação à origem histórica deste “movimento” católico. Em suas primeiras experiências nos anos 1960, nos Estados Unidos, ocorreram participações de pastores evangélicos nos grupos de oração católicos. Porém, foi através de alguns padres que o Movimento Carismático Católico foi trazido para o Brasil. Este, a partir da década de 1970, aparece como alternativa à religiosidade da Teologia da Libertação, que sofreu grande recusa por parte da alta hierarquia da instituição. Segundo, a relação entre a utilização dos meios de comunicação de massa e a religião é uma das bases para a formação de identidade da própria Canção Nova, com sede em Cachoeira Paulista. O documento “Evangelização do mundo contemporâneo” publicado pelo papa Paulo VI, em 1975, foi tomado pelos fundadores da Comunidade como uma orientação para o novo modo de evangelização a ser feito. Terceiro, utilizando a religiosidade midiática, a Canção Nova consegue alcançar um público mais amplo e diversificado. Inserindo-se nas mídias com amplo desenvolvimento produtivo comercial, ela assemelha-se às empresas midiáticas já consolidadas. Pois, por um lado, reforça a “indústria cultural” em nossa sociedade, e de outro lado, colabora com uma estruturação da produção de bens de salvação que seguem uma lógica de mercado. |
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CONCLUSÕES:
Enquanto produto cultural, a religião está intimamente ligada a múltiplos contextos, entre eles políticos e sociais. Na sociedade simbolicamente mediada pelos produtos da “indústria cultural”, de acordo com Theodor W. Adorno e Max Horkheimer – a mesma considerada como a do “espetáculo”, por Guy Debord –, a religião aproxima/adapta-se a esses “novos” modos de organização e interação social. Assim, a prática midiática da Comunidade Carismática Católica Canção Nova se justifica na medida em que ela pretende aumentar o seu número de fiéis-consumidores, seja para o consumo de bens simbólicos ou materiais, como livros, CD’s, camisetas etc. No que diz respeito à concorrência com outras empresas de bens de salvação, e de acordo com Lemuel Guerra (2003), observamos que os produtos religiosos (de diferentes igrejas) que se destinam a um mesmo público-alvo tendem a responder a um mesmo conjunto de demandas dos fiéis, ou seja, os produtos tendem à padronização. Diante disso, para diferenciar-se das demais empresas de bens de salvação, a Canção Nova produz discursos amplamente voltados para os “benefícios” que a igreja católica pode gerar. Por fim, percebemos que a Comunidade interpreta que o “sucesso da empresa”, como afirma o padre fundador da obra, Jonas Abib (2003), depende da responsabilidade e do trabalho de seus fiéis “operários”. |
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Palavras-chave: mídia religiosa; Canção Nova; indústria cultural. | ||
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005 |