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G. Ciências Humanas - 8. Psicologia - 8. Psicologia do Trabalho e Organizacional | ||
ATRAVESSAMENTOS DAS POLÍTICAS DE SAÚDE PÚBLICA EM SAÚDE DO TRABALHADOR | ||
Marilene Affonso Romualdo Verthein 1 (ggp@vm.uff.br) | ||
(1. Departamento de Psicologia, Universidade Federal Fluminense) | ||
INTRODUÇÃO:
Esta pesquisa faz parte do projeto Traçados e rupturas da produção do silêncio em saúde, desenvolvido no Departamento de Psicologia, da Universidade Federal Fluminense. Visa analisar os atravessamentos das Políticas de Saúde Pública em Saúde do Trabalhador problematizando a prática da instituição do ser-doente-do-trabalho, tomando como referência as Lesões por Esforços Repetitivos. Colocamos como objeto de analise os discursos neuropsiquiátricos sobre as “mulheres nervosas” provenientes de teses de alunos da Faculdade de Medicina, no século XIX, sua apropriação e investimento, no que se refere às técnicas de sujeição, nas relações sociais do trabalho contemporâneo. |
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METODOLOGIA:
As práticas atuais da instituição do ser-doente-do-trabalho foram colocadas em análise em função de uma metodologia genealógica, tal como, proposta por Foucault. Foram analisados os processos de normalização e assujeitamento, a partir de elementos materiais e de técnicas que servem de reforço e comunicação para as relações de poder/saber. Colocamos em análise a multiplicidade das práticas: os diversos discursos de médicos peritos do Instituto de Seguridade Social (INSS), de trabalhadores em processo de adoecimento, de profissionais de saúde; e os registros em documentos e normas institucionais referentes às LER. Buscávamos analisar que investimento de saber/poder, mantinham a condição de possibilidade de diferentes tipos de diagnósticos das LER serem decodificados em enquadres de diagnósticos psiquiátricos. |
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RESULTADOS:
Avaliamos que os discursos de poder, em relação ao processo de adoecimento no trabalho, são atravessados muito mais pelas questões políticas e econômicas do que pelas técnicas. Desta forma, a luta dos trabalhadores pela saúde (e muitas vezes pela sobrevivência no trabalho) vem sendo alvo de interesses que extrapolam a relação médica percorrendo, cada vez mais, o âmbito de uma economia da subjetividade. Uma subjetividade que se produz pela coerção das forças de agir, em nome de uma padronização de pensamentos, desejos e atos que efetivam a volatilização da doença do trabalho, na afirmação do ser-doente-do-trabalho. Nesta construção do ser-doente-do-trabalho alguns indicadores foram ressaltados: o silêncio e a invisibilidade da doença; o julgamento que torna o trabalhador réu e culpado por adoecer; o discurso psiquiátrico do corpo predisposto; a separação do processo de adoecimento das condições de trabalho, nos colocando diante de assepsias modernas e da interiorização do adoecer como uma história do corpo em sua individualidade. |
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CONCLUSÕES:
Os gráficos dos diagnósticos mostram que a abordagem da doença do trabalho pelo INSS/RJ desloca o quadro das lesões osteomusculares para o âmbito da moralidade, indicando, inclusive por um resgate arcaico de alianças históricas, uma simulação ou distúrbios de caráter, afirmando uma nova percepção das relações entre trabalho e saúde que privilegia imperativos econômicos Finalmente, concluímos que os atravessamentos das Políticas de Saúde Pública em Saúde do trabalhador foram maximizados, a partir de 1988, quando o texto constitucional criou o Sistema Único de Saúde. Entretanto, percebe-se que a despeito da consistência da Lei, no que se refere, a promoção, proteção ou recuperação da saúde, suas propostas de reforma, na atualidade, têm esbarrado com os conceitos de formas de gestão neoliberais. Nesse bojo, tornam-se indefinidas e frágeis às ações de saúde implementadas para os agravos das condições de trabalho dos trabalhadores, principalmente, por não ter sido incluída, efetivamente, nas ações do SUS, a Saúde do Trabalhador como uma referência em Saúde Pública. Palavras chave: Saúde do Trabalhador |
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Palavras-chave: Saúde do Trabalhador; Saúde Pública; Subjetividade. | ||
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005 |