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D. Ciências da Saúde - 1. Enfermagem - 3. Enfermagem Médico-Cirúrgica
PROBLEMAS PSICOSSOCIAIS ENFRENTADOS PELOS PORTADORES DE ESTOMIAS INTESTINAIS
Maria Euridéa de Castro 1 (eurideacastro@terra.com.br)
(1. Departamento de Enfermagem-UECE)
INTRODUÇÃO:
O redirecionamento do ânus para a parede abdominal com perda do controle das eliminações pode resultar em significantes alterações psicológicas. No início da vida, os movimentos intestinais são livres, tornando-se regulares posteriormente. Esta habilidade em deter e organizar impulsos se desenvolve como parte do crescimento natural do indivíduo, estando relacionado ao desenvolvimento de estruturas localizadas no abdome e na pélvis, a saber cólon, reto e bexiga. Os distúrbios de depressão, ansiedade, culpa e desordens sexuais ocorrem devido as doenças crônicas, tais como doença inflamatória intestinal e câncer de reto, as quais podem resultar na confecção de um estoma. A perda do ânus, a impotência sexual, com a conseqüente alteração da imagem corporal e dos hábitos higiênicos, podem originar nas pessoas, além das alterações fisiológicas, as psicológicas, levando ao desencadeamento de distúrbios psíquicos. Os sintomas de depressão, ansiedade e insônia podem persistir frente ao impacto do estoma alterando o funcionamento físico e psíquico, a capacidade de trabalho, as relações sociais e familiares. A relevância do estudo consiste em verificar as alterações psíquicoemocionais que afetam a qualidade de vida de pessoas, retardando a reabilitação. Têm-se como objetivo identificar os problemas psíquicos enfrentados pelas pessoas portadoras de estomias, em virtude das mudanças em face do trauma da estomia e da transformação da imagem corporal.
METODOLOGIA:
O estudo prospectivo é do tipo descritivo, utilizando-se de procedimentos exploratórios, realizado durante os meses de janeiro a outubro de 2004. Os sujeitos do estudo compreenderam 500 estomizados filiados a uma Associação Cearense de Colostomizados, da cidade de Fortaleza -Ceará, portadores de estomias urinárias e intestinais, provenientes da capital e do interior do Estado. Os participantes selecionados constituíram-se por 110 portadores de estomia, considerando como critério de inclusão: faixa etária a partir de 18 anos, ter condições de responder ao instrumento de coleta de dados e ser portador de estomia intestinal, em virtude do câncer de intestino, e doenças inflamatórias. Os dados estatísticos foram tabulados com o recurso do EPINFO e os depoimentos categorizados por similitude após uma leitura das falas, segundo a análise de conteúdo de Bardin. O projeto foi previamente aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual Ceará. Asseguramos aos respondentes a confidencialidede das informações, o anonimato e o livre arbítrio na inclusão do estudo e de retirar-se a qualquer momento. Os objetivos foram esclarecidos previamente e apresentado o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido para ser assinado, caso aquiescesse ao estudo, seguindo-se portanto os ditames da Resolução 196/96 do CNS do Brasil.
RESULTADOS:
A amostra caracterizou-se sociodemográficamente por sua maioria pertencente ao sexo feminino (60%), estado civil casado (65%), idade média de 55.8 anos, número de filhos acima de 03 (64%), renda familiar de 1 a 3 salários mínimos (45%), escolaridade 1º grau incompleto (52%) e religião católica (91%). As falas foram organizadas em categorias analíticas, seguindo a convergência fonética consoante a técnica de análise de conteúdo proposta por Bardin. Conforme a análise dos depoimentos, as pessoas estomizadas têm problemas psíquicos e destacaram que foram desencadeados após a feitura do estoma na parede abdominal, que ensejou a necessidade de manipulação com fezes (55%), devido ao auto cuidado em relação à troca da bolsa coletora (51%) e ao surgimento de lesões na pele periestoma (13%). Dentre as justificativas acerca da manifestação destes sentimentos, destacaram-se duas categorias temáticas que emergiram das falas, denominadas de psicoemocionais e psicossociais. A primeira categoria englobou as subcategorias referente aos temas psíquicos e emocionais de maior freqüência, tais como: estigma (68%), retraimento (64%), depressão (30%), vergonha (30 %), culpa (24%), nojo e revolta (23%). A segunda categoria abrangeu as subcategorias referente às necessidades sociais afetadas, como suporte da associação (52,4%) e relações de trabalho (51,2) apoio familiar,(48,8%).
CONCLUSÕES:
Inicialmente, os respondentes atribuíram aos aspectos físicos tais como a feitura do estoma na parede abdominal, a necessidade do manejo da bolsa ao coletar as fezes e aos problemas de lesão de pele periestoma advindos da aderência constante da bolsa o desencadeamento de problemas psíquicos, como por exemplo confinamento seguido de depressão com relatos de internação em hospital psiquiátrico, enquantos outros relataram momentos de profunda depressão alternados com ocasiões de alegria. Ainda emergiram sentimentos como vergonha, culpa, nojo e revolta por serem portadores de estomia. Ao que se pode depreender, o contato direto com as fezes, a transferência do ânus e a incontinência fecal causaram o primeiro impacto psicológico no estomizado, seguidos pelo dano da lesão da pele periestoma. O fato de terem destacado os aspectos físicos como responsáveis por irromper os psíquicos, pode ter apoio nos postulados da área de saúde por superdimensionar os aspectos físicos. A estomia, no entanto, representa uma agressão à intimidade biopsicossocial do cliente, redirecionando-o a se adaptar à nova condição de pessoa estomizada.
Palavras-chave:  estomia; estomizado; enfermagem.
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005