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F. Ciências Sociais Aplicadas - 5. Arquitetura e Urbanismo - 5. Arquitetura e Urbanismo | ||
ESCOLA CONSTRUTIVISTA NA COMUNIDADE QUILOMBOLA DE JENIPAÚBA | ||
Narúbia Dâmia Rodrigues de Rezende 1 (narubia2002@hotmail.com) | ||
(1. Depto. de Arquitetura e Urbanismo, Universidade Federal do Pará - UFPA.) | ||
INTRODUÇÃO:
A pesquisa “Escola Construtivista na Comunidade Quilombola de Jenipaúba” é objeto do texto. O Arquiteto é o elo entre o homem e o ambiente, profissional que surge da necessidade de planejar, racionalizar e estruturar os espaços para adequar as necessidades funcionais exigidas. Tal compreensão sobre o arquiteto referenciou a pesquisa. A Amazônia possui múltiplas realidades socioculturais: índios, ribeirinhos, extrativistas, quilombolas, urbanos. A educação nesse contexto é uma forma de transformação dessas realidades e de combate à desigualdade e a discriminação. Nessa diversidade, identifiquei-me com as populações quilombolas por serem ancestrais, terem uma cultura diferenciada, história de luta, sofrerem discriminações sociais, econômicas, raciais e situarem-se em lugares de difícil acesso e só em 1988 obtiveram o reconhecimento constitucional de seus direitos. Importante impulso foi o levantamento no Banco de Teses e Dissertações da CAPES, que evidenciou o dado de 1988 até o presente foram produzidas 80 estudos de Arquitetura, dos quais nenhum fala sobre quilombolas e apenas um faz referência ao negro, historicamente produtor de mão-de-obra para a construção civil. Das 80 teses e dissertações 3 fazem referência à educação e dessas, só 1 no contexto amazônico. Nesse cenário de escassez de estudos sobre quilombolas e educação numa visão arquitetônica, optei por empreender uma pesquisa sobre essas populações no Pará; o construtivismo de Jean Piaget e a arquitetura na Amazônia. |
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METODOLOGIA:
Consoante o objetivo da pesquisa de investigar bases que subsidem a proposição de projeto arquitetônico para escolas em comunidades quilombolas, enraizadas na cultura daquelas populações ancestrais e na paisagem amazônica, fundamentada na concepção construtivista de educação, assumi como procedimento metodológico a pesquisa bibliográfica, a análise documental e pesquisa de campo de natureza exploratória. A pesquisa bibliográfica enfocou estudos sobre comunidades quilombolas no Pará, fundamentos epistemológicos, teórico-metodológicos acerca do construtivismo e sobre a arquitetura amazônica. A análise documental consistiu na pesquisa de fontes secundárias sobre a situação da infância e do negro no país, considerando que a escola voltar-se-á para esse segmento; sobre a realidade de quilombolas no Pará e dinâmica local da comunidade objeto do estudo. O estudo exploratório foi na comunidade quilombola de Jenipaúba situada no município de Abaetetuba/PA, definida a partir de critérios de acessibilidade, representatividade entre as comunidades do Estado e por contar no presente momento com investimentos governamentais do Programa Raízes para desenvolvimento de projetos de base sustentável. Os procedimentos nessa fase consistiram fundamentalmente em observações e entrevistas. O registro fotográfico também se constituiu como um elemento metodológico da pesquisa. |
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RESULTADOS:
A pesquisa apontou que a escola representa uma ferramenta indispensável à sustentabilidade daquela população quilombola, que se constitui numa instituição fundamental para o resgate das tradições históricas e culturais dos negros naquela região em que se situa a comunidade e que processos educativos emancipatórios e multiculturais requerem uma arquitetura que reinvente o ambiente e suas formas, na perspectiva de que o espaço proporcione um novo dinamismo às práticas pedagógicas. Propor uma arquitetura amazônica sintonizada com a cultura das populações quilombolas requer a valorização do uso da floresta e rios em consórcio com a madeira, alvenaria, cobertura de cerâmica e de palha. Formando uma relação íntima entre o espaço projetado, a cultura da população e o meio ambiente. A arquitetura combinada com pressupostos construtivistas requer espaços que valorizem a inter-relação social como forma de aprendizagem, pautando a necessidade de espaços escolares multifuncionais, que indubitavelmente favorecem a inclusão social e racial. Assim, pode-se chegar à proposta arquitetônica que busca um elo entre as necessidades da localidade, os recursos humanos e materiais do projeto arquitetônico, enfatizando o projeto como um meio facilitador de socialização do conhecimento, melhorando a aprendizagem e o processo de formação para a cidadania. |
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CONCLUSÕES:
A educação é um dos principais meios de inclusão social e um dos maiores desafios para as políticas públicas deste milênio. Entretanto, hoje, as escolas públicas não conseguem, de forma geral, conceber crianças e adolescentes conscientes de sua situação, direitos e deveres perante a sociedade. Crianças e jovens negros ainda são discriminados social e racialmente, como aponta o Relatório da Situação da Infância e Adolescência Brasileira publicado pelo Unicef em 2003. Nesse cenário a educação e a aprendizagem são condições essenciais na melhoria das condições de vida, mas não se constituem fins em si mesmas. Há que se ampliar os esforços de transformação das condições sociais, econômicas, culturais e políticas que produzem a pobreza, a desigualdade social e o racismo. Sem mudanças profundas no modelo econômico e incentivos em políticas públicas, não existe a possibilidade de avanços na educação e no IDH. O construtivismo é um aporte teórico fundamental na perspectiva da educação crítica e emancipatória, em que seus pressupostos epistemológicos e teóricos sinalizam pistas substanciais para a arquitetura, cujo legado dessa área do conhecimento foi historicamente concebido como neutro, reduzido a dimensão do ambiente e da projeção de espaços. Ao contrário, a arquitetura não é neutra, um projeto arquitetônico de escola expressa uma concepção de educação e pauta uma dinâmica de relações pedagógicas. Reinventar a escola requer inclusive reinventar a arquitetura e seus projetos. |
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Palavras-chave: Educação como meios de inclusão social; A não neutralidade de espaços escolares; A inter-relação social e amiental. | ||
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005 |