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D. Ciências da Saúde - 8. Fisioterapia e Terapia Ocupacional - 1. Fisioterapia e Terapia Ocupacional | ||
RELAÇÃO MÃE-BEBÊ DE RISCO EM UTI NEONATAL: OLHAR FENOMENOLÓGICO | ||
Valéria Barroso de Albuquerque 1, 2 (valeriabarroso@hotmail.com) e Regina Lúcia Ribeiro Moreno 2 | ||
(1. Depto. Ciências da Saúde; 2. Hospital Infantil Albert Sabin) | ||
INTRODUÇÃO:
Com o advento da humanização hospitalar, o olhar sob a mãe e o filho recém-nascido atendidos na Unidade de Terapia Intensiva (UTIN) vem sendo priorizado, facilitando assim, a resposta “positiva” desse tratamento. Nesse estudo nos propusemos revelar o modo como acontece a relação que a mãe do bebê de risco exibe com seu filho no cenário da UTIN que só pode ser revelada após compreensão da vivência materna em seu mundo-vida, pois de nada adianta tentar descobrir as causas dos pensamentos, sentimentos, comportamentos de mães acompanhantes, se não houver a preocupação de dar voz à essas mulheres, para que possamos penetrar nesse mundo e descobrir o não-dito contido em forma simbólica na dimensão humana para chegar à objetividade e desvelar o objeto de nosso estudo. |
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METODOLOGIA:
Trata-se de uma pesquisa fenomenológica realizada na Unidade de Terapia Intensiva Neonatal (UTIN) do Hospital Infantil Albert Sabin (HIAS), fundamentada nas categorias heideggerianas, no período de setembro a outubro de 2004, com 8 (oito) mães acompanhantes, atendendo o processo de saturação teórica, com objetivo de conhecer e compreender a relação mãe - bebê de risco. As participantes foram escolhidas a partir do diagnóstico de seus filhos, apontados como de risco para problemas neurológicos, conforme a Sociedade Brasileira de Neonatologia (Prematuridade, Convulsão Neonatal, SDR, Hiperbilirubinemia, Malformação SNC). Como instrumento para alcançar as percepções dos sujeitos envolvidos utilizamos a entrevista fenomenológica contendo a pergunta-guia: como se mostra a você ser mãe em uma UTIN e vivenciar a relação mãe-filho? Realizamos um mapeamento resumido, para revelar as unidades de sentido encontradas nas falas dos sujeitos participantes. Os recortes das falas foram codificados como M-1, para garantir o anonimato das participantes. Antes de realizarmos a escuta das descrições ingênuas dos sujeitos da pesquisa, eles foram informados a respeito dos objetivos do estudo, como seria utilizada a descrição de suas falas, a respeito do sigilo e anonimato e ainda, da liberdade de interromper sua participação a qualquer momento. Posteriormente foi solicitado a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, conforme as determinações da resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde (Brasil-MS, 1996). |
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RESULTADOS:
Encontramos 3 categorias: 1. "Sentimentos maternos após o fenômeno do parto ao saber que o filho é de risco para problema neurológico ou tem instaladas" Unidades de sentido: angústia, nervosismo, tristeza culpa e medo ... quando fiquei sabendo de tudo ... fiquei angustiada, só fazia chorar (M-1)... não me sinto na paz de vê ele cheio de aparelho, sinto tristeza. Se ele tivesse na minha barriga tava mais protegido, não taria pegando, furando(M-4). 2. "Mudanças na relação primária mãe e bebê de risco" Unidades de sentido: cuidado, medo da morte, dependência do filho, preocupação, perda do direito materno e mudanças de comportamento e hábito. ... na UTIN perdi muitas coisas, não amamentei, não peguei ele no colo, não senti aquele cheiro de nenê e sim de UTI (M-2)... queria ficar com o meu bebê, mas não com aquele monte de fio e aparelho, então chorava, foi horrível, não quero passar por isso nunca mais na minha vida (M-4)... qualquer barulhinho ficava preocupada com medo de perder o ....(M-5)... Não podia fazer outra coisa, só olhar e alisar. Eles lá é que faziam tudo (M-8). 3. "Aspectos relacionais (mãe x profissional da saúde) Unidades de sentido: esperança, solicitude, insegurança ou segurança. ...foi muito importante o apoio deles lá dentro, é fundamental nesse momento, você ver seu filho quase morto como eu vi, aí a chega a enfermeira, aplica o remédio sem da nem uma atençãoa você que tá alí, muito frágil, num é fácil não. Quando elas são gentis, conversam, brincam com o seu filho, isso deixa a gente se sentir melhor (M-6). |
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CONCLUSÕES:
Esse trabalho objetivou conhecer e compreender a relação mãe - bebê de risco e os significados maternos de habitar e vivenciar o mundo da UTIN. A mãe nessa unidade hospitalar, apresentou-se como um ser com o outro, que inquietou-se, envolveu-se afetivamente com seu filho, participou, quando possível de seus cuidados, mas também como um ser-com, que saiu de seu existencial, ao manifestar sentimentos de angústia, tristeza, insegurança, incertezas, medo, desespero, angústia e impotência. Essas revelações favoreceram a compreensão de pensamentos, sentimentos, percepções maternas e principalmente, como acontece a relação mãe-beê dentro das possibilidades da história factual do ser "mulher" e do contexto em que ela está inserida, "UTIN". A compreensão desse fenômeno, trouxe contribuições valiosas para a elucidação de um novo paradigma de convivialidade no mundo das UTIN’s, bem como, um caminho para resgatar a essência humana e enterrar o assistêncialismo tradicional, racional, imediatista, setorizado, controlador que não valoriza a trajetória existencial da mãe acompanhante. Essas mudanças, no entanto, exigem coragem, sua realização não acontece facilmente, sem obstáculos, implica luta, pois é necessário ocorrer libertação do assistencialismo, onde o homem é cuidado segundo os critérios de corpo sadio e corpo doente . |
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Trabalho de Iniciação Científica | ||
Palavras-chave: Relação mãe-bebê de risco; mãe acompanhante; UTI Neonatal. | ||
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005 |