|
||
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 18. Educação | ||
A PERCEPÇÃO DE JOVENS SOBRE A HANSENÍASE: UMA ABORDAGEM A PARTIR DO PROGRAMA AGENTE JOVEM DA SECRETARIA MUNICIPAL DE AÇÃO SOCIAL DE ITABORAÍ-RJ | ||
Ivonete Alves de Lima Cavaliere 1 (ivonete@ioc.fiocruz.br), Mônica Jandira dos Santos 1 e Danielle Grynszpan 1 | ||
(1. Instituto Oswaldo Cruz - Fiocruz) | ||
INTRODUÇÃO:
Trata-se de uma contribuição da Pesquisa Social à Educação em Saúde com a intenção de observar e apreender os principais conhecimentos e crenças de duzentos jovens moradores de comunidades empobrecidas sobre a hanseníase na cidade de Itaboraí, região norte do estado do Rio de Janeiro. O objetivo da pesquisa é conhecer o imaginário social e compreender as imagens que estes jovens fazem através de desenhos sobre a doença hanseníase. Pretende-se ainda saber o que esses jovens pensam a respeito da necessidade de isolamento dos portadores de hanseníase. A realização deste estudo reveste-se de importância porque abarcam uma diversidade de alunos de escolas públicas municipais e estaduais, participantes do Programa de Agente Jovem, com diferentes percepções sobre questões a respeito da hanseníase. Desta forma, podemos destacar que tais percepções puderam contribuir para a construção de um trabalho de Educação e Saúde. Este trabalho tem relevância local e esperamos que possa colaborar com subsídios para uma melhor informação e principalmente para uma formação mais integral, com possibilidades de mudança de relações sociais, erradicando crenças que obstruem o conhecimento científico, a partir de uma abordagem psicossocial da doença. |
||
METODOLOGIA:
O estudo foi desenvolvido em 8 turmas de 25 adolescentes, num total de 200 jovens, com idades entre 15 e 18 anos, sendo 98 do sexo feminino e 102 masculino. Integrantes de vários pólos do Programa Agente Jovem do Governo Federal, no município de Itaboraí. Os jovens foram divididos em grupos focais, onde se utilizou um roteiro de perguntas elaboradas inicialmente. As respostas foram organizadas, sistematizadas e analisadas nas dimensões cognitiva e afetiva, a saber: conceito de hanseníase, formas de transmissão e de tratamento, onde encontrá-lo, possibilidade de cura, o que causa a doença, os sintomas e se é necessário o isolamento do doente. Grupos focais constituem uma forma de entrevista grupal, semi-estruturada, típica da pesquisa qualitativa. Conforme Morgan (1991:12) “grupos focais constituem uma técnica específica dentro de uma categoria maior de entrevistas grupais para coletar dados qualitativos. O que distingue o grupo focal é o uso explícito da interação grupal para produzir dados e insights que seriam menos acessíveis sem a interação que se encontra no grupo”. Após as entrevistas, foi sugerida a realização de desenhos individuais, que pudessem retratar a representação social dos grupos sobre a doença. |
||
RESULTADOS:
O estudo qualitativo mostrou, a partir dos resultados das concepções dos jovens que 92 por cento afirma não saber explicar o conceito de doença em geral, e oito por cento respondeu de maneira vaga. Por meio das falas dos jovens, detectamos que sobre o conceito da doença hanseníase, 58 por cento afirma não saber conceituar, e os outros 42 por cento afirma saber, porém apresenta conceitos incorretos ou incompletos. Com relação à transmissão da doença, 97 por cento afirma não saber informar, e os outros três por cento respondeu de maneira superficial. A grande maioria, 98 por cento dos jovens desconhece o tratamento e ignora um local de atendimento. Quanto à cura, 53 por cento dos jovens acredita ser possível, embora não saibam exatamente de que maneira ocorre, e que a cura somente pode ser possível no início da doença. Os demais, 47 por cento imaginam que não exista cura em nenhum estágio da doença. Boa parte dos entrevistados, 89 por cento informa ignorar a causa, e somente dois por cento conhece o nome do micróbio causador da hanseníase. Mais da metade dos jovens, 71 por cento não consegue reconhecer os sintomas, e 29 por cento, embora reconheça os sintomas, tendem a confundi-los. Quase 100 por cento dos jovens acham que o isolamento do doente em colônia é necessário para o tratamento. Os desenhos usados como forma de registro de concepções mostrou claramente o imaginário social dos jovens, a medida em que expressaram sua visão da doença e do doente. |
||
CONCLUSÕES:
Com base neste estudo, cujo objetivo precípuo de conhecer as visões dos estudantes sobre a hanseníase, podem-se levantar algumas considerações sobre o imaginário social dos jovens. Segundo os resultados coletados, há uma total desinformação sobre alguns aspectos relevantes como as causas e sintomas da doença. Percebemos que os jovens desconhecem um local para tratamento. Com relação à cura, metade acredita, mas se o tratamento for iniciado precocemente. Os jovens foram praticamente unânimes sobre a necessidade de isolamento do doente, o que hoje, pelo avanço da Medicina, sabe-se que não é verdade. Resultado este, que vem a confirmar a nossa hipótese, uma visão da doença hanseníase baseada em tabus. Esta conclusão sugere a possibilidade de, no campo da atenção em saúde - hanseníase, aventar ações mais contemporâneas que venham a favorecer a incorporação de conhecimentos e de valores éticos, provenientes de uma nova abordagem da doença – uma abordagem psicossocial, onde os aspectos psíquicos e sociais possuam sua importância. Nossos dados permitem sugerir a necessidade de proposição de alternativas educacionais, indicar estratégias que busquem evitar a produção de novos estereótipos e reprodução de antigas crenças, normalmente calcadas na escassez de informações e na falta de debates sobre a hanseníase em particular, e, em geral, sobre a promoção de saúde. |
||
Palavras-chave: Hanseníase; Educação; Saúde. | ||
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005 |