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G. Ciências Humanas - 7. Educação - 15. Formação de Professores (Inicial e Contínua)
DA TEORIA À PRÁTICA: A COMPREENSÃO E APLICAÇÃO DO REFERENCIAL TEÓRICO DA GEOGRAFIA CRÍTICA
VALDEMARIN COELHO GOMES 1 (rabbitmario@hotmail.com), SUSANA VASCONCELOS JIMENEZ 1, SOLONILDO ALMEIDA DA SILVA 1, JAMES WILSON JANUÁRIO DE OLIVEIRA 1 e JOSÉ RÔMULO SOARES 2
(1. CENTRO DE EDUCAÇÃO, MESTRADO ACADÊMICO EM EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ, UECE; 2. CENTRO DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ, UFC)
INTRODUÇÃO:
O referencial que guia as atividades do professor é uma das maiores preocupações, hoje, nos cursos de formação de professores, pois é através deste ato subjetivo que a objetivação das ações educativas dos docentes revelam a intencionalidade que eles empregam ao assumirem este papel. Este trabalho é uma investigação realizada durante o ano de 2004 e faz parte de um contexto que apresenta, já em suas formulações iniciais, resultados significativos para uma pesquisa maior em torno da formação do professor, em especial da área da Geografia, nosso campo de pesquisa. O trabalho teve dois focos principais: o primeiro buscou explicitar a compreensão dos professores da disciplina de Geografia a respeito do referencial teórico que guiava as reflexões e ações da área: o materialismo histórico-dialético, baseado nos pressupostos marxianos. O segundo, tentava identificar a aplicação desse referencial nas atividades educativas realizadas pelos professores investigados em suas salas de aula, junto aos alunos. A escolha pela Geografia enquanto área da investigação foi devido ao fato de que a maioria de nós teve sua formação inicial nesta área.
METODOLOGIA:
O eixo teórico pelo qual nos guiamos para a realização desta pesquisa foi o marxismo, por acreditarmos ser o modelo mais preciso de desvelamento da realidade, pela relação sujeito-objeto que ele estabelece e pelo processo dialético que aponta na construção do real, além de ser o referencial adotado pela chamada Geografia Crítica, área de formação dos sujeitos investigados. Foi privilegiada uma amostra de 20 professores de Geografia, de 5 escolas, sendo 2 públicas e 3 privadas. Desses, 12 trabalhavam com o Ensino Médio e 8 com o Ensino Fundamental. O critério de escolha dos professores observou alguns pontos: 1) os professores deveriam estar ministrando aulas há mais de 5 anos; 2) deveriam ter se graduado a partir de 1985, período em que a Geografia já adotava o materialismo histórico-dialético como referencial teórico; e 3) deveriam, nas escolas em que atuavam, ministrar somente aulas de Geografia. Foram utilizados dois instrumentos básicos. Um questionário fechado, no qual os professores respondiam a perguntas como: período de formação, local e tempo de profissão e uma entrevista semi-estruturada sobre a compreensão e aplicação do materialismo histórico-dialético, tanto no período de formação inicial quanto no exercício da profissão atualmente. Foi examinada, ainda, a grade de disciplinas do curso de Licenciatura em Geografia da Universidade Estadual do Ceará-UECE, no intuito de identificar a oferta de conteúdos sobre o referencial teórico do mesmo.
RESULTADOS:
A partir da aplicação dos instrumentos escolhidos, alguns resultados foram alcançados. Dos 20 professores entrevistados, apenas 16 deles (80%) tinham conhecimento de que o materialismo histórico-dialético era o referencial adotado pela Geografia na época de sua formação. Destes, 9 (56%) eram professores do Ensino Médio. A maioria dos 16 (14 = 87%), porém, disse desconhecer mais a fundo Marx, o materialismo histórico-dialético e outros autores que dele tratassem, ficando, muitas vezes, suas análises apenas no campo da observação econômica dos fatos ou sem muito aprofundamento. A pouca ênfase atribuída ao referencial teórico na formação, foi o grande fator apontado por eles para este desconhecimento. Isto pôde ser constatado ao analisarmos a grade curricular de um curso, na qual apenas duas disciplinas abordavam mais diretamente o referencial: Introdução à Filosofia (1º semestre), na qual, tanto Marx quanto o marxismo eram tratados apenas enquanto reflexões filosóficas; e Fundamentos da Geografia (3º semestre) que, segundo os entrevistados, não atingiu as expectativas sobre o conhecimento do referencial. No caso da aplicação dos pressupostos marxianos, no cotidiano da sala de aula, alguns professores (5 = 32%) disseram fazer uso de algumas categorias do referencial, mas não buscavam aprofundar nem relacionar as atividades com o referencial, por não se sentirem seguros para tanto e preferiam apenas privilegiar o estudo do conteúdo sem uma análise mais crítica sobre o mesmo.
CONCLUSÕES:
Tendo como ponto de partida os resultados encontrados na pesquisa, pudemos concluir que a formação do Curso de Licenciatura em Geografia, apesar de adotar o materialismo histórico-dialético como eixo referencial, não dá a ênfase prioritária ao mesmo, para torná-lo suporte para as ações dos professores. O pouco tempo dedicado ao estudo do referencial não permite aos professores o aprofundamento necessário para a assunção do mesmo, deixando uma lacuna em sua formação. A compreensão e aplicabilidade do materialismo histórico-dialético nas ações educativas em Geografia ainda é muito incipiente, o que influencia diretamente na capacidade crítica sobre a realidade, tanto por parte dos professores quanto por parte de seus alunos. O fato de não terem um referencial teórico concreto que estabeleça parâmetros para suas ações educativas, deixa os professores à mercê da assunção de outros referenciais, muitos deles até contraditórios àquele adotado pelo seu curso de formação inicial, neste caso, a Geografia. O pouco conhecimento sobre categorias essenciais do materialismo histórico-dialético dificultava a crítica sobre os conteúdos estudados e o desconhecimento de autores que davam suporte ao referencial impedia que os professores ampliassem suas informações sobre o assunto.
Palavras-chave:  Geografia; Marxismo; Formação do professor.
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005