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H. Artes, Letras e Lingüística - 5. Semiótica - 1. Semiótica
DADÁ: A ANTIARTE SOB A PERSPECTIVA LINGÜÍSTICA DE FERDINAND DE SAUSSURE
Renata Maciel Villanova 1 (renatavil@yahoo.com.br), Isabella Mendes Freitas 1, Maria Isabel Cardozo da Silva 1 e Edilson S. Pereira 1
(1. Depto. de Artes e Humanidades, Universidade Federal de Viçosa - UFV)
INTRODUÇÃO:
A teoria lingüística de Ferdinand de Saussure foi uma das precursoras na construção de princípios para a análise semiológica. No entanto, ela se mostrou insuficiente diante de novas proposições. A exemplo, confrontamos a estética dadaísta, vanguarda artística do início do século XX, com os princípios do signo lingüístico de Saussure.
Na perspectiva saussuriana, um texto poético qualquer se apresenta como um encadeamento sintagmático de signos, tendo um começo e um fim marcado por silêncios ou espaços brancos. De acordo com a obra “Curso de Lingüística Geral”, o signo seria norteado por quatro princípios: arbitrariedade; linearidade; imutabilidade; mutabilidade.
O Dadaísmo se valeu de um ataque contra a linguagem. É a favor da liberdade individual, da espontaneidade, do imediato, do atual, do aleatório, da crônica contra a temporalidade, da anarquia contra a ordem, da imperfeição contra a perfeição. Dessa maneira, ele contraria os quatro princípios da língua defendidos por Saussure.
A relevância deste trabalho é fomentar o questionamento sobre as limitações de uma normatização do signo e as amarras do sistema sígnico no qual estamos inseridos. Essa normatização transcende as determinações particulares do espaço-tempo em que foi gerada, universalizando-se, ou seja, ela projeta no universal uma reflexão que é própria da cultura ocidental.
METODOLOGIA:
Para compreender melhor a proposta dadaísta e entender de que maneira ela poderia exceder os limites da teoria lingüística de Saussure, fizemos uma revisão bibliográfica. Consultamos alguns teóricos do Dadá, como Tristan Tzara, Hans Richter, Hugo Ball e Willy Verkauf. No que tange ao pensamento saussuriano, partimos da obra “Curso de Lingüística Geral”, na qual o autor explicita os princípios normativos da língua, além de outros teóricos da semiótica que seguiram alguns desses princípios, como Roland Barthes.
Para situar o confronto das idéias, fizemos uma experimentação que consistiu na apropriação de algumas obras de arte dadaístas e na tentativa de construção de uma análise semiológica a partir da obra de Saussure.
Buscamos, então, a interação com o grupo de alunos da disciplina Semiótica, ministrada para os alunos de Comunicação Social da Universidade Federal Viçosa, em novembro de 2004. Organizamos a sala de aula em uma espécie de “instalação” de arte e propusemos a criação de signos dentro da proposta estética Dadá, para depois tentar encaixá-las dentro da normatização saussuriana.
A seguir, analisamos os resultados com a intenção de verificar as limitações desta teoria lingüística. Tentamos ainda perceber o signo na construção do processo comunicativo em nossa sociedade, valendo-nos de contribuições teóricas de autores como Pierre Lévy e Walter Benjamin.
RESULTADOS:
Relacionando a revisão bibliográfica com as experiências realizadas, percebemos que:
- Os participantes estão relacionados com o sistema lingüístico em que estão inseridos, fortalecendo a proposta de Saussure de que o geral/social predomina sobre o individual. Por outro lado, ainda que os participantes tenham buscado símbolos socialmente compartilhados para construir seus novos significantes, não podemos negar a existência de um processo criativo, ligado à subjetividade dos autores. Entendemos que as variações, a partir de um determinado universo cultural, são “infinitas”, pois as coisas e as maneiras de interpretá-las não estão dadas/prontas, e sim, são humanamente construídas.
- Os significados criados tinham uma relação com experiências pessoais anteriores ao exercício, de forma que a subjetividade foi trabalhada dentro de um sistema de códigos limitado, no qual cada autor está inserido socialmente.
- Para Saussure o signo é imutável, não pode ser determinado nem pela idéia nem pelo objeto exterior sem perder sua condição de existência enquanto signo. O tempo que assegura a imutabilidade do signo teria um efeito em aparência contraditória: poderia alterar os signos lingüísticos – princípio da mutabilidade. A língua se transforma sem que os indivíduos possam transformá-la, ela é intangível, mas não inalterável. A mutabilidade dos signos dentro do Dadaísmo partiria de uma experiência momentânea individual, que não estaria necessariamente ligada à tradição, à passagem de tempo.
CONCLUSÕES:
É importante ressaltar que a arte, nosso objeto de estudo, deve ser apreendida pelas sensações que ela provoca, e não pelo simples entendimento racional. Isso não invalida a possibilidade de se relacionar os princípios, aparentemente sólidos, de Saussure com a estética de desconstrução do Dadá, à medida que as duas perspectivas nos levam a refletir sobre os limites do social e do individual no processo comunicativo.
A proposta do Dadaísmo é bastante radical. A proposição de uma ruptura total era necessária naquele contexto, porém existe hoje um ceticismo em relação à liberdade absoluta.
Pudemos perceber que as pessoas que participaram da instalação, diante da liberdade de criar, não conseguiram ousar muito além do sistema cultural/lingüístico a que pertencem. De certa forma, isso comprova a teoria de Saussure de que, na língua, o social predomina sobre o individual. Por outro lado, no âmbito do individual, o subjetivo prevalece, pois os signos consensuais têm significações variadas de acordo com as pessoas. O consenso que permite a comunicação não exclui a possibilidade de uma particularização da língua.
Acreditamos que a teoria lingüística de Saussure se mostra limitada na medida em que desconsidera a subjetividade como influência na interpretação e construção dos signos lingüísticos. Ao mesmo tempo, percebemos que a liberdade de criação está condicionada à cultura vista como uma teia de significações.
Palavras-chave:  Dadaísmo; Ferdinand de Saussure; processo comunicativo.
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005