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F. Ciências Sociais Aplicadas - 9. Comunicação - 8. Comunicação
A VOZ DO POVO: UM ESTUDO COMPARATIVO SOBRE A COMUNICAÇÃO NAS CARTAS DE LEITORES EM JORNAIS OITOCENTISTAS E CONTEMPORÂNEOS.
Agatha Sant`Anna da Costa Franco 1 (agathafranco@yahoo.com.br) e Maria Carmen Aires gomes 2
(1. Depto. de Artes e Humanidades, Universidade Federal de Viçosa - UFV; 2. Depto de Letras e Artes, Universidade Federal de Viçosa - UFV)
INTRODUÇÃO:
Na atualidade, as cartas dos leitores são divulgadas em jornais e revistas de grande circulação e tratam de notícias ou reportagens de temas de interesse nacional e internacional, publicadas nesses veículos de comunicação. Seja por razões de espaço da seção ou linha editorial, nem toda carta do leitor é publicada e, algumas vezes, antes de sê-la, passa por um processo de edição.
Entretanto, nos jornais do século XIX não é isso o que se percebe. As cartas dos leitores, além de versarem sobre os mais variados assuntos – pedidos, reclamações, comentários, busca de contato com os amigos ou parentes e até mesmo os próprios redatores dos jornais – eram ainda publicadas na íntegra.
Dessa forma, a presente pesquisa consiste no estudo da forma de comunicação estabelecida através das cartas de leitores na imprensa oitocentista, destacando os propósitos comunicativos dos leitores e as marcas de interação presentes em seus textos. Cabe ainda traçar um paralelo entre o espaço do leitor nos periódicos do século XIX e nos da atualidade, delineando uma reflexão sobre o embate existente entre a mídia enquanto espaço público aglutinador de interesses privados (Habermas, 1989) e a mídia enquanto função social.
METODOLOGIA:
A metodologia foi calcada na revisão bibliográfica, visitas a arquivos e na coletânea Críticas, queixumes e bajulações na Imprensa brasileira do século XIX: cartas de leitores e redatores, do Projeto História do Português Brasileiro (PHPB).
A bibliografia que sustenta essa pesquisa tem seu norte na Teoria Social do Discurso, cunhada por Fairclough (1989, 1992, 2001). Admitindo ser a linguagem subjetiva, construída por sujeitos que possuem intenções e propósitos definidos e sempre se expressam com o intuito de levar o outro a chegar a determinadas conclusões, a sua materialidade lingüística, que é o discurso, terá sempre algumas significações específicas na estrutura social, uma vez que o sujeito está imerso nela, produzindo e reproduzindo não só as relações sociais, mas também as relações de poder e dominância de um grupo sobre o outro.
Foram selecionadas cartas em jornais da primeira e da segunda metade do século XIX, sem um recorte de período específico e limitado a meses ou anos, o que possibilitou uma maior amplitude à pesquisa e, como conseqüência, uma melhor compreensão da dinâmica da comunicação nos periódicos oitocentistas.
Nas visitas a Biblioteca Nacional, escolheu-se utilizar cartas de leitores publicadas em periódicos que circularam em períodos distintos ao longo do século XIX. Para suscitar a discussão sobre a importância de um espaço destinado ao público leitor de jornais, tomou-se como exemplo contemporâneo os jornais Estados de Minas e Estado de São Paulo.
RESULTADOS:
No século XIX as cartas eram confeccionadas majoritariamente como narrativas e versavam sobre questões pessoais, queixas, pedidos, opiniões e temas recorrentes na sociedade brasileira da época, como o escravismo e a Guerra do Paraguai. O espaço destinado às cartas dos leitores era bastante relevante em todos os jornais. Por exemplo, em edições de quatro páginas, por exemplos, duas provavelmente eram ocupadas por cartas de leitores. A partir da metade do século há um aumento significativo de cartas produzidas pelo público feminino.
No século XXI as cartas já ocupam um espaço limitado, localizado em seções específicas que são distribuídas pelas editorias. Os veículos impressos aconselham seus leitores a produzirem cartas curtas, de quatro a doze linhas, e que se enquadrem nos manuais de redação e estilo dos jornais. Os propósitos comunicativos geralmente estão relacionados a temas de alcance nacional quando as cartas visam a fazer um comentário e de caráter pessoal quando suscitam algum questionamento.
CONCLUSÕES:
O estudo da mídia impressa brasileira no século XIX, mais especificamente das cartas dos leitores, objetos de estudo desta pesquisa, trouxe à tona uma série de temáticas fundamentais para o entendimento do dinamismo social da época, o que permitiu também entender a imprensa atual.Tornou-se evidente que o desenvolvimento da imprensa acompanhou o desenvolvimento do capitalismo industrial e, quando o jornal passou a ser visto como empresa, nos finais do século XIX, a relação estabelecida entre o veículo e o público se alteraram.
O público – leitor que antes enviava desde críticas ofensivas a poesias aos jornais, hoje realiza discussões assentadas no padrão de objetividade jornalística, valendo lembrar que poucas cartas dentre todas as que são enviadas às redações são selecionadas. Desta seleção, a conclusão apontada pela pesquisa foi que as cartas que chegam a ser publicadas, na maioria da vezes, concorda com a política editorial dos jornais.O Jornal Estado de São Paulo, apesar de preservar traços conservadores, apresenta espaços dialógicos tanto entre leitores quanto entre leitores e o veículo de comunicação.
Palavras-chave:  Cartas de leitores; Teoria Social do discurso; Jornalismo impresso.
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005