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G. Ciências Humanas - 9. Sociologia - 4. Sociologia do Trabalho | ||
TRABALHO, EDUCAÇÃO E ORGANIZAÇÃO DE CLASSE: A CUT-CE FRENTE AO GOVERNO LULA | ||
Thiago Alves Moreira Nascimento 1, 3 (thiago_fatorial@yahoo.com.br), Maria Susana Vasconcelos Jimenez 1, 3, Cristiane Porfírio de Oliveira do Rio 2, 3, Josefa Jackline Rabelo 2, 3, Raquel Dias Araújo 2, 3, Augusto César Chagas Paiva 3, Liana Souto Araújo 3, Lindercy Francisco Tomé de Souza Lins 2, 3, Fabíola da Silva Morais 1, 3 e Liana Brito de Castro Araújo 3 | ||
(1. Centro de Educação, Universidade Estadual do Ceará - UECE; 2. Faculdade de Educação, Universidade Federal do Ceará - UFC; 3. Instituto de Estudos e Pesquisas do Movimento Operário - IMO) | ||
INTRODUÇÃO:
Desde o começo, o IMO vem inserindo-se no debate acerca da perspectiva revisionista do marxismo sobre a atual crise do capital e as manifestações dessa crise no mundo do trabalho, na prática social e na educação dos trabalhadores, questionando, a implementação de referenciais não classistas no campo da formação cutista, do ponto de vista do alinhamento da CUT à política governamental consolidada nos sucessivos planos educacionais e a tomada da noção de cidadania - em lugar da consciência de classe como eixo articulador. Datam do final de 1993 os primeiros esforços empreendidos em torno da pesquisa e da reflexão sobre o movimento sindical e a educação do trabalhador, a partir de dois projetos centrais, voltados, respectivamente, para os impasses e contradições em torno da política de formação adotada pela CUT e para a construção do perfil da liderança sindical cutista do Ceará, a partir de dados coletados junto aos delegados sindicais presentes aos Congressos Estaduais da CUT – CECUT, ocorridos, em 1994, 1997, 2000 e 2003. O presente trabalho destaca os resultados obtidos quanto à investigação realizada nesse último Congresso, que objetivou dar continuidade à construção do perfil da liderança sindical cutista no Ceará, dessa feita, aferindo as posições dessa liderança em torno do papel do movimento sindical diante das peculiaridades do capitalismo contemporâneo, com destaque para as relações que, na visão de seus líderes, deveriam ser traçadas entre a CUT e o atual governo. |
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METODOLOGIA:
A pesquisa utilizou-se de um questionário dividido em cinco blocos, aplicado aos delegados presentes ao IX CECUT, o qual atingiu um total de 277 trabalhadores – 141 representantes do setor rural e 136 membros de organizações sindicais urbanas – correspondentes a 43% dos delegados presentes ao Congresso. Além dos dados biográficos fundamentais, o questionário buscou verificar as posições assumidas pela liderança cutista do Ceará acerca de questões afetas à luta político-sindical em geral, colocando os entrevistados diante de um conjunto de alternativas formuladas em torno do horizonte da luta sindical e do papel formativo do sindicato, que contrapunham ao desenvolvimento da consciência de classe e à compreensão critica da ordem do capital, a oferta de cursos de qualificação profissional e a formação para a cidadania. Ademais, tendo em vista a atual conjuntura política marcada pela vigência do governo Lula, umbilicalmente ligado à CUT, decidiu-se aferir, além das concepções defendidas sobre as bandeiras de luta da organização sindical e o papel formativo do sindicato, qual deveria ser, na visão dos delegados, a postura a ser assumida pela CUT em relação ao referido governo. |
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RESULTADOS:
Com relação à esta apresentação, é importante esclarecer que os delegados presentes filiam-se, na maioria, ao PT. A hegemonia do PT é justificada por razões históricas, uma vez que a CUT e PT imbricaram-se na configuração de um projeto político forjado nas lutas contra a ditadura. Assim, os resultados da presente pesquisa reafirmam aqueles obtidos no congresso anterior, indicando posições mais ou menos afinadas à política de ação e formação sindical efetivada pela CUT. Os delegados urbanos dividiram-se de maneira equilibrada entre o confronto com a ordem, por um lado, e o pacto social entre capital e trabalho, por outro, como a principal bandeira, enquanto, dentre os delegados rurais, as indicações pesaram mais em favor do pacto. É importante ressaltar-se a tendência observada de tentativa de conciliação da idéia do sindicalismo cidadão à perspectiva revolucionária, como atestam as concepções assinaladas pelos entrevistados. Quanto à postura a ser assumida pela CUT em relação ao Governo, a maioria (70%) manifestou-se a favor do apoio crítico condicionado a medidas em favor do crescimento e da estabilidade, em face do atual governo, confirmando o pressuposto de que estaríamos diante de um governo em disputa, merecedor de um apoio crítico por parte das organizações trabalhistas. Por outro lado, 8% e 12% dos delegados, respectivamente, recomendaram por parte da CUT, o apoio pleno e irrestrito ao Governo e a oposição classista e revolucionária, em vista dos direcionamentos adotados pelo Governo em defesa dos interesses do capital.. |
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CONCLUSÕES:
A pesquisa confirma o movimento geral de desvio do movimento sindical cutista do campo da combatividade, em direção a uma política de ação crescentemente compactuada com o Estado e com o capital, nomeada como propositiva ou de negociação, hoje, mais do que nunca, exercida através da aplicação dos diferentes pontos da agenda governamental. Essa constatação geral deve ser, contudo, acompanhada pelo registro dos focos de resistência minoritariamente identificados. Convém ressaltar, por fim, a permanência da flagrante confusão de referenciais, já atestada em investigações anteriores, que se evidencia no obscurecimento das profundas distinções entre as proposições calcadas na revolução socialista e aquelas ancoradas na noção da conquista da cidadania, fruto e expressão, ao mesmo tempo, da mistura eclética de paradigmas que parece imperar no campo da formação cutista, como da própria prática conformista adotada. Nesse sentido, vale insistir-se na necessidade de uma política de ação e formação sindical perspectivada numa clara opção teórico-política de combate à ordem vigente, mormente diante do drástico agravamento das condições de vida imposto pelo capital em crise, algo que as direções da CUT, presentemente, não parecem, de modo algum, dispor-se a realizar. |
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Instituição de fomento: IC UECE , FUNCAP | ||
Trabalho de Iniciação Científica | ||
Palavras-chave: CUT; Organização de classe; Governo Lula. | ||
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005 |