|
||
G. Ciências Humanas - 6. Ciência Política - 2. Estado e Governo | ||
ELITE POLÍTICA, CLASSES SOCIAIS E ESTADO NO PIAUÍ DA REPÚBLICA VELHA | ||
Francisco Williams de Assis Soares Gonçalves 1, 2 (williamsgon@yahoo.com.br) | ||
(1. Depto. de Fund. da Ed./Ciênc. da Ed./UFPI; 2. Inst. de Filos. e Ciênc. Humanas/ UNICAMP) | ||
INTRODUÇÃO:
O presente trabalho é resultado de pesquisa sobre o processo político no Piauí da República Velha. Neste sentido, o objetivo precípuo foi explicitar a dinâmica desse processo a partir de dois imperativos da política: os atores inseridos em disputas pelo poder e os projetos postos em pauta na cena política. A relevância desta pesquisa consiste em refutar as explicações acerca do poder que se assentam em arranjos familiares e adotar a perspectiva poulantziana de classes sociais, evidenciando as frações componentes da classe dominante em luta no seio do Estado. Nesse universo, são quatro os atores políticos: Grandes Proprietários de Terras, Grandes Comerciantes, Elite Política no Estado e Burguês de Múltiplas Faces. A hipótese central é de que a elite- o bloco no poder- que dirige o Estado representa duas frações da classe dominante: os Grandes Proprietários de Terras e os Grandes Comerciantes. A impossibilidade de uma dessas frações puras de classe tornar-se hegemônica, isto é, concretizar seus projetos mais substantivos, faz emergir o Burguês de Múltiplas Faces, agente econômico-político simbiótico que sai hegemônico desse processo. |
||
METODOLOGIA:
Por caracterizar-se como pesquisa qualitativa de caráter documental e em razão de tomar a história como fundamento importante, comum aos trabalhos marxistas, buscou-se em bibliografia especializada bem como junto ao Arquivo Público do Piauí- Casa Anísio Brito- o levantamento de um acervo de informações que permitissem o entendimento da República Velha no Piauí, assim como da formação social e política dos agentes econômico- políticos de relevo naquele contexto. Para tal fim, consultou-se: a coleção de leis e decretos do Estado de 1888 a 1930; as mensagens governamentais dirigidas ao Parlamento estadual no mesmo período; as Atas e discursos do Legislativo estadual e, ainda, alguns discursos de parlamentares federais, que representaram o Piauí na República Velha. Outrossim, tomamos como fonte essencial os jornais que trouxeram a público as contendas e os arranjos políticos, revelando a posição política em que se localizava cada órgão de publicação. Ademais, visitas de pesquisa foram feitas às Associações comerciais do Piauí, de Parnaíba e de Floriano. |
||
RESULTADOS:
Após a contextualização do Piauí na República Velha e identificados os atores e os projetos políticos, reconheceu-se o seguinte cenário político: Os Grandes Proprietários de Terras representavam as forças conservadoras e se confundiam com a própria formação do Estado do Piauí. Por isto, eram avessos à mudança e possuíam uma visão patrimonialista do Estado. Como elemento dissidente, os Grandes Comerciantes que apresentavam discurso progressista, advogando alguns elementos do conteúdo republicano, embora sua origem, em boa parte latifundiária denunciasse a sua incapacidade de ruptura. No entanto, a luta pelo poder fica bastante explicitado nas contendas, sobretudo em períodos eleitorais, em que comerciantes e latifundiários constituem seus aportes políticos. A elite política, que ocupa as posições mais importantes na estrutura do poder, representa essas duas frações que lutam por hegemonia. É neste âmbito que, numa simbiose de interesses latifundiários associados a interesses comerciais, surge o Burguês de Múltiplas Faces, que é grande comerciante, mas é grande proprietário de terras; investe em bancos, construção de estradas de ferro, reivindica definição mais precisa das fronteiras geográficas e alfandegárias do Estado e aponta o Porto de Amarração como importante ao desenvolvimento do Piauí. Não subverte a ordem, possui certa plasticidade que o faz combinar senso de permanência com mudança ordenadora. |
||
CONCLUSÕES:
No início da República Velha piauiense, os Grandes Proprietários de Terras constituem a força hegemônica. No entanto, os Grandes Comerciantes passam a questionar essa hegemonia, imicuindo-se na arena política, isto é, na disputa pelo poder. Estes últimos conseguem certa expressão, sobretudo na duas últimas décadas da República Velha. Por outro lado, as questões mais substantivas, que afetariam a proeminência dos interesses latifundiários, não se tornam pauta da agenda política. É neste aspecto, que se observa certa rigidez das estruturas econômicas, políticas e sociais. Ademais, a elite política do Estado expressa os interesses dessas duas frações da classe dominante durante a República Velha. Por isto mesmo, as alterações que ocorrem nesse contexto são pouco significativas, ou seja, toda mudança acontece dentro da velha ordem. Os atores políticos são mais fiéis à conservação da ordem do que a quaisquer possibilidades de desenvolvimento. Neste universo tem lugar o Burguês de Múltiplas Faces que representa certo consenso político e assegura a permanência do bloco no poder :a mesma elite política, que apenas alterna algumas posições em toda a República Velha. |
||
Instituição de fomento: Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal do Ensino Superior- CAPES | ||
Palavras-chave: Estado; Classes sociais; elite política. | ||
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005 |