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E. Ciências Agrárias - 1. Agronomia - 5. Agronomia
CARACTERIZAÇÃO DOS SISTEMAS DE PRODUÇÃO DE FARINHA DE MANDIOCA DA RESERVA DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL AMANÃ (RDSA), AMAZONAS.
Janaina de Aguiar 1 (janaina@mamiraua.org.br), Kayo Julio Cesar Pereira 2, Raimundo Silva dos Reis 3, Bianca Ferreira Lima 4 e Amintas Lopes da Silva Junior 5
(1. Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamiraua - IDSM; 2. USP, Programa de Pós-Graduação Interunidades em Ecologia de Agroecossistemas; 3. Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamiraua - IDSM; 4. Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamiraua - IDSM; 5. Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamiraua - IDSM)
INTRODUÇÃO:
A Reserva de Desenvolvimento Sustentável Amanã, abriga ecossistemas de várzea e terra firme, constituindo juntamente com outras duas unidades, o Parque Nacional do Jaú e a RDS Mamirauá, o maior bloco de floresta tropical protegido do planeta. Na RDSA residem aproximadamente 2500 famílias agricultoras que têm na mandioca, o mais importante cultivo agrícola. A farinha amarela, muito apreciada por seu alto valor energético, juntamente com o peixe, constitui o principal componente da dieta local e também representa o elo de ligação das comunidades com o mercado, onde as relações comerciais podem variar de trocas, junto aos patrões e marreteiros, à venda para feirantes e atravessadores dos municípios próximos. A produção de farinha desempenha importante papel na economia regional, abastecendo grandes mercados como Belém, Manaus e Santarém. As comunidades de várzea em geral têm o sistema de produção mais voltado para o autoconsumo. Já na terra firme, o sistema é mais especializado e os agricultores têm maior interface com o mercado. Essas diferenças são provocadas por fatores ambientais, étnicos e pelo grau de inserção das comunidades com o mercado. Nesse contexto, se faz necessária a maior compreensão e discussão coletiva dessas peculiaridades, com o objetivo de desenvolver projetos comunitários de fomento à organização da produção e de assistência técnica. O presente trabalho tem por objetivo caracterizar os sistemas de produção de farinha de mandioca da RDSA.
METODOLOGIA:
O trabalho foi realizado em sete comunidades ribeirinhas da RDSA, Nova Olinda, São Paulo do Coraci, São João do Ipecaçu e Matusalém, localizadas na várzea e Calafate, Monte Sinai, e Boa Esperança, na terra firme. A distância compreendida entre as duas comunidades mais distantes é de aproximadamente 70 Km. Foram coletados dados agronômicos, sócio-econômicos e informações referentes aos aspectos culturais associados à produção. A metodologia utilizada baseou-se em visitas a campo, entrevista semi-estruturada, observação participante, história de vida e relato oral, além reuniões, baseadas nos princípios do diagnóstico rural participativo. Os dados coletados se referem ao itinerário técnico e ao escoamento da produção.
RESULTADOS:
Os roçados da RDSA mediram em média 1,0 ha, variando de 0,5 (várzea) a 2,0 ha (terra firme), de acordo com o número de integrantes em cada família agricultora. Foram encontradas 30 variedades de mandioca, sendo as mais cultivadas a maniva tapaiona, a sete anos e a tartaruga. A diversidade de variedades está relacionada com o grau de inserção das famílias no mercado, quanto mais alta essa inserção, menor é o número de variedades encontradas. As unidades produtivas contam basicamente com mão-de-obra familiar e eventualmente ocorre ajuda mútua, na forma de mutirões (regionalmente conhecidos por ajuri) ou troca de dias trabalhados. O beneficiamento da mandioca é feito na própria comunidade, em estruturas denominadas casas de farinha ou cozinhas de forno, onde são produzidas, principalmente, farinha amarela, farinha ova e farinha branca, e os subprodutos goma e tucupi. A quantidade total de farinha amarela comercializada, foi em média 4881,4 Kg/mês e está relacionada com a capacidade produtiva de cada família, tendo como quantidade mínima/família 125 Kg e máxima 5254 Kg comercializadas mensalmente. O preço médio por quilograma variou de R$0,50 a R$0,90.
CONCLUSÕES:
A agricultura familiar na RDSA exerce grande importância na reprodução social e para a conservação dos ecossistemas, pois garante a subsistência das famílias e provoca impactos ambientais muito reduzidos. Contudo existe uma grande diferença entre os sistemas produtivos das comunidades de várzea e de terra firme, sendo constatadas mesmo em uma área geograficamente restrita e em comunidades vizinhas. As famílias agricultoras residentes das comunidades de terra firme apresentam maior grau de especialização no cultivo e na produção de farinha amarela. Isso se dá devido ao aprimoramento de técnicas de cultivo apropriadas à região, ao uso mais eficiente da mão-de-obra e ao aprimoramento dos sistemas de controle de qualidade, relacionados à maior inserção no mercado. Entretanto a especialização na cadeia produtiva da farinha amarela não garante um preço desejável ao produto, devido à grande oferta do produto na região. Esse fato implica no anseio de certas famílias na valorização da produção e no firmamento de estruturas de comercialização mais justas, tendo como experiência um convênio firmado com a AGROAMAZON, uma empresa estatal, que visa facilitar o escoamento da produção e a obtenção de melhores preços. Os resultados obtidos ressaltam a importância de uma assessoria que respeite as diferenças existentes entre as comunidades, evitando a instalação de projetos homogeneizadores e assistencialistas.
Instituição de fomento: IDSM/OS-MCT e PETROBRÁS
Palavras-chave:  Agricultura familiar; Reserva Amanã; Produção de farinha.
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005