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E. Ciências Agrárias - 6. Zootecnia - 4. Produção Animal
CRIAÇÃO DE PEQUENOS ANIMAIS NAS RESERVAS DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL MAMIRAUÁ E AMANÃ
Amintas Lopes da Silva Junior 1 (amintas@mamiraua.org.br), Bianca Ferreira Lima 1, Kayo Julio Cesar Pereira 2, Raimundo Silva dos Reis 1 e Janaina de Aguiar 1
(1. Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá - IDSM; 2. USP, Programa de Pós-Graduação Interunidades em Ecologia de Agroecossistemas)
INTRODUÇÃO:
As Reservas de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá e Amanã (RDSM e RDSA), situadas no estado do Amazonas, formam juntamente com o Parque Nacional do Jaú, o maior bloco de florestas tropicais protegidas do planeta, ocupando uma área superior a cinco milhões e meio de hectares. A agricultura e a pesca são as principais atividades econômicas desenvolvidas pelos cerca de 7.000 habitantes, distribuídos em 90 comunidades localizadas em ecossistemas de várzea e terra firme. Nesse contexto, a criação de pequenos animais é uma prática de importância decisiva para as populações ribeirinhas, como fonte de alimentos protéicos e pelo seu potencial econômico. Com a diminuição periódico-sazonal dos estoques de pescado, essa atividade cumpre importantes papéis na geração de renda e enriquecimento da dieta das populações locais, além de contribuir para menores pressões sobre a caça e redução das áreas desmatadas para uso agrícola. Diante das dificuldades que se impõem aos produtores, com relação à sustentação dos seus sistemas produtivos, decorrentes principalmente da variação sazonal do nível das águas, o presente trabalho procura constatar a multifuncionalidade da criação de pequenos animais para as comunidades das reservas.
METODOLOGIA:
Participaram da pesquisa 132 famílias, de 7 comunidades de várzea e 3 de terra firme. Os dados foram coletados por meio de questionários estruturados aplicados durante visitas domiciliares, observação participante e visitas às unidades de produção.
RESULTADOS:
Os sistemas de criação de animais observados nas duas reservas são rústicos e destinam-se basicamente ao consumo familiar, com alguma comercialização eventual de excedentes. Os animais domésticos mais criados são galinhas e porcos. Poucas famílias por comunidade desenvolvem atividades de criação. Na grande maioria dos casos, os animais são criados soltos, não recebem tratos específicos e buscam considerável parte da dieta por conta própria. Alguns alimentos disponíveis em maior quantidade são oferecidos aos animais em algum momento do dia, sem maiores critérios. A crueira, subproduto do beneficiamento da mandioca para produção de farinha, é o item mais constante na ração dos animais, seguido pelo jerimum e pelo milho. A demanda de mão-de-obra aumenta na época da cheia, devido à necessidade de deslocamento dos animais e atenção redobrada na alimentação. O trânsito dos animais pelos quintais e sítios mais próximos das casas proporciona o suprimento de parte de suas necessidades nutricionais. Fruteiras de cultivo amplamente disseminado como açaí, mamão, goiabeira, abacateiro, jenipapo e fruta-pão, entre outras, contribuem de forma decisiva com a nutrição das criações. Além disso, deve-se ressaltar a disponibilidade de inúmeras outras fontes alimentícias, como a castanha-de-macaco (Couroupita guianensis), encontrada em florestas de várzea, e o mureru (Eichornia crassipes), planta aquática comum na região, ambas coletadas e ofertadas aos animais.
CONCLUSÕES:
Devido a particularidades regionais, as práticas agrícolas comumente em uso na área das reservas independem, em grande parte, da injeção de insumos externos. Este fator representa uma excelente oportunidade para o desenvolvimento participativo de modelos produtivos conservadores de energia, porque além de facilitar a promoção da autonomia dos(as) agricultores(as), por meio da valorização do seu saber, promove a estruturação das “novas” práticas agrícolas em alicerces sólidos (conhecimento acadêmico aliado ao conhecimento popular). Os sistemas de criação são manejados de forma integrada com roçados, sítios e outros agroecossistemas, e contribuem com a reposição de nutrientes no solo, através da deposição das fezes. Do mesmo modo, o provimento de parte importante da alimentação animal é assegurado por excedentes da produção agrícola, como macaxeira, milho e jerimum, por subprodutos de beneficiamento, como a crueira, e por produtos coletados, como o mureru e a castanha-de-macaco, o que confere baixo custo à atividade e assegura, conseqüentemente, maior retorno. No entanto, diante da possibilidade de ampliação da atividade, o incremento tecnológico destes sistemas, no tocante à alimentação, instalações e melhoramento genético dos plantéis, ainda se faz necessário.
Instituição de fomento: IDSM/OS-MCT e Petrobras
Palavras-chave:  Criação de animais; Amazônia; Agroecossistemas.
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005