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G. Ciências Humanas - 8. Psicologia - 1. Gerontologia
MORTE E VELHICE: A CONCEPÇÃO DE IDOSOS SOBRE A MORTE E O MORRER COMO MEMBROS DA COMISSÃO SOLIDÁRIA DO SERVIÇO SOCIAL DO COMÉRCIO-FORTALEZA.
Narah Cristina Maia Teixeira 1 (narah.cristina@bol.com.br), Geisa Viana Cavalcante 1 e Erasmo Miessa Ruiz 1, 2
(1. Depto. de Serviço Social, Universidade Estadual do Ceará - UECE.; 2. Doutor em Educação Brasileira pela Universidade Federal do Ceará - UFC)
INTRODUÇÃO:
A sociedade brasileira vem passando por profundas transformações na sua constituição demográfica. A longevidade apresenta-se como tema central dentro desse contexto, sendo uma das grandes conquistas da sociedade contemporânea. O censo de 2000 aponta que o total de brasileiros com idade superior a 60 anos representa, nesse período, 8,56% da população e prevê que esse número em 2020 corresponderá a 18,02% do total da população brasileira . Fica evidente a necessidade de estudos que possibilitem a compreensão das questões relacionadas ao idoso. Sônia de Amorim Mascaro afirma que vivemos na “sociedade dos jovens”, onde o mundo celebra os valores, o comportamento, a aparência e a moda dos jovens, sendo a velhice identificada como o lado sombrio da vida. Essa perspectiva está relacionada a negação da finitude humana. Dessa forma, a morte é afastada da vida cotidiana e se torna um dos grandes tabus da sociedade ocidental. Segundo Philippe Ariès, no século XX a morte torna-se incompreensível, sendo essa interditada em todas as produções humanas: desaparece da literatura, é omitida pela ciência e é excluída do cotidiano do homem. Nesse sentido, velhice e morte, constantemente associados, são negadas pela sociedade, ficando o idoso condenado ao isolamento e a formas de preconceito. A presente pesquisa tem como objetivo principal compreender a concepção que os idosos têm sobre a morte e o morrer a partir da sua experiência como membros da comissão solidária do SESC Fortaleza.
METODOLOGIA:
Como recorte geográfico para a presente pesquisa foi escolhida a Comissão Solidária, grupo que integra as atividades desenvolvidas pelo Trabalho Social com Idosos do SESC Fortaleza. A comissão foi escolhida pelo fato dos idosos que participam desta estarem em constante contato com questões relacionadas à morte, ao realizarem visitas a idosos doentes, acompanhar funerais e missas de sétimo dia. As considerações teóricas metodológicas a serem abordadas durante a pesquisa apresentam como marco o referencial da Teoria das Representações Sociais na perspectiva de Denise Jodelet, visto que esta possibilita a compreensão de valores, concepções e atitudes diante de um determinado objeto social que se expressam na linguagem dos sujeitos sociais. Foi realizado inicialmente um levantamento bibliográfico acerca do tema possibilitando assim o início das leituras para embasar a construção do instrumental bem como a coleta de dados. Como instrumental foi construído um protocolo de entrevista semi-estruturada, que foi aplicado a um recorte de cinco entrevistados. Esse recorte é considerado representativo devido ao fato da comissão estudada possuir um total de 25 participantes dos quais apenas 10 exercem atividades constantes dentro da mesma. Atentamos, assim, para a descrição das significações de práticas construídas pelos idosos em sua relação com a morte, com vistas à categorização dos conteúdos emergidos e suscitados na entrevista tendo como referencial a análise de conteúdo tal qual proposta por Laurence Bardin.
RESULTADOS:
Os dados da pesquisa apontam para a influência da religiosidade na concepção que o idoso tem da morte. Podemos perceber uma contraposição a esse pensamento quando o idoso relata acreditar que a morte é o fim do homem, desvinculando sua explicação de um conteúdo religioso. Essa contraposição é fruto de uma sociedade que vem em um processo de laicização, buscando dar respostas racionais para a realidade. Outro aspecto identifica a morte como sendo algo estranho e triste. A concepção que se tem da morte e do morrer mudou ao longo da história. Na Idade Média, a morte era próxima, familiar, e fazia parte dos debates e do cotidiano. O medo da morte foi observado ao ser mencionado a incerteza do destino pós-morte e o medo do morrer relacionado ao sofrimento, tanto de quem está morrendo quanto quem vivencia a perda. Outra atitude é o silêncio diante daquele que representa a morte: o idoso doente e os familiares enlutados. Os ritos religiosos ainda se constituem como uma atitude diante de pessoas enlutadas e de culto aos mortos. Esse fato fica evidente quando o idoso comenta que o grupo se utiliza de mensagens espirituais e religiosas para oferecer conforto aos familiares e amigos em processo de luto. Outro aspecto observado foi uma direta relação entre o envelhecimento e a aproximação com a morte, sendo esta uma preocupação constante da individualidade de cada idoso. Foi observado que lidar com a morte de outras pessoas fez com que alguns idosos superarassem medos, lutos e frustrações.
CONCLUSÕES:
A presente pesquisa tem fundamental importância para a compreensão teórica das categorias Velhice e Morte, bem como, para instigar novas análises e abordagens sobre a temática. já que há uma escassez de produções teóricas que relacione as duas categorias aqui abordadas. Com a pesquisa pode-se perceber as concepções e atitudes dos idosos, participantes da Comissão Solidária, sobre a morte e o morrer. Podendo-se concluir que vivemos em uma sociedade que cultua a juventude e isola a morte e o envelhecimento da vida cotidiana considerando-os fracassos científicos. Nesse sentido as questões relacionadas a finitude humana são interditadas e silenciadas pelas diversas categorias sociais, sendo os velhos relegados ao isolamento devido principalmente a sua identificação com a morte. Os resultados da pesquisa respondem as perguntas iniciais colocadas, sendo que estas não tem a pretensão de fechar o ciclo do conhecimento. Ao propormos a pesquisa havia intrínseco em seu objetivo suscitar novas abordagens e pesquisas sobre a temática já que o tema é instigante e escasso. Novos questionamentos podem ser feitos a partir dessa pesquisa, tais como: o que leva uma pessoa a trabalhar com a morte depois de uma experiência significante de luto, qual a relação que existe entre gênero e morte, já que a maioria dos participantes da comissão são mulheres.Tais resultados já estão sendo socializados através do Grupo de Estudos Tanatológicos e já estão disponibilizados aos pesquisadores que se interessam pela temática.
Palavras-chave:  Morte; Velhice; Representação Social.
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005