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G. Ciências Humanas - 7. Educação - 7. Educação Infantil
AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM ESCRITA E USO DE COMPUTADORES NA EDUCAÇÃO INFANTIL
Betânia Tenório Soares da Rocha 1 (btsrocha@bol.com.br) e Ana Karina Morais de Lira 1
(1. Depto. de Pós-Graduação em Educação, Universidade Federal do Ceará-UFC)
INTRODUÇÃO:
No percurso escolar que antecede a alfabetização, algumas crianças têm contato com a linguagem escrita através do uso de um teclado de computador. Estas experiências podem representar aprendizagens diferentes daquelas vivenciadas com o código escrito através de instrumentos como papel e lápis ou mesmo a máquina de escrever. De fato, o uso de novas tecnologias implica em formas particulares de trabalho com a escrita, tanto em relação às maneiras de executar a escrita quanto ao espaço para essa execução. Embora essas observações já não representem novidade para educadores, psicólogos e outros profissionais, seus efeitos na aprendizagem da linguagem escrita ainda são pouco analisados. É possível que estas formas de contato com o código escrito levem a elaboração de novas estratégias cognitivas relacionadas à compreensão e à aprendizagem da linguagem escrita. Essa é uma das hipóteses a serem verificadas pelo presente trabalho, que objetiva verificar como a escrita silábica-alfabética, conforme descrita por Ferreiro e Teberosky (1999), é observada quando a criança usa o computador. O trabalho discute se - e como - o computador pode mediar o processo de aquisição da linguagem escrita no nível silábico-alfabético. A pesquisa é relevante por contribuir para o esclarecimento do papel que o computador pode exercer no processo de aquisição da linguagem escrita, o que pode fundamentar a prática de profissionais envolvidos com a educação infantil na atualidade.
METODOLOGIA:
Este estudo foi realizado com oito crianças, com idades entre 5 e 6 anos, que freqüentavam a alfabetização numa escola da rede particular de ensino de Fortaleza-CE. A seleção dessas crianças foi guiada pelos critérios de vivência do nível silábico-alfabético da escrita e freqüência à mesma sala de alfabetização. A prova das quatro palavras e uma frase (Dias, 2001) foi usada para a seleção das crianças (pré-teste) e pós-testes de escrita, antes e depois de uma intervenção educacional. Nessa intervenção, as crianças, organizadas em duplas, foram distribuídas em dois grupos: o grupo experimental (GE), que desenvolvia atividades de escrita através do software Oficina de Histórias, e o grupo controle (GC), que desenvolvia atividades de escrita com papel e lápis, usando materiais reproduzidos também em papel, a partir daqueles encontrados no software Oficina de Histórias. A coleta de dados deste estudo, que teve duração de quatro meses, envolveu dez encontros com cada dupla de crianças, com duração de 45 minutos cada. Os encontros foram todos gravados em fita cassete, cuja transcrição deu origem a protocolos de dados, objeto da análise qualitativa em conjunto com as produções escritas das duplas de sujeitos
RESULTADOS:
As análises do pré e pós-testes indicaram que as crianças dos dois grupos evoluíram em suas escritas durante o processo de intervenção. O grupo que usou o computador para escrever concluiu cinco histórias cada dupla (dez no total), enquanto o grupo que usou materiais similares em papel para escrever, finalizou cada dupla quatro e sete histórias, totalizando onze histórias. A comparação das produções escritas entre os dois grupos (GE e GC), revelou que estas escritas se apresentam de formas similares, nos dois ambientes: computador e papel e lápis. Indicando que tanto o software Oficina de histórias, quanto o conjunto de materiais similares construídos em papel, representam ambientes/materiais estimulantes para a construção de histórias. Os recursos multimídia do editor de texto, parecem imprimir ao software características lúdicas que podem interferir no processo de construção da narrativa tanto positivamente, mobilizando situações de elaboração mental que promovem a construção da narrativa do texto, quanto negativamente, desviando a atenção das crianças mais para brincadeiras do que para produção de texto. Desta forma, os resultados deste estudo não confirmam que a riqueza de recursos do software, podem ser mais estimuladores para a escrita, do que o material similar construído com papel e lápis. E que, a visualização das letras no teclado e o seu manuseio não interferiram na estrutura das escritas silábicas-alfabéticas produzidas pelas crianças da nossa amostra.
CONCLUSÕES:
De acordo com os resultados e objetivos pontuados nesta pesquisa, crianças silábicas-alfabéticas ao utilizarem o computador como recurso para escrita, revelaram suas hipóteses e concepções sobre a mesma, na tela do editor de texto. No decorrer da intervenção os grupos, experimental e controle, se equipararam quanto à qualidade de suas produções escritas, independente das características dos instrumentos usados para realizar este tipo de tarefa. Estes dados indicam, que os estímulos externos da escrita, só podem provocar mudanças na aprendizagem quando a criança estiver cognitivamente preparada para recebê-los. Neste sentido, concluímos que o conhecimento da função de escrita, com a possibilidade do teclado, pode garantir rapidez e uso do espaçador para a escrita de crianças silábicas-alfabéticas que já possuem conhecimentos sobre o mesmo.
Instituição de fomento: CAPES
Palavras-chave:  Aprendizagem; Software; Linguagem escrita.
Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005